HUMAN CODE |BROWN - CAPITULO VII

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Saiu do quarto de banho tomado e roupa trocada. Assim que a porta se abriu, ele veio em sua direção vindo do seu "alojamento" na varanda. Parecia ansioso, ela o orientou que se sentasse que ela serviria, ele negou dizendo que ele é que devia fazer. Depois que serviu ficou observando por longos minutos enquanto ela saboreava o macarrão feito por ele. Os braços musculosos cruzados sobre a mesa, os olhos grudados nela, lendo toda e qualquer reação que pudesse ter.

Para sua sorte a comida estava boa. Deixou isso bem claro para ele e o incitou a comer também.

_Depois da Doutora. Machos devem esperar as fêmeas comer primeiro.

_Onde aprendeu isso? Foram meus irmãos que te disseram isso?

_No outro lugar. – respondeu ficando levemente contrariado. Ele detestava relembrar suas passagens pelos laboratórios, em particular o último era o que lhe trazia as piores lembranças. – O que tinha outros irmãos. - afirma – Lá tinha machos e fêmeas eles ficavam juntos na caixa com grades. Os machos sempre deixavam as fêmeas comer primeiro quando vinha a comida. Brown nunca teve uma fêmea... – ele pareceu triste com aquela constatação – Mas agora Brown tem a Doutora. – ele afirmou e Valentina praticamente engasgou diante do que aquelas palavras significavam.

_Brown...- ela engoliu em seco – Nós não estamos "dividindo uma cela" você sabe disso, não sabe?

_Brown sabe. Aqui não é uma caixa de grades. Não é um lugar ruim. Aqui lugar bom. Aqui melhor.

_Isso mesmo! Então não precisa fazer coisas que você faria se estivesse lá. Você pode fazer o que quiser e nós estamos aqui para te ajudar. Você não precisa se preocupar em me deixar comer primeiro, aqui haverá comida suficiente para mim e para você.

_Brown sabe. Brown livre. Por isso Brown pediu ajuda a irmãos. – ele tentava explicar seu ponto de vista – Doutora pequena e Brown grande. Doutora fêmea. Brown macho. Brown cuida da Doutora.

_Brown...

_Brown quer ficar com a Doutora, quer ser um bom macho para a Doutora. Brown aprende coisas. Vai aprender tudo que ensinarem a Brown. Brown quer ser um bom macho. Um macho forte e bom para a Doutora. Brown quer dar filhotes para a Doutora.

Desta vez não foi possível evitar de engasgar. Valentina praticamente cuspiu o gole de vinho que havia tomando quando o NE literalmente verbalizou o que ela imaginava que seria todo aquele movimento de jantar, sobremesa e vinho. Com certeza tudo arranjado pelos irmãos que ela pessoalmente iria esfolar pedaço por pedaço por meterem ideias equivocadas na cabeça de Brown. Agora sua mente tentava a todo custo perseguir uma solução para aquele grande problema. Tão grande quanto o enorme macho Nova Espécie sentado à sua frente.

_Brown, precisamos esclarecer algumas coisas: essa sua ideia de ser um bom macho e tudo mais é muito boa, mas muito precipitada. Você ainda precisa se adaptar a vida aqui fora do cativeiro para depois pensar em coisas como – ela tentou escolher bem as palavras – coisas como uma fêmea e filhotes... – limpou a garganta tentando aparentar o máximo de serenidade – Claro que é uma seleção natural da vida, mas você precisa cumprir algumas etapas...

_Brown é um macho grande e forte. Doutora também já pode ter filhotes, Brown sabe e Salvatore disse que sim. – Valentina quis assassinar o irmão naquele momento – Brown viu, Doutora feliz com filhote do chefe. Brown dar filhote para Doutora ficar feliz! Brown sabe que Doutora não vai machucar Brown como no outro lugar que colocavam máquinas no fazedor de filhotes de Brown e doía muito.

Santo Deus! Era a primeira vez que ele fazia qualquer menção a experimentos reprodutivos e ela de repente ficou chocada e sentida com o que ouvia.

_Eles usavam máquinas em você?

_Sim. – admitia triste – Amarravam Brown, davam injeção que deixavam Brown duro e puxavam aqui – ele falou e tocou a parte da frente de suas calças folgadas de moletom. – Alguns médicos maus também queriam fazer coisas com Brown, mas Brown viu eles fazendo com outros irmãos e não deixou. Ele matou médicos ruins – dizia com de lágrimas e raiva nos olhos – Brown não quer lembrar – falou – Brown quer dizer a Doutora para se alimentar, ficar forte e poder carregar filhotes. Brown não vai fazer coisas com Doutora. Doutora muito pequena, Brown machuca Doutora assim. – Valentina se surpreendeu como seu corpo reagiu diante do simples comentário dele insinuando uma relação intima entre eles - Brown deixa colocar ele na máquina, mesmo se doer, Brown sabe que a Doutora não é ruim.

Valentina piscou algumas vezes processando as informações ali contidas e o peso delas.  A sua maneira crua e direta, Brown estava se oferecendo para ela, tentando dar a ela algo que ele achava que ela queria e que era importante para ela. Ficou profundamente emocionada com aquele gesto e pelas recordações compartilhadas, por mais dolorosas que fossem. Naquele momento, ele estava se desnudando emocionalmente para ela e lhe oferecendo o que lhe achava que era a única coisa que tinha: a si mesmo e sua semente, aquilo era extremamente importante. Valentina procurava fazer uma leitura profissional daquela atitude dele, porém não estava preparada para se sentir tão impactada por aquele gesto

_Brown... – tentou a todo custo encontrar algo que pudesse sintetizar o que sentia naquele momento sem sucesso – Eu não tenho palavras para descrever o quanto estou lisonjeada com essa oferta. Eu não tenho palavras... – fala emocionada – Quero que saiba que me senti muito importante por você decidir que sou uma boa fêmea para carregar seus filhotes, de verdade, sinto como se você estivesse me dando um prêmio.

- Doutora está chorando! – ele se desesperou.

_Está tudo bem, Brown. É um choro de emoção. Não de dor. Estou bem.

_Chorar não é bom...

_Ás vezes é, Brown... Às vezes é...

_Doutora feliz? Vai aceitar meus filhotes? – perguntava esperançoso.

_Brown – ela tentou conter as lágrimas – Algum dia alguma fêmea de sorte vai carregar muitos filhotes para você, mas não agora e não eu.

_Doutora não quer? – ele estava decepcionado.

_Brown, não é apenas questão de querer ou não. – tentou explicar – Não seria certo. Sou sua médica. Médicos não podem fazer filhotes com seus pacientes.

_Mas os médicos do outro lugar faziam.

_Porque eram médicos ruins. – ela usou a linguagem dele – Se eu fizer o mesmo me tornarei como eles.

_Não! – Brown bateu na mesa contrariado e por pouco não virou mesa com jantar e tudo – Doutora não é igual a eles! Não!

_Brown se acalme! É isso que estou tentando explicar! Se eu fizer isso, estarei me aproveitando de você, te usando como uma cobaia como eles faziam, não é certo.

_Mas Brown quer fazer. Não é igual. – de certa forma ele tinha razão. Ele a estava escolhendo, mas continuava sendo condenável e de repente, Valentina se deu conta de que a única consideração que fazia ali era quanto a questões morais. Se eles não fossem médico e paciente, consideraria? – respirou fundo e afastou aquele questionamento inquietante.

_Vamos esquecer por enquanto essa história sim?- dizia tanto para ele quanto para ela mesma -  Você ainda precisa aprender muitas coisas para se preparar para formar uma família.

_Quando Brown aprender tudo, Doutora vai ter filhotes com Brown?

_Quando você estiver pronto, poderá escolher a fêmea que achar melhor e se estabelecer.

_Brown não quer escolher. Brown já tem a Doutora.

_Brown, sou sua médica, não sua fêmea.

_Doutora é médica e fêmea. – constatou ele impassível – A fêmea de Brown. 

MARROM (NOVAS ESPÉCIES)Onde histórias criam vida. Descubra agora