Beijo Certo Suposição Errada

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Eu odeio quarta-feira

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Eu odeio quarta-feira.

Não, às quartas não usamos rosa, fazemos terapia.

Eu tenho um dotes inimagináveis para cair em encrencas, mesmo que sejam inconsequentemente. Compreendo que muitas vezes as pessoas pensam que sou fugitiva da ala psiquiátrica de algum hospício, mas poxa, não é nada tão alarmante que me obrigue participar da sessão terapeuta de fracassados do ano com Dona Chuu. Então é por esse motivo que as quartas são tão tenebrosas.

— Eu, preciso confessar algo. — Kai, um menino quieto do terceiro ano murmurou envergonhado.

Sentávamos em círculo na sala mais decaída possível da escola, são poucas pessoas, mas dava para causar constrangimento quando era obrigado a discursar seu azar para todos. Chaeyoung também estava ao meu lado, não é uma fracassada total, porém se encaixa nos parâmetros preocupantes mentais. Tzuyu só participava porque, bom, ela queria uma chance com Park Jihyo, a criadora desse clube ridículo. Kai é um nerd convencional, espalhafatoso até, tem lá suas qualidades mas no momento eu não as vejo. Ele é defeituoso. Lily tem um senso crítico muito apurado. Militante na certa. Dizer algo para ela sempre acaba em um extenso debate digno de Twitter. Sem contar suas poses de lacração extrema que chegaram a virar chacota entre os populares. Hirai Momo também está aqui, e eu genuinamente queria questionar-te o motivo de sua presença. Ela é nerd e tem um mega silicone. Inteligente e gostosa, essa categoria não encaixa com o clube.

Dona Chuu comanda todos nós. E chega ser cômico pois ela entre todos é a que menos tem saúde mental.

— É pecado usar roupa íntima da minha namorada escondido? — Kai é evangélico. Pelo menos pensei que fosse antes de dizer isso.

— Você deve descolonizar sua corpa e desbinarizar sua gênere. — Lily. Como sempre a Lily.

Será que essa garota não consegue falar uma língua de gente? Seus olhos esbugalhados sugavam a alma de Kai, e senti na pele seu medo daquela fala sem tradução. Ele se encolheu quando ela posicionou suas garras de diva no ar, esperando a reposta para então começar debater o tema gênero neutro e o fim da roupas categorizadas.

— Não. Bom e você Momo, tem algo a dizer? — Chuu sorriu nervosa ao mudar de assunto. Nem a tutora aguenta Lily.

Momo engoliu seco quando todos olhavam em sua direção. Ela arrumou a armação dos óculos  quase iguais aos meus, e ficou gaguejando enquanto pensava em algo.

— Bom... eu.. meus peitos sentem quando vem chuva. Aí eu como para passar.

Apesar da sala se manter em um silêncio ensurdecedor eu tive minhas dúvidas, e precisei perguntar; — Vai chover hoje?

Momo olhou para mim, e levou sua mão direita ao seio esquerdo, apalpando a região com vontade. Estranhamente todos estavam vidrados naquela cena, com os olhos cravados nos movimentos circulares de Hirai. Menos Kai, que os tampou com uma expressão pavorosa de enjoo. Tu é gay?

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