HUMAN CODE |BROWN CAPÍTULO X

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_Estamos mesmo discutindo a real possibilidade de nossa irmã ter um envolvimento com um sujeito que foi criado em laboratório e que é mais animal do que gente? – Lorenzo atacava novamente com as palavras.

_Estamos mesmo demonstrando preconceito entre espécies sendo que descendemos de um povo que se autoproclama como "Lobisomens"? – Salvatore devolvia. O que os antigos Wolf eram além de híbridos, irmão? Ou será que você não ouviu as mesmas histórias que eu? Onde está seu "animal espiritual"?

_Meu "animal espiritual" que chutar o seu traseiro.

_Pensei que já tínhamos esse entendimento de que os NE eram meio como a gente... – arriscava Estefano.

_Estou falando de um sujeito com DNA animal.

_Você já deu uma olhada bem dada no Jordan? Acho ele tão assustador e feroz quanto qualquer NE.

_Você disse tudo "pivete". – Salvatore voltava a carga - Jordan é nosso "alfa", certo? Hipoteticamente, isso é uma coisa de "animal". Aliás, não só nosso. A maioria dos internos reconhece ele como "líder". – comentou, mas foi impedido de prosseguir pelo quase rosado do irmão mais velho – Viu, isso? Muito "humano" esse comportamento.

Guerreiros Romani eram conhecidos entre o povo cigano como os "Guerreiros Filhos da Lua". Diziam que eram guiados e caminhavam por entre os lobos. Muitos diziam que as lendas sobre lobisomens falavam, na verdade, a respeito dos antigos ancestrais da família ao longo das eras. Jordan, assim como muitos de seus tios e primos com seus longos cabelos e barbas fartas, com seu ar selvagem e feroz de ser; só reforçavam essas lendas.

_Eu não estou entendendo seu ponto de vista, irmão. – Jordan, mesmo enfurecido com o desenrolar das coisas, não via uma possível relação da irmã com o NE como algo negativo – Você mesmo comentou comigo há tempos atrás que ele viver atrás dela era uma vantagem.

_Sim, mas dai para esse lance de "acasalamento", "filhotes"...

_Bem, se vocês quiserem falar sobre qualquer outro ponto nessa reunião, estou às ordens. Assuntos de trabalho, sobre ações de resgates ou acompanhamento de pacientes, ótimo! Mas se vocês insistem em ficar discutindo minha vida pessoal, uma suposta vida amorosa e inclusive uma possível gravidez como se estivéssemos discutindo sobre uma reforma em um dos departamentos do Instituto; vou me retirar. Foi um dia longo. Ainda estou acampada aqui dentro por causa do meu maldito ex-noivo e ainda tenho que passar por isso. Francamente! Vocês são piores que uma TPM!



DE VOLTA AO ALOJAMENTO

_Trouxe umas coisas do refeitório. – informou depositando as sacolas na bancada e notando que ele permanecia sentado em seu "ninho" do lado de fora, na varanda. - Valentina entrou no seu apartamento estranhando que ele não viesse logo a seu encontro. Quando não o viu do lado de fora do escritório de Jordan quando saiu da reunião, acreditou que Lorenzo o havia proibido por conta de ele ser o assunto principal da reunião. Bem, ele e ela... – O que houve, Brown? Algum problema?

_Brown deu problemas para a Doutora, não foi? Por querer que a Doutora seja fêmea dele, por querer ter filhotes...

_Brown...Já havíamos conversado que primeiro trabalharíamos na sua inclusão social. Em suas habilidades e depois sobre isso. – ela ralhou brandamente com ele ainda constrangida – Sou uma fêmea com cinco irmãos. Eles ficaram muito preocupados com essas suas conversas de "fêmea e filhotes". Porque não me escutou?

_A Doutora está zangada com Brown? - seu coração se apertava quando o via assim tão angustiado. 

_Estou um pouco zangada. Porque te expliquei e você não me ouviu. Tive que ter uma conversa muito longa e muito complicada com meus irmãos. Aqui fora essa coisa de "fêmea e filhotes" é diferente, Brown. Existe um jeito certo de fazer, de dizer as coisas...

_Como Ernesto e Salvatore falaram. Tenho que dar de comer para a Doutora, agradar e conversar. "Dicutir" a Relação. - ele pronunciou errado.

_"Discutir a Relação"? – ela corrigiu e ele repetiu certo.

_"Discutir a Relação" - bom Deus, ia matar seus irmãos.

_ Lorenzo ficou zangado quando Brown falou depois do treino. Brown não queria quebrar o boneco, Brown ficou com muita raiva.

_Do que você está falando? De que boneco? Porque você ficou com muita raiva?

_Brown não quer falar. A Doutora vai zangar.

Valentina respirou fundo, pensando em como fora parar numa situação inusitada como aquela.

_Vamos, Brown. Conte tudo o que aconteceu para mim. Sou sua "doutora", não sou?

_Sim. "minha Doutora" – ele respondeu satisfeito –  Brown quebrou o boneco porque pensou que a Doutora não quer ele. Pensou que a Doutora vai querer outro macho para dar filhotes a ela. Brown ficou com raiva, muita raiva. Brown não quer brigar. Brown quer carinho.

_Brown. Nesse momento eu não estou pensando em ter filhotes com ninguém. Ok? Esse assunto de "filhotes" está suspenso. - foi categórica - Também não poderei mais ficar fazendo carinho em você. Vamos ter que reduzir  por um tempo esses toques físicos...creio que essa proximidade extrema está confundindo você...

_Brown está de castigo? – perguntou mortificado e ela se sentiu a pior das criaturas por estar tentando impor algum limite entre eles. Se o proibisse de tocar nela como ele sempre fazia: abraçando-a, mexendo em seu cabelo ou cheirando-a; até mesmo aquele gesto de circular com o dedo indicador na palma da mão dele, para acalmá-lo, estaria praticamente rompendo todo o contato físico com outro ser humano que ele teria fora os golpes nos treinamentos. Até outros internos tinham receio de se aproximar dele por conta de sua estatura e porte físico. Ela mesma tinha de admitir que sentira falta do calor dele, da proximidade. Mas tentava se convencer que o fazia pelo bem dele.

_Não se trata disso. É só uma nova medida que estou tomando para acalmar meus irmãos. Eles estão me atormentando com besteiras e isso vai ajudar a mantê-los quietos e me deixarem em paz.

_Doutora não faz carinho para acalmar irmãos?

_No momento, quero bater neles.

_A doutora não pode bater em irmãos! Eles são grandes, machos fortes. Vão machucar a Doutora. – diz preocupado.

_Não mesmo! Se eles ousarem, minha mãe é capaz de arrancar o couro deles!

_Sua mãe é uma fêmea feroz? – Brown pergunta preocupado – O chefe é um macho grande e forte. A luta é muito grande para arrancar couro do chefe...

_Ela é sim, muito feroz. - Valentina parou diante do comentário inocente dele e caiu numa gargalhada desenfreada imaginando sua mãe, uma mulher pequena como ela, correndo atrás do seu irmão gigante, feroz e barbado, com uma faca para arrancar-lhe o couro.

Sem entender nada, ele a fitava com seus olhos incomuns bastante confuso, mas depois sorriu com ela.

_Doutora mais calma agora?

_Acho que sim, Brown. - disse recuperando o fogo, depois da verdadeira catarse – Venha, vamos comer alguma coisa. Estou morrendo de fome!

MARROM (NOVAS ESPÉCIES)Onde histórias criam vida. Descubra agora