Ponto de vista — Alex Turner.
— Pela enésima vez: não, eu não transei com ela. — respondi um tanto impaciente para Nicholas que parecia uma criança no supermercado ao encontrar um boneco do Hulk do seu tamanho. Desde que eu coloquei os pés aqui hoje, Nicholas virou uma maritaca que não para de me questionar, tal como um filósofo.
— Vocês ficaram mais do que cinco minutos lá em cima e quer que eu acredite em você? Você não sabe nem mentir, Alex. — ele retrucou, entrando na minha frente e me impedindo de subir o lance de escadas que nos levava até a sala de aula.
— E você acha que eu preciso mentir pra vocês? Não aconteceu nada, ela só queria ajuda. — respondi, desviando o caminho para continuar subindo as escadas.
De fato, Katrina Petersen estava pedindo minha ajuda. Nunca em um milhão de anos eu poderia imaginar que isso aconteceria. Talvez fosse mais provável o Palmeiras ganhar o Mundial do que isso acontecer. Ou então Plutão completar sua primeira volta em torno do sol. Mas cá estamos.
Admito que ser inteligente tem suas vantagens, foi no mínimo satisfatório ver ela implorar por ajuda em Cálculo II e Física Experimental III. E eu, que de idiota aparentemente só tenho a cara, não ia perder a oportunidade quando ela me disse que poderia me dar algo em troca. Ela é popular, até os cachorros que vivem aqui pelo campus sabem quem é ela e só faltam lamber o chão que ela pisa.
E tudo o que eu preciso é de um pingo de notoriedade para quem sabe Alexa me dar uma chance de ao menos levá-la para jantar. E finalmente vou poder esfregar na cara do Nicholas que eu sou capaz de fugir do castigo e vou poder mandá-lo enfiar aquela canela em pó naquele lugarzinho cativo e especial.
— Mas ela precisa de ajuda em o que, Al? — Ella perguntou curiosa. Felizmente, esse grupo tem uma pessoa que sabe fazer perguntas de cunho ético e essa pessoa é minha querida Ella Moller.
— Ela está com dificuldades em algumas matérias que estudamos juntos, só preciso dar algumas aulas para ela passar nesse semestre. — respondi, parando em frente ao meu armário para pegar algumas apostilas que eu iria usar na aula de Mecânica dos Solos. — Marcamos de começar hoje depois da aula na biblioteca.
— Ah, a biblioteca... perdi as contas de quantos BVs eu tirei entre aquelas estantes. — Jamie comentou se encostando no armário ao lado, a expressão de quem parecia estar em outro planeta conforme um sorriso minimamente cafajeste brotava em seus lábios.
— Sou muito grato pela informação revolucionária, biscoito. — digo de forma sarcástica enquanto deixo as apostilas abaixo do meu braço e volto a trancar o armário, me certificando de que o cadeado estava selado como de costume.
— Não se preocupe, Al. Um dia você será tão pegador quanto eu. — Jamie diz agarrando meus ombros e me dando um abraço amigável de lado. Fiz uma careta, não gosto muito da ideia de ser um pegador assim como Jamie. — As garotas vão fazer rinha para ficar com a gente e você não será mais "Alex Turner" e sim "Alex Tornado", detonando geral. — gesticulou com os braços e tudo o que eu escutei depois disso foi a gargalhada explosiva de Nicholas logo atrás de nós, como se aquilo fosse a coisa mais engraçada que ele já tenha escutado desde que nasceu.
— Perdi todos os freios que controlavam a minha vida com esse "Alex Tornado", puta merda. — Nicholas diz depois de um longo período rindo a ponto de lacrimejar e Ella lhe dar um beliscão para ele tomar vergonha na cara e parar de rir. — Vou pedir à tia Penny para trocar o seu sobrenome no cartório.
— Sai fora, O'Malley. — resmunguei, voltando a fazer meu caminho pelo corredor com eles. — E eu não quero ser pegador. Eu gosto de ser como eu sou e só queria que alguém gostasse de mim sem eu precisar mudar radicalmente o meu jeito. — prossegui em um momento de reflexão. Eu realmente achava que não valia tanto a pena assim mudar da água para o vinho só para conseguir alguém. Talvez eu ainda seja um tolo que acredita na ideia de que a pessoa vai gostar de mim do jeito que eu sou, independente da aparência ou coisas afins.
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Before The Cinnamon Rain | Alex Turner (CONCLUÍDA)
RomanceNa Dinamarca, se você chegar aos 25 anos de idade e ainda estiver solteiro, é agraciado com uma verdadeira chuva de canela em pó como castigo baseado em tal tradição que perdura por várias gerações no país. E é exatamente esse o pior pesadelo de Ale...