Prologue

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A cicatriz não incomodou Harry nos últimos dezenove anos. Tudo estava bem.

- Querido? Está na hora de acordar.

Harry se virou na direção da esposa confuso, haviam acabado de se despedir de seus filhos e logo teriam que voltar para o trabalho. Como poderia estar dormindo?

- Você tem que acordar Hazz, aqui não é o seu lugar.

O moreno tentou perguntar a Gina sobre o que ela estava falando, porém para sua surpresa mesmo que abrisse a boca nenhum som saía. Sua cabeça começou a doer e sua visão começava a embaçar, ele sentia como se tudo estivesse girando e tentou alcançar a esposa para obter apoio.

Para seu desespero sua mão passou direto pelo corpo da mais baixa e seu corpo foi em direção ao chão ao mesmo tempo que tudo ficava escuro.

Harry acordou assustado, um grito silencioso preso em sua garganta enquanto batidas fortes e rudes ecoavam na pequena porta do maldito armário de vassouras em que se encontrava. Sua respiração estava descompassada e seus olhos ardiam com lágrimas não derramadas, ele ainda conseguia sentir a tristeza e vazio que sua versão mais velha do sonho tão realista sentia.

Algo parecia faltar no estranho sonho que presenciou em seu sonho e sua felicidade não parecia tão genuína quanto aparentava. Ele lembrava das traições, discussões e momentos difíceis que passou no sonho e como pareciam acontecer muito mais frequente do que os momentos bons. O moreno se perguntou o que poderia significar aquele sonho e se seria alguma espécie de aviso.

As batidas insistentes e cada vez mais violentas tiraram seu foco do estranho sonho, possibilitando que sua mente finalmente associasse a voz irritada que chamava constantemente seu nome em meio a insultos (dos quais Harry já havia se acostumado).

- Ande logo aberração!

Estremecendo com a voz grossa e gritada do seu tio, o pequeno Potter se levantou rapidamente. Pegando os primeiros trapos da sua pilha de roupas usadas, o moreno tropeçou rapidamente para fora do cômodo apertado, correndo para cozinha e subindo na pequena escada que o dava altura para cozinhar.

Os ingredientes de todas as refeições eram separados por sua tia, Petúnia, ou pelo (grande) marido da mesma, Vernon. Harry era encarregado de preparar todas as refeições, porém os adultos da casa queriam ter a certeza de que ele não estaria roubando mais comida do que uma aberração como ele merecia.

Sua vida nos Dursley's estava bem longe do que qualquer criança sonhava (ou do que qualquer defensor dos direitos infantis aprovaria), mas Harry sabia que não adiantava denunciar graças a fama de mentiroso que o mesmo possuía na vizinhança, cortesia de seus tios.

Foi assim que o moreno passou toda sua vida servindo como um empregado na casa, aguentando punições severas caso errasse ou quebrasse algo e sendo perseguido por seu primo. Hoje seria um dos piores dias, a pilha enorme de presentes entulhada em um canto da grande sala de jantar indicava o aniversário do maravilhoso Dudinha.

Se os presentes não fossem uma dica boa o bastante, a voz estridente e melosa de Petúnia elogiando o filho e lhe desejando parabéns faria o trabalho de avisar a Harry que sua tortura estava só começando. Dudley Dursley era a criança mais mimada da Inglaterra e possuía uma péssima personalidade, o que significava que a mera visão do moreno no seu aniversário era o suficiente para que uma birra catastrófica iniciasse.

Enquanto ajeitava os pratos na mesa, Harry rezava a qualquer ser superior que a família irritante o deixasse em casa naquele dia, afinal era certeza de que iriam a algum lugar muito divertido para comemorar. O moreno já imaginava quantas birras aconteceriam e quantas pessoas pediriam educadamente que se retirassem do lugar, seja ele qual for.

