10 | Heaven and hell

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Com certeza para Gabe era excitante a ideia de ter Hannibal por perto, tinha certeza que era algo carnal, mas em suas lembranças, estar com ele era como andar nas nuvens da sala do trono de Deus.

Era uma sensação imensa de segurança, era acolhedor, talvez ela estivesse descobrindo o que significava a palavra "Lar" na mais bonita de suas formas, mas também estava descobrindo o real significado da palavra "Dor" já que sabia que jamais iriam ter aquilo novamente.

Desde que saiu daquele escritório, foi como se uma parte de sua alma tivesse ficado para trás, mas por algum motivo sentia que Lecter se sentia da mesma forma, por mais que tentasse correr, a sensação de sentir o toque dele voltava com frequência a sua memória.

Faltavam alguns dias para o julgamento de Will Graham, e ela se encontrava entre a espada e a cruz, sabia que não poderia deixar um inocente morrer, já que aqueles crimes eram dignos de uma cadeira elétrica.

Porém Hannibal Lecter não parecia estar blefando quando falou de sua família, aquilo a assustava, mas se caso fosse condenada seria justamente.

•••

Fevereiro de 2010

Era um jantar comum entre a família, Tasha estava participando com frequência dos jantares, principalmente depois que descobriu o fim do noivado de sua irmã.

Tudo que ela fazia era jogar coisas na cara da mais nova, como se Gabe já não estivesse se sentindo culpada o suficiente.

Os primeiros dias sem ele, pareceram uma eternidade, um vazio sem fim, como se Gabe apenas flutuasse em uma escuridão, ela não sentia nada, a não ser aquele grande vazio, pensava muitas vezes que havia sido drástica demais, mas não havia como voltar atrás.

- Tasha vamos para com esse show de mediocridade?- Gabe levantou seu olhar para a mesma, a mais velha notou que aquele olhar não era de sua irmã, mas de algo que havia crescido ali.- Se você fosse tudo isso, não seguraria seu marido na base do sexo, ou você acha que ninguém sabe que se te cortarmos a cabeça viraria uma decoração tão boa quanto o Albert?- Gabe apontou a faca para a cabeça de alce que tinham em cima da lareira.- Eu mal pisei em Baltimore, e já sei o nome da amante dele, e ela está grávida, não está?- Gabe parecia estar se divertindo em ver sua irmã segurar o choro, suas bochechas estavam cada vez mais vermelhas, e suas mãos tremiam.

- Já chega!- A mãe delas gritou, o pai das meninas apenas observava aquilo quieto, sabia como aquelas brigas acabavam.

- Vou sair.- O mais velho apenas levantou-se e se dirigiu a porta, aquilo machucava mais do que qualquer coisa, saber que ninguém mais a defenderia.

Ao ouvir a porta da frente bater, Gabe levantou-se e foi até o balcão, sua mãe a encarou com raiva, como se alguma coisa do que ela tivesse dito fosse sua culpa.

- Gabe qual é o seu problema?- A mais velha indagou e então ambas se encararam.

- Eu não falei nenhuma mentira, se tivesse falado entenderia o tamanho do ódio.- Seu olhar vai diretamente para o faqueiro que estava ao seu lado, ela já havia pensado nisso algumas vezes, mas por instantes viu uma maneira de realizar.

- Estamos protegendo sua irmã, assim como queremos proteger você.- Kat diz enquanto virava as costas, durante a briga Tasha acabou indo para o andar de cima, e mais uma vez sua mãe escolheu ela.

- Não precisa me proteger mamãe, você tinha que ter protegido a Gabe de alguns anos atrás, mas ela está morta, assim como todos que eu matei, e assim como vocês estarão em breve.- Ao terminar de falar, a garota pegou o cutelo do faqueiro, e seguiu sua mãe até o pé da escada, o cutelo atingiu a nuca da mais velha, que conseguiu emitir um grito, mas logo caiu sem forças no chão, Gabe desferiu alguns golpes na garganta da mesma, quando notou que se continuasse iria degolar o cadáver apenas a soltou e então notou sua irmã horrorizada na frente da escada.

- Quer saber o real motivo do meu casamento ter acabado irmãzinha?- Gabe limpou seu rosto com as costas da mão, deixando um rastro notável de sangue por alí.- Eu matei ele.

Gabe aproximou-se com calma de sua irmã e assim como sua mãe, ela morreu com facadas no pescoço, mas a mais nova descontou todos os anos de humilhações naqueles golpes, mesmo com o corpo sem vida, ela ainda desferiu golpes sobre todo o corpo de sua irmã.

Com a resolução descompensada, ela subiu e ficou encarando a porta de entrada, seu coração apertava, seu pai era seu porto seguro, mas jamais compactuaria com aquilo, era definitivo, ele seria sua próxima vítima.

Sentando-se escorada na grade da escada, esperava quieta pelo barulho da porta, sua respiração ficou em um ritmo comum, ela olhava para os corpos sem vida e notava que agora oficialmente estaria sozinha, e sua única companhia poderia estar em Nova Iorque, ele sim aceitaria toda aquela situação.

Ao ouvir o som de passos, Gabe olhou de cima e teve a perfeita visão de seu pai, ele abraçava o corpo de sua mulher, sua blusa branca estava coberta pelo sangue do cadáver, mas ao olhar para sua filha, ele entendeu o que havia acontecido e definitivamente não poderia julga-la.

- M-me desculpa...- Ela estava tremendo e então abraçou o mais velho, seu pai apenas retribuiu o abraço.- Eu amo você.

Foi a última coisa dita por ela antes do golpe ser desferido na barriga do homem, ela sentiu o mesmo bambear as pernas e logo cair no chão.

•••

Ao passar das horas, Gabe pensava no que poderia fazer com os corpos, o telefone da casa tocou, a garota pulou e então foi atender, a voz do outro lado a acalmou.

- Gabe, o que está fazendo em Baltimore?- Ele indagou confuso.

- Gabriel?- Ela praticamente gritou ao ouvir a voz dele, sabia que seu irmão não tinha o conhecimento de que ela havia voltado para a casa dos pais.- Como sabia que eu iria atender?

- Eu não sabia, só senti algo extremamente errado e liguei...

- Tá tudo bem... Te ligo depois, okay?- Ela sequer esperou a resposta e bateu o telefone, era hora de esconder aqueles corpos.

•••

Dias atuais

- Gabe, estou começando a ficar preocupado com esses seus devaneios.- Gabriel disse enquanto colocava os pratos na mesa.

- Você nunca pensou em me entregar?- Ela indagou encarando a mesa.

- Gabe que papo é esse?- Ele indagou virando-se para pegar a panela de macarronada.- Você é minha irmã, e além de tudo faz umas comidas maneiras, como eu iria perder isso?- O mesmo disse colocando a penela na mesa, ao notar que sua irmã não esboçou sequer uma reação ele bateu na mesa para chamar a atenção dela.- O que aconteceu?

- O que você faria se pudesse salvar apenas uma pessoa?- A loira suspirou para continuar.- Quer dizer, entre uma pessoa inocente e uma pessoa querida, quem você salvaria?

- O que o Lecter fez dessa vez?- Gabriel indagou e olhando nos olhos de sua irmã, notou como estava em desespero.

[Continua...]

Dead memories in my heart | Hannibal Lecter Onde histórias criam vida. Descubra agora