Ponto de vista — Katrina Petersen.
Dois dias depois, ocorria o famigerado e tão falado ''correio elegante'' na universidade. Um dia onde todos escolhem surpreender seus parceiros, ficantes, crush's ou amigos, seja com uma declaração do tamanho do Novo Testamento ou seja com um ''bora fechar?''. Eu já perdi as contas de quantos eu já recebi na época da escola e ainda recebo de alguns admiradores secretos por aqui.
Os pontos de coleta e entrega dos correios estavam lotados de universitários, todos alimentando uma pequena chama de uma talvez paixão ou amizade. Era quase como um carro de tele mensagem, mas a diferença é que você poderia deixar a mensagem anônima caso a pessoa simplesmente jogue seu bilhete na lixeira mais próxima.
Passei por um deles que acabava de ser montado, muito tentada a fazer algo que possivelmente custaria meu rim. Não que eu esteja dizendo que seja caro.
A questão é que nesses dois dias, eu não conseguia tirar as palavras de Turner da minha cabeça. Como se estivessem em um loop em minha mente, e a ideia de que ele é tímido demais para não conseguir dizer isso para ela me deixa meio coringada. Quer dizer, são palavras bonitas demais para não serem ditas a quem deveria ouvir.
E agora, eu via a oportunidade perfeita para dar um empurrãozinho.
— Bom dia, Kat. Algum bilhete especial? — uma das responsáveis pela banca me saudou. Ela era aluna de Engenharia Civil, temos algumas aulas juntas.
— Acho que sim, já estou por aqui mesmo. — dei de ombros, buscando minha carteira na bolsa, antes consultando o relógio. Eu estava um pouquinho atrasada, mas não faz mal. É aula de Mecânica dos Fluidos, onde tudo se resume a ler o que está nos slides e responder a chamada.
— Pro Matthew, eu suponho. — ela me olhou saliente e eu tive que disfarçar minha cara de ''puta que pariu, o Matthew''. Seria mesmo estranho eu estar aqui e mandar um correio elegante para alguém que não fosse ele.
— Ah, com certeza. Na verdade, também vou enviar pra uma outra pessoa. Uma amiga que está um pouco triste ultimamente e acho que isso pode alegrar ela. — inventei a mentira em tempo recorde apenas para me livrar do possível sufoco. Ela sorriu, apontando para as opções. Eu poderia escolher um bilhete simples com uma balinha de morango de brinde, ou mais elaborado que teria uma rosa para acompanhar e folha perfumada, ou um extremamente elaborado, com folhas em forma de coração e uma pequena caixa de bombons para acompanhar.
Optei pelo mediano para enviar à Alexa e Matthew. Eu não queria me esforçar demais para isso, mesmo sabendo que Matthew provavelmente me entregaria um bem mais elaborado com um pequeno textinho que com certeza não foi ele quem elaborou.
