MAIS TARDE, ainda naquela madrugada, ela teve novamente um daqueles sonhos molhados com Brown, porém nesse sonho eles eram interrompidos por invasores que o alvejavam e carregavam para longe. Começou a se debater e, de repente, se sentiu novamente bem e reconfortada. Um calor aconchegante tomou conta de todo seu ser e palavras carinhosas lhe diziam que tudo estava bem. Se aninhou naquela sensação quente e poderosa de pertencimento e voltou a dormir.
Despertou sentindo o corpo como se estivesse em chamas e uma massa densa de cabelos lhe cobria a visão. Permaneceu alguns minutos um tanto desnorteada até perceber que não estava mais em sua cama e sim no "ninho" de cobertores que Brown usava como cama.
Ele mantinha o corpo enroscado no dela, envolvendo-a como um casulo: os braços e as pernas envolvendo-a, o cabelo jogado sobre ela como uma densa cortina de fios negros que se emaranhavam com os seus cachos castanhos. Tentou se mexer dentro daquela crisálida que ele fizera com o próprio corpo e o ouviu resmungar. Seu sono era pesado e seu coração batia num ritmo tranquilo e compassado, bem perto do rosto dela. Então se deu conta de que a sensação de amparo que sentira em seu sonho não fora um sonho e sim Brown que a carregara, a acolhera naquele "abraço casulo" e a mantivera ali com ele, na cama dele.
Sentiu-se invadida por uma serie de sentimentos e emoções conflitantes, mas por fim, foi vencida por uma simples necessidade básica da natureza:
_Brown...Brown... me solte, sim?
_Não...- ele quase ronronou – Brown com sono...aqui bom...Doutora segura...
_Preciso ir no banheiro...
Ele nem se movimentou, depois ela o balançou e pediu até que ele a deixou escapar do seu abraço protetor. Valentina fez o que precisava ser feito e depois, percebendo que ainda tinha algum tempo, voltou para a própria cama e fechou os olhos; tentando dormir. Cinco minutos depois, sentia o peso dele junto a ela na cama.
_Brow, o que você está fazendo?
_Brown protege Doutora de sonho ruim – dizia sonolento puxando- a para perto dele. Agora ele estava praticamente deitado sobre ela, a cabeça enterrada na curva do seu pescoço, a perna enorme por cima das suas e o braço protetoramente apertando sua cintura.
_Brown... – ela ainda tentou protestar, mas ele apertou mais e interrompeu seu protesto.
_Shiuuuu! Quieta! Doutora, dormir. Brown forte. Brown protege do sonho ruim - e ela ficou ali presa nos braços dele sem saber o que dava mais medo: o sonho ou a realidade.
FORAM HORAS DEBATENDO LONGAMENTE a cerca da validade ou não de levar Brown junto com ela em sua pequena expedição na Pátria Nova Espécie. Claro que ela estava empolgada por ver como aqueles bravos homens e mulheres conseguiam se reerguer após tantos abusos e exploração e como, aos poucos, iam transformando aquele pedaço de terra em um lar. Sentia grande empatia pelos seres híbridos, por conta do que ela mesmo escutava entre os seus mais velhos. Sendo cigana num mundo dos gadgés, ela entendia um pouco, porém tinha plena consciência do quanto tinha sido poupada e protegida pelos irmãos e até mesmo pelas circunstâncias de sua própria geração. Por já ter nascido em um Território Independente, sua geração não havia enfrentado nem mesmo uma fração daquilo que seus antepassados haviam enfrentado enquanto vagavam ao redor do mundo e mesmo antes de se estabelecer; as gerações antigas já haviam enfrentado sua dose diária de olhares atravessados e palavras ofensivas. O mundo definitivamente não estava preparado para lidar com as diferenças e muitas vezes a ignorância prevalecia.
Nesse momento Valentina se sentia dividida: por um lado queria mostrar a Brown um pouco mais do mundo, ampliar seus horizontes. Seu principal anseio há um certo tempo era levá-lo para conhecer os Territórios, sua nação, sua gente; mas também era bom o bastante fazer com que ele conhecesse a Pátria de seu próprio povo. Mesmo empolgada em fazer com que ele desse esse passo adiante, também se preocupava com a superexposição que ele sofreria; tanto ao novo ambiente, quanto a novos indivíduos. Sendo bastante sincera consigo mesma, ela estava preocupada com a reação dele em relação a outros machos, pois, de certa forma, no Instituto, todos já o conheciam, híbridos ou não, os machos respeitavam aquela delimitação territorial que ele havia imposto em torno dela. Valentina temia que lá, qualquer mínimo contato pudesse gerar nele uma reação mais exaltada.
_Novamente, Brown. Vamos repassar nossos combinados e quero que você entenda o quanto importante é que você permaneça calmo e controlado lá fora. – ela repetia aquelas palavras buscando fazer com que ele entendesse toda a situação – Brown. Você estará fora da segurança do Instituto pela primeira vez desde que foi resgatado. Isso é muito importante e também é muito importante o lugar para onde estamos indo, nosso propósito e o seu comportamento enquanto estivermos lá. Você não deve ameaçar nenhum dos outros machos da comunidade nem tentar agredir ninguém, a não ser que você perceba que eu corro perigo.
_Doutora não corre perigo. Brow protege. – estavam em seu escritório após mais uma sessão e ela aproveitava o momento em que ele se encontrava relaxado, sentado no sofá, para reforçar as informações. Como sempre, o móvel parecia de brinquedo, perto da enorme estatura de seu paciente.
_Sim. Mas caso algum outro macho se aproxime, você vai se controlar e ser educado e sociável como é aqui no Instituto. Combinado? Tenho medo que provoque algum incidente e eles o considerem inadequado para permanecer conosco, Brown. Eles podem querer manter você lá na contenção se o acharem perigoso e descontrolado. - ela se aproximou e o tocou de leve no ombro. Ele apanha mão dela com cuidado e começa a realizar círculos na palma de sua mão como havia aprendido ser um gesto para trazer calma e trocar calor humano.
_Brown livre. Brown não vai ficar lá. – ele argumenta calmamente segurando a mão dela entre as suas – Doutora ensinou que Brown pode ir para onde quiser e Brown fica onde a Doutora ficar. - ele a olhava com uma expectativa tão grande, quase como uma criança esperando por algum dia especial. Valentina se sentia completamente contagiada por aquela empolgação dele. _Brown feliz que vai junto.
E finalmente seguiram, ela, Brown e seu irmão Lorenzo, que era o contato direto deles com a Pátria NE. No carro atrás seguia uma equipe de segurança enquanto Estefano monitorava tudo via drone e estava de prontidão para o caso de surgir algum ataque. Felizmente a viagem transcorreu bem dentro do furgão do Instituto. Passaram pelos procedimentos de segurança de praxe e Brown se comportou relativamente bem. Uma fêmea uniformizada se aproximou para revistar Valentina
_Britney, essa é a Doutora Valentina Wolf, diretora do setor de Terapia e Reintegração e minha irmã. – Lorenzo apresentou as duas mulheres e ele seguiu bem de perto todo o processo, arrancando olhares e observações dos machos em volta.
_Fique tranquilo, meu chapa – disse a fêmea da guarda – Todos já sentiram seu cheiro nela. Sabem que a fêmea pertence a você. Não somos como os humanos lá de fora. Aqui respeitamos as fêmeas, humanas ou não. Principalmente as acasaladas. Vamos cuidar bem dela. – foi a afirmação da outra, que pareceu deixar o híbrido bastante satisfeito, colocou um risinho besta do rosto do irmão e deixou Valentina extremamente ruborizada.
⭐⭐Já sabem...não esqueçam⭐⭐
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MARROM (NOVAS ESPÉCIES)
FanfictionBrown só conhecia a dor e o tormento do cativeiro até a doutora aparecer na sua frente e ensinar a ele tudo sobre a vida. Muito diferente dos malditos médicos maus que o haviam criado, que o machucavam, feriam e chamavam de macaco, monstro, de anim...