– Muito prazer, Íris. Meu nome é Jane. Como vai? Quer se sentar? Perdão pela bagunça – ela fala rápido e com a mesma velocidade balança rápido a minha mão. Jane parece enérgica demais para alguém com a gravidez claramente muito avançada.
Usa um avental coberto de poeira que também se espalha em manchas por seu rosto e em suas mãos tinta branca. Se fosse adivinhar, diria que estava limpando e pintando algum cômodo. Nesse estado, não deveria estar descansando?
– Não se preocupe – sua energia me diverte e ela percebe, rindo comigo com simpatia – Então a vaga...– simpática ou não, preciso ser objetiva para saber o que fazer da vida. Saber se essa vaga era boa demais ou se é a resposta aos meus desejos.
– Vamos por aqui, cuidado por onde pisa. – ela me alerta pois alguns livros estão empilhados também no chão. A princípio a loja parece quase abandonada, mas respiro fundo tentando controlar meu nervosismo diante de tanto caos. Como anda bem devagar, consigo observar mais atenta o caminho.
Jane vira de costas e, me guiando, passamos por três fileiras de corredores formados por estantes altas de ferro. Eu vou precisar de uma escada para organizar isso. Quando chegamos ao último corredor de estantes, que estão vazias, nós atravessamos e depois dela afastar uma leve cortina onde deveria ter uma porta, dando entrada para um outro corredor. Passando por mais alguns cômodos que me chamam a atenção pelo forte cheiro de química de tinta, finalmente chegamos a uma sala final, que é um escritório e até agora o único local que eu vi organizado.
Ao invés de se sentar na cadeira da mesa de escritório, ela se direciona para uma poltrona e apoia os pés na otomana em frente.
– Perdão pela informalidade, mas eu precisava pôr meus pés para cima– explica e me indica uma cadeira para que eu me sente de frente para ela
– Não se preocupe – digo tranquilizando-a. Ao contrário do que ela pensa, vê-la sentada me traz até um certo alívio porque não acho que ela deveria estar mexendo com químicas com cheiro tão forte.
Sou rapidamente entrevistada com perguntas feitas de forma direta e prática e que claramente não são dela, mas deixo esse detalhe para lá.
Ela me questiona sobre o porquê do meu interesse na vaga e a razão de eu me julgar apta e parece estar satisfeita com as minhas respostas.
Jane começa a detalhar como seria o serviço e, enquanto analisa meu currículo, esclarece que além dela, seu irmão também trabalhava ali.
Meu trabalho seria feito na parte da tarde e era bem simples. Estaria encarregada de organizar os livros e ficar no caixa lidando com o pagamento.
Por ser uma livraria familiar e o local ser pequeno, a vaga era perfeita para as minhas necessidades atuais. É mais fixo que a monitoria, o preço era um pouco elevado, mas não muito por ser apenas meio período.
Uma sensação de puro alívio me atinge instantaneamente quando Jane estende a mão para mim, desejando boas-vindas com alegria. Estou contratada e já começo na próxima semana.
Não consigo controlar o sentimento de consolo ao conseguir um emprego tão perto do meu verdadeiro amor: a literatura.
Sei que parece exagero, mas a leitura foi o que mais me trouxe alívio durante meus momentos mais difíceis e me levou até a universidade. Os livros foram capazes de me transportar para lugares que me mantinham muito longe da minha tristeza.
Não consigo controlar a alegria besta estampada na minha cara ao arrastar a porta pesada de madeira e sair do Recanto dos Livros, meu novo local de trabalho.
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Reconhecendo o Amor
RomanceEla chamou a atenção dele desde o início! Não eram só as curvas, a pele que parecia suave ao toque ou os cachos perfeitos que emolduravam seu rosto, mas era uma luz própria que atraia a todos mesmo que não percebesse. Observar não foi suficiente. El...