Terminando de lavar a louça que havia usado no preparo do café, Potter desligou sua mente do surto que seu primo tinha começado quando terminou de contar (com bastante dificuldade) a enorme pilha de presentes e percebeu que havia recebido menos do que o ano anterior. Sua mente divagou de novo para o sonho, ainda intrigado em como poderia se lembrar tão detalhadamente do mesmo.

Suspirando baixinho, ele pensou nos acontecimentos que (talvez) ocorreriam naquele dia e mais uma vez pediu ao universo que lhe permitisse ficar em casa. Bom, a sorte e o universo pareciam estar ao seu favor.

- A Sra. Figgs não pode ficar com ele hoje!

Vernon e Dudley mantinham expressões de horror muito parecidas, lágrimas grossas e obviamente forçadas logo desciam pelas grandes bochechas do garoto.

- Não podemos levá-lo junto!

Harry decidiu não se pronunciar, com medo de acabar concretizando seu sonho e sendo obrigado a ir ao zoológico com os parentes.

- E vamos deixá-lo sozinho para destruir a casa?

Vernon pausou, parecendo ponderar seriamente a fala da esposa. Isso até se virar para o filho e encontrar a cena lamentavelmente triste que o mesmo protagonizava (Harry pensou seriamente se a atuação não lhe renderia um Oscar).

- Não podemos estragar o dia do Dudinha.- Petúnia soltou um som indefinível, indo consolar seu amado filho. - Vamos deixá-lo trancado e isso deve bastar!

O moreno não poderia dizer que estava exatamente feliz com a decisão, mas qualquer coisa seria melhor do que aturar os olhares mais severos que o normal de seus tios e os olhares de pena de outros adultos que viam o favoritismo puro que seu primo recebia. Querendo ter a certeza de que ficaria livre, Harry forçou uma expressão de tristeza, como se realmente estivesse empolgado para ir.

Foi o que faltava para que Vernon e Petúnia concluíssem que seria o melhor a se fazer, o empurrando bruscamente em direção ao armário de vassouras assim que terminou a limpeza do café. O garoto de 10 anos somente suspirou, sentindo que o tédio o dominaria pelo resto da tarde, até ouvir o barulho de algo de metal caindo bem em frente ao seu armário.

Bem ali, pequena o suficiente para passar pela brecha inferior da porta estava a chave do armário. Vernon, saindo com pressa, deixou cair e não percebeu. Harry sorriu largamente ao ver o pequeno metal brilhante e esperou até que ouvisse o carro se afastando para usar um cabide e puxar a chave em sua direção.

Ao mesmo tempo que saia do lugar, o correio chegou. Algo nele o puxou em direção ao correio antes que pensasse em aproveitar a pouca mordomia que tinha de estar sozinho em casa. As primeiras cartas eram contas e correspondências endereçadas aos adultos e que em nada interessavam o pré-adolescente.

Porém, assim que chegou ao fim da pilha, os olhos esmeralda se arregalaram. Ali estava uma carta, enviada em um papel estranho e fechada com cera. Um símbolo estranho com um enorme G dominava a cera vermelha e Harry se perguntava quem poderia querer entrar em contato com ele.

Largado as outras cartas no chão (não poderia deixar evidências de que saiu do armário), ele se dirigiu ao grande sofá da sala e sentou-se confortavelmente antes de abrir o envelope.

                                                                       Caro Sr. Potter,

 É com imenso prazer que a equipe de Goblins do banco bruxo Gringotts convida a vossa senhoria para uma visita assim que completar seus 11 anos.

Devido a morte precoce de seus pais, o mundo bruxo lhe considera apto a adquirir seus títulos de herdeiro e Lorde assim que completar a idade necessária para frequentar as escolas de magia.

Esperamos sua presença no dia 31 de julho para que possamos revisar sua herança e seus títulos.

                                                                 Atenciosamente,

                                                                        Griphook,

                                                 administrador dos cofres Potter.

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