Capítulo 9.

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~06:00am🕝

Todos nós recebemos um email do treinador, mandando estarmos no campus antes das 06 horas dá manhã, mas quando chego aqui, tenho certeza que fui criado com regras absolutas, porque só tem eu.
O treinador está mexendo em seu celular, olha para o relógio à cada dois segundos, daqui pro final do dia ele vai explodir de tanta raiva.
Alguns minutos depois John e Fred chegam, junto com Bryce e os demais, olham para mim, quero dizer em voz alta:"fui o único esperto o suficiente ontem, por isso, não estou de ressaca" mas eles já vão ouvir muito gritos do treinador até lá.
Agora todos no ônibus, escuto uma voz feminina.
 
-Não tenho culpa se meu carro estar vomitado, e adivinha por que? porque você me pediu para ir buscar esses idiotas.
É a Hera.
Não estava lembrando disso, o Fred olha para mim.
Faço um sinal com as mãos de "culpa sua, se vira"
Ele vai até a entrada do ônibus.

-Fui eu, desculpa Hera, de verdade, eu fiquei muito enjoado, você estava rápido demais.
Ele se justifica.

-Estava rápido demais? O que falamos sobre andar no limite?
O treinador diz.

-Sério isso, agora você virou o jogo para mim? Não desculpo você até que meu carro esteja limpo.
Ela diz.
Um pouco mais calma.

-Tudo bem, quando chegarmos faço isso, é uma promessa.
Fred diz.
Ela entra no ônibus, não olha para nenhum de nós, está tão irritada. Mas não lembro de ontem ela estar tão chateada assim, nem quando ela me falou na ligação, que o Fred tinha vomitado em seu carro.
Ela mexe em seu celular, coloca seus fones de ouvido, deita a cabeça e fecha os olhos. Ok, ela não quer ser perturbada.
Vou fazer o mesmo, quem sabe eu não consigo relaxar até lá.
Só de pensar que estou indo de novo, para a cidade que morava, me embrulha o estômago.

~07:30am 🕒

Exatamente no horário como o treinador disse que chegaríamos, no momento estamos todos descendo do ônibus. Alguns reclamam, outros estão conversando em seus celulares.
E eu só quero que esse dia acabe logo, para eu voltar para casa. Tantas cidades para ter meu primeiro jogo, mas lógico, tinha que ser nessa aqui, na que eu passei anos tentando fugir.
O treinador me chama no canto, afastado um pouco do restante.

-Pode ir em casa, mas esteja aqui em 1 hora, certo?
Ele diz.
Não quero ir em casa, mas tenho que enfrentar meus demônios, no caso, só é um mesmo, e acredito que ele é o pior de todos.

Vou andando mesmo, conheço essas ruas como a palma da minha mão, sei ir para casa do meu pai até de olhos fechados. Por um momento queria esquecer esse caminho, penso até em ficar numa lanchonete qualquer, esperar 1 hora e depois voltar pro campo. Mas não sou covarde.
Quase em frente a oficina, eu paro, travo na verdade, não estou pronto para isso, minha vida estar muito bem, ele vai arruinar tudo, vai me desconcentrar, vai me deixar mal, para baixo, vou perder todo o foco, não posso ir lá  de jeito nenhum.
Viro de costas, é isso, vou embora antes que alguém me veja.

-Joseph, é você?
Escuto a voz de um dos trabalhadores da oficina.
Merda.
Me viro novamente.

-Sim, sou eu, como vai senhor Alfred?
Eu digo indo em direção a ele.

-Estou bem, e você? Dois meses sem vim em casa rapaz, deve estar muito ocupado, venha entre.
Não por favor, não, não, não quero entrar aí.

-Me conte tudo, e o que está fazendo aqui, é quinta-feira, você não tem aula?

-Na verdade, eu...
Paro de falar quando vejo ele.
Saindo do escritório, com aquele macacão sujo de graxa, o mesmo que faz 10 anos que usa, porque não gasta dinheiro com coisas desnecessárias.

-Lembrou que tem casa.
Ele diz.
Com autoridade que ele acha que ainda tem comigo.

-Vamos ter um jogo importante agora à tarde, só estou passando para dá um oi.
Eu digo.
Com a paciência infinita que tenho.

-Certo, Oi para você também.
-Se não veio aqui para ficar em casa, e trabalhar nessa oficina, pode ir embora.
Respiro fundo. Eu sabia. Sabia que não deveria ter pisado aqui.
Aonde eu tava com a cabeça? Idiota.
Me sinto fraco, tonto, é isso que ele causa em mim, desgaste físico e mental.
Começo a me afastar quando ele fala novamente.

-Sábado é o aniversário do seu avô. Você não é bem vindo, mas é uma tradição, não pode faltar.
Resmungou.

-Não faço mais questão de ir.
Digo.
Acabou o tempo em que ouvia tudo calado.

-Isso não foi um pedido Colin. Já que é uma vergonha completa para essa família, espero que já tenha alguém. Imagina ir a um aniversário importante e, sozinho.
Ele rir.
Nojento. Sinto vontade de vomitar.

-Me diz você então? Não me lembro de ter algum ser humano com coragem de dividir o mesmo cômodo com você.

-Agora você ficou corajoso, hm? Que palhaçada. Isso foi um conselho. Todos seus primos já tem alguém, noivas, esposas e filhos, mas você? Continua sendo esse idiota com uma idéia absurda de ser um jogador de futebol, pelo amor de Deus Colin.
Esteja lá no sábado, se tiver algum compromisso, desmarque.
Ele diz.
Me encara alguns segundos. E vai novamente para o escritório da oficina.
Solto a respiração, não percebi que tinha parado de respirar enquanto ele falava.

-Qual horário é o jogo?
Alfred pergunta.

-Ás 16 horas.

-Estarei lá.
Fico surpreso.

-Mas a oficina não tem horário para fechar, como você vai poder ir? Se ele souber vai acabar te demitindo.
Digo.
Muito preocupado.

-Eu não me importo, Joseph.
-Irei ver seu jogo sim. É o primeiro, estou certo?
Ele pergunta um pouco animado.

-Sim, é o primeiro.
Ele olha para mim.
-Então estarei lá.

Agora indo em direção a lanchonete que eu deveria ter ido para primeiro de conversa, olho o horário no relógio, falta 15 minutos.
Tempo suficiente para colocar a cabeça no lugar, não posso entrar em campo assim. Estou lento, e me sinto doente.
Sento em uma mesa. A respiração falhando, a visão ficando embaçada. Merda.

-Posso ajudar?
Uma garçonete pergunta.

-Por enquanto uma água.
Por favor.
Não posso ter uma crise de ansiedade agora. Não faltando alguns minutos para o treino começar, ainda temos o almoço, e um tempinho de concentração em grupo.
Vamos lá, você consegue, já passou por isso antes.
A água chega. Bebo aos poucos, consigo controlar a respiração. É isso, eu sempre consigo.
Pago pela água e vou embora. Me sentindo menos pior agora.

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