Capítulo 7

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 O silêncio no carro está pesado. Eu sigo esfregando os meus braços com a intenção de que minha pele pare de ficar arrepiada com lembranças de momentos atrás. "Você é perfeita, Íris" ainda ressoa na minha mente. As mãos na minha cintura, seu corpo tão colado ao meu, seu cheiro que parece agora estar grudado na minha cabeça. Só o pensamento me faz esquentar. Mas como tudo que é bom dura pouco, nada como eu mesma para me sabotar. Eu queria muito que Ethan me beijasse, mas foi no exato momento em que ele ia encaixar seus lábios nos meus que a realidade bateu em cheio na minha mente como um tapa na cara. Ethan é lindo e o cara mais conhecido da faculdade. Ethan é o cara que nunca está desacompanhado em qualquer festa que vá. Ethan é o cara que fica com as garotas que são consideradas perfeitas. Eu estava nos braços desse cara, completamente amolecida quando essas questões começaram a passar pela minha mente como um flash.

Eu já vi esse filme antes e sei que no final eu fico sozinha, humilhada e sem dignidade. E aquele que brinca comigo e com os meus sentimentos sai de guerreiro por ter ficado com alguém fora do padrão.

– Íris – meus pensamentos estavam me atormentando tanto que Ethan parecia estar me chamando a algum tempo e percebo que estamos parados a duas ruas da fraternidade Kappa. – Estamos chegando, mas eu quero falar com você antes. – Ele diz e passa as duas mãos no rosto parecendo frustrado. – Olha...eu não sei o que aconteceu. Me desculpa, tá? Por favor?! Eu não queria te deixar desconfortável.– Seu arrependimento parece genuíno e não escuto nenhum tom de deboche em sua voz.

Sem esforço nenhum, Ethan acaba arrancando um sorrisinho meu e quando me vê, respira aliviado. Apesar do mecanismo auto sabotador que minha mente acionou, a última coisa que eu senti foi desconforto. Muito pelo contrário. Ethan me deixa tão confortável que me faz esquecer de tudo ao meu redor e só enxergar ele. E essa sensação é um alerta para eu manter certa distância. Se somos amigos como ele mesmo disse a alguns dias atrás, deixar que ele me beijasse como eu tanto queria só iria arruinar isso.

– Ethan, você não me deixou desconfortável em momento nenhum. Não aconteceu nada que eu não quisesse que acontecesse e quando eu pedi para você parar, você parou. – suspiro cansada de mim mesma. – Só acho que se somos amigos como você disse, não deveríamos fazer aquilo. Mesmo que eu quisesse. –

Minha última frase parece deixá-lo surpreso e sua feição se suaviza quando seus lábios se abrem em um pequeno riso.

– Então você queria que eu te beijasse? – a mesma sensação de 20 minutos atrás ameaça a voltar. – O que você faria se eu dissesse que quero te beijar? –

Vejo sua respiração se acelerar e ele morder a ponta dos lábios fazendo com que minha atenção fique totalmente presa nesse movimento simples. Engulo em seco e resolvo amenizar as coisas.

– Ethan...isso não vai acontecer. – falo com bem menos firmeza do que eu gostaria e ele percebe ao erguer uma sobrancelha duvidando da minha fala. – Quero dizer, acho melhor que não aconteça.

Quando acho que ele vai forçar a barra, fico surpresa quando ele ri conformado mas ainda me olhando como se duvidasse e volta a ligar o carro.

– Então tudo bem. Não vou insistir mais. Se você quiser, vai ter que me pedir, ok? – ele diz convencido e eu rio alto.

– Isso nunca vai acontecer. – minha fala sai com a firmeza que deveria ter saído antes.

– Veremos, Cupcake. Veremos. – ele usa novamente o apelido idiota. – Agora vamos para a festa antes que fique tarde.

Passo os minutos finais da viagem me convencendo que toda essa vontade não passa de carência e me lembro da intenção de beijar alguém na festa. Qualquer um, menos Ethan Miller!

Reconhecendo o AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora