Harry encarou desacreditado a carta a sua frente, sua mente estava confusa e ele pensava seriamente se estava a tanto tempo sem comer uma refeição decente que finalmente estava alucinando. Afinal o que eram goblins? Onde ficava Gringotts? E como assim títulos de lorde e herdeiro?
A mente do pequeno continuou em transe, tentando absorver e entender as informações que estavam escritas ali. E foi então que o sonho voltou aos seus pensamentos como um tapa, tudo fazia sentido!
O moreno finalmente conseguiu se acalmar, entendendo que aquilo provavelmente não era uma alucinação e que por algum motivo havia sonhado com o possível futuro. Sua expressão se tornou confusa novamente quando lembrou que não havia recebido uma carta assim no sonho e ele se perguntou se poderia ter sido um efeito da mudança que havia feito nos acontecimentos.
Suspirando, ele voltou rapidamente para o armário e revirou suas coisas até encontrar um caderno bom o suficiente para que pudesse escrever. A pequena liberdade foi totalmente esquecida e Harry passou boas horas concentrado em sua escrita, descrevendo os mínimos detalhes de tudo que havia sonhado.
O moreno não sabia até quando lembraria de tudo com riqueza de detalhes e nada seria melhor do que deixar algo registrado. Assim que terminou ele sentiu seus olhos novamente arderem com lágrimas não derramadas, relembrar tudo que passou e os sentimentos que se atrelaram a cada acontecimento havia o deixado emotivo.
Sua mentalidade de 10 anos não conseguia administrar toda a dor, alegria, tristeza e excitação que seu eu do sonho passou em décadas de vida. Harry começou a respirar profundamente, querendo evitar uma crise de choro e desespero desenfreada que ele sabia que estava prestes a explodir.
Dirigindo seu olhar para o grande relógio que seu tio mantinha na sala, ele percebeu que faltavam poucos minutos para que os Dursley voltassem. Correndo contra o tempo, Harry organizou qualquer coisa que estivesse fora do lugar e voltou para seu armário. A pequena chave fora usada para trancar a porta novamente e o cabide o ajudou a jogar o objeto a uma distância grande o suficiente para que não desconfiassem que Harry tentou sair.
Enquanto o moreno escondia o caderno e sua carta em meio as roupas surradas, o carro de Vernon estacionava na garagem. Passos pesados e risadas invadiram o local, fazendo Harry suspirar aliviado ao saber que a família estava de bom humor, isso tendia a diminuir a gravidade de seus castigos.
O moreno permaneceu quieto, pensando em como seguir agora que sabia que seu sonho não era somente uma fantasia da sua mente traumatizada. Ele sabia que não poderia alterar demais suas ações ou correria o risco de algo dar muito errado, mas não pode evitar desejar fazer tudo ao contrário.
Ele sabia que as pessoas do seu sonho tinham boas intenções, mas no fim todas contribuíram para que ele fosse um perfeito soldado criado para o abate. Todos incentivaram suas ações impulsivas que custaram a vida de pessoas inocentes e importantes para si. Seu corpo tremeu ao lembrar do loiro que tanto o irritou no sonho e a forma como a personalidade orgulhosa e confiante fora quebrada.
Suspirando o moreno se deitou, decidido a esperar até que sua carta de Hogwarts chegasse e o meio gigante viesse buscá-lo. Seu instinto lhe dizia que seria melhor que poucas pessoas soubessem sobre o que ele se lembrava.
—--------------------
Os dias se passaram lentamente, o tédio dominava o moreno que continuou sua rotina de castigos, listas de afazeres e sendo o saco de pancada favorito do primo. O pequeno Potter decidiu não alterar nada quanto a sua chegada ao mundo mágico, com exceção da sua visita a Gringotts.
A carta e o caderno estavam muito bem guardados nos enormes bolsos internos das enormes roupas que Harry usava, ele havia costurado eles com medo de perder ou seus parentes acharem. Os eventos continuaram normalmente como no sonho e logo o moreno se viu naquele casebre (nojento) que seu tio arranjou no desespero.
Os olhos esmeralda observavam os minutos se passando no relógio do primo, ansioso para que Hagrid chegasse e o levasse embora. Sua mente estava acelerada, pensando em quais segredos descobriria quando chegasse ao banco bruxo. Afinal, em seu sonho nunca fora chamado para assumir títulos, nem mesmo quando adulto.
Uma batida forte tirou Harry de seus pensamentos, um sorriso leve se abriu em seu rosto antes que novamente assumisse uma expressão neutra. Os Dursley haviam descido às pressas para proteger seu amado Duda e seu tio gritava enquanto sacudia uma espingarda em direção a porta.
A velha porta de madeira logo não suportou mais batidas e caiu, revelando um Hagrid molhado e irritado. A conversa seguiu como em seu sonho e logo o moreno se forçava a dormir, ansioso para a manhã seguinte em que finalmente estariam indo ao Beco Diagonal.
A dupla passou sua jornada conversando e Harry percebeu que o meio gigante era uma pessoa muito bondosa e querida, porém o claro fanatismo que o mesmo demonstrava com Dumbledore o deixava desconfortável. Seu eu do sonho também parecia compartilhar desse fanatismo, contudo observar tudo que supostamente aconteceria de fora o fez perceber como o velho diretor não merecia tal confiança cega.
Claro, Dumbledore era alguém que lutava pelo bem e acreditava em segundas chances, mas também era a mesma pessoa que não media sacrifícios para o tal bem maior. Harry não pode evitar se ressentir ao lembrar da injustiça que seu padrinho sofria ou de todos os que foram perdidos graças às ocultações do mais velho.
O caminho fora de certa forma rápido e o moreno acreditou ter feito um bom trabalho ao disfarçar seu descontentamento com os incontáveis elogios que Hagrid cantava para o diretor. Logo os dois chegaram ao Caldeirão Furado, se deparando com vários bruxos e bruxas que se reuniam para a chegada do horário do almoço.
Harry conseguiu convencer o seu acompanhante para que passassem o mais rapidamente possível pelo local, estremecendo ao se deparar com um homem franzino de turbante roxo. Ele se lembrou da suposta batalha final que teriam e a forma como o mesmo se transformou em cinzas, uma cena recorrente em seus pesadelos atuais.
Hagrid parecia convencido de que o moreno somente era tímido e não estava preparado para tamanha atenção que receberia. Os dois então seguiram para a entrada do Beco Diagonal sem se atentar a pessoas curiosas que tentavam puxar assunto. O meio gigante rapidamente explicou a Harry onde estavam entrando e como ativar a entrada, sorrindo quando o pequeno o olhou admirado.
O centro comercial bruxo estava tão agitado quanto Potter se lembrava em seu sonho, os vendedores gritavam e tentavam chamar a atenção dos bruxos para suas ofertas. Pessoas andavam para lá e para cá com robes esvoaçantes e Harry jurou ter visto as cabeleiras platinadas da família Malfoy não muito longe.
A dupla improvável continuou caminhando em direção ao centro da rua e logo um grande edifício chamou a atenção do moreno. Ali, bem na sua frente, estava o símbolo estranho com um grande G e logo abaixo podia-se ler Gringotts. Finalmente havia chegado ao lugar que lhe traria respostas.
Harry acelerou o passo sem perceber, fazendo com que Hagrid se apressasse para seguir seu ritmo. O moreno pode perceber assim que se aproximou a grande placa e o pequeno Goblin que o olhava com desprezo (assim como olhava para qualquer bruxo ou bruxa que se aproximasse).
Os olhos esmeralda analisaram todos os detalhes da entrada e logo se fixaram na grande placa.
Entrem, estranhos, mas prestem atenção
Ao que espera o pecado da ambição,
Porque os que tiram o que não ganharam
Terão é que pagar muito caro,
Assim, se procuram sob o nosso chão
Um tesouro que nunca enterraram,
Ladrão, você foi avisado, cuidado,
Pois vai encontrar mais do que procurou.
Sorrindo nervosamente, Harry ergueu os olhos para a grande porta à sua frente e lentamente se dirigiu para o interior do banco.

VOCÊ ESTÁ LENDO
Presságios
RandomE se tudo que aconteceu de repente se tornasse um sonho? Voldemort, seus anos em Hogwarts, Ginyy e seus filhos... Tudo se torna um sonho quando Harry Potter acorda novamente no armário embaixo da escada. Sua mente de 10 anos confusa com o que, até e...