Ponto de vista — Alex Turner.
Ah, não.
Tudo o que eu menos precisava em uma tarde de sexta era ficar trancado no vestiário do ginásio da universidade. Pior ainda com a Petersen.
— Não. — respondi fingindo plenitude mesmo que por dentro eu esteja imaginando os piores cenários possíveis. Ela forçou mais um pouco, girando a maçaneta para todos os lados enquanto tentava puxar a porta. — Deixa eu tentar. — pedi à ela, abrindo caminho para que eu pudesse tentar abrir.
Era estranho, quando eu fechei a porta depois de entrar aqui não tive a impressão de que ela iria emperrar ou algo do tipo. Mas agora, enquanto eu forçava de todas as maneiras abrir aquela porta metálica, tive a plena certeza de que alguém lá em cima deveria me odiar um pouco.
— Conseguiu? — escutei ela perguntar atrás de mim. Respirei fundo, encostando o corpo na parede e negando com a cabeça. — Porra, por que você foi fechar essa porta, Turner? — me questionou girando a maçaneta sem parar como se isso fosse fazer a porta abrir.
— Agora a culpa é minha? Você realmente acha que se eu soubesse que a porta iria emperrar eu teria fechado? — indaguei incrédulo com sua atitude como se isso tivesse sido proposital da minha parte. — Tenho amor à minha vida a ponto de saber o quão desagradável é estar no mesmo lugar que você por muito tempo.
— Lá vem você de novo com essa história, troca o disco, Alex. — revirou os olhos e eu resolvi me afastar para não perder meu réu primário na primeira oportunidade. Não sei porque eu vim pra cá, não sei porque eu senti um pingo de empatia por ela a ponto de vir aqui. Agora estou aparentemente preso com ela.
É isso, já dizia o filósofo Vegeta: eu tento ajudar e ainda sou humilhado.
— Eu só não quero que você venha me culpar de algo que claramente não foi proposital, Petersen. — rebati, me sentando no banco e encostando a cabeça em um dos pequenos armários. — Que ideia idiota ver vindo aqui. — resmunguei não tão alto, mas o suficiente para que ela ouvisse e viesse querer ficar na minha frente para tirar satisfação cara a cara. Eita, mulher chata.
— E por que você veio, então? Ninguém te obrig...
— Eu sei que ninguém me obrigou a vir aqui, Petersen. — a interrompi antes que ela pudesse começar seu showzinho de superioridade e ''sensatez''. Eu não estava nem um pouco disposto a me estressar com ela sabendo que eu não poderia simplesmente sair daqui e deixá-la falando sozinha. — Eu só fiquei ligeiramente preocupado com... esquece. Impressionante como você é mal-agradecida. — balancei a cabeça, sabendo que era inútil eu expor os fatos ali na cara dela. Ela sempre daria um jeito de tentar virar o jogo a seu favor.
Mas, por incrível que pareça, ela ficou calada. Acho que vejo isso como uma vitória absoluta. Ou algo parecido. Eu não sei, eu só quero sair daqui. Já consigo sentir o suor involuntário descendo pela minha têmpora e meus olhos ficarem inquietos, como se eu estivesse procurando algo para me distrair.
— Você é claustrofóbico, não é? — escutei ela perguntar quando eu respirava fundo pelo nariz e soltava o ar pela boca. Girei meus olhos para encarar ela, vendo que ela ainda estava na mesma posição, com os braços cruzados e uma expressão imparcial no rosto.
— O que?
— Você é claustrofóbico? Lembro quando você surtou quando ficou preso no banheiro da quadra na sétima série. — indagou e isso desbloqueou uma memória horrível onde eu tive um ataque de pânico surreal após ter ficado preso no banheiro da quadra de futebol na aula de Educação Física. Depois daquele dia, eu tive medo até de entrar no banheiro da minha casa, e levou um tempo até eu voltar a trancar as portas dos banheiros dos lugares depois que eu entrava.
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Before The Cinnamon Rain | Alex Turner (CONCLUÍDA)
RomanceNa Dinamarca, se você chegar aos 25 anos de idade e ainda estiver solteiro, é agraciado com uma verdadeira chuva de canela em pó como castigo baseado em tal tradição que perdura por várias gerações no país. E é exatamente esse o pior pesadelo de Ale...