Eu cresci aqui até tudo ficar em chamas
Exceto os entalhes no batente da porta
Eu não sei quando você ficou mais alto
Veja nosso reflexo na águaGarden Song- Phoebe Bridgers
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Gabriel.
Diria que a infância é a parte mais importante do desenvolvimento de alguém, é naquelas lembranças que vamos voltar quando as coisas saírem de controle. Lembranças como uma mãe fazendo cookies de chocolate para seu filho que está com medo da chuva, um pai ensinando o filho a jogar beisebol, fotos em família, jantares, brincadeiras... Bom, isso seria numa família que está dentro dos parâmetros do "comum", mas se tem uma coisa que os Edeline nunca foram é exatamente isso.
Não nego, que tive partes boas da minha infância, e todas essas lembranças são ao lado da minha irmã Gabe, que a cada dia vejo enlouquecer um pouco mais.
Eu nasci 90 segundos antes da Gabe e eu usava isso quando brigávamos, ou quando eu queria algum favor, a desculpa era sempre a mesma.
"- Eu sou o mais velho, você tem que fazer o que eu mando."
E ela sempre me deixava ganhar a discussão, não por falta de argumentos ou qualquer coisa do tipo, mas porque sabia o quão ridículo era.
Acho que não lembro o ponto em que deixamos de ser as duas crianças que se apoiavam independente de tudo, mas a última vez que a vi, antes de voltar para Baltimore, foi em Nova Iorque, na porta de uma clínica de reabilitação, ela olhou como sempre, com um olhar doce e falou.
- Você vai entrar lá, e vai trazer o meu irmão de volta!
Ela disse isso, me abraçou e por fim recebi um beijo na testa, foi o meu último contato direto com a minha irmã, a menina que eu cresci, e também o primeiro que tive com o doutor Lecter. Gabe, havia acabado de ficar noiva, e eu?
Havia acabado de tirar 45 mil dólares do bolso dos dois, pois havia fugido do meu último tratamento, a heroina é um poço o qual você não enxerga fundo, e isso me consumiu desde o ensino médio.
Eu posso ter nascido 90 segundos antes ela, mas Gabe sempre foi minha irmã mais velha, sendo o raio de sol e eu apenas o girassol que a seguia para aonde fosse.
Um dos momentos mais delicados da minha adolescência foi o momento em que Tasha descobriu ter um irmão LGBT, naquela época, havia um brilho naquela garota que eu nunca tinha visto em alguém, quem diria que o amor poderia fazer aquilo com a minha irmã?
- Você disse que algo te marcou quando descobriram sua sexualidade, o que exatamente seria?- Tal pergunta me surpreendeu, levantei-me do sofá, apoiei meus cotovelos em meus joelhos e pensei, nunca havia contado para ninguém esse ocorrido, apesar de ser algo bom, não é uma lembrança a qual eu volto o tempo todo.
Tasha me viu beijando um rapaz, isso foi pouco antes dela ir para Boston, uma das únicas vezes a qual Gabe enfrentou nossa irmã, e foi por mim...
Eu estava no canto do quarto, com os braços segurando ambas as minhas pernas, a gritaria das duas, me causava pânico, mais do que já estava, me sentia sujo, impuro, herege, uma vergonha para minha família.
Naquele dia foi a primeira vez que vi aquele olhar, se o diabo a olhasse naquele momento, correria, sem sombra de dúvidas.
- Tasha, me explica como e onde isso afeta sua vidinha medíocre?- Gabe estava com os braços cruzados, suas sobrancelhas estavam baixas e seus olhos cerrados, sua boca entreaberta e bochechas rosadas, aquela não era a minha irmã.
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Dead memories in my heart | Hannibal Lecter
FanficO quanto uma traição pode mudar alguém? Seria capaz um coração se quebrar, mesmo não tendo ossos? Não, aquilo doía mais que um osso quebrado, era uma dor invisível que só ele sentia, desde então sua vida tem apenas um propósito: Vingar-se de Gabe Ed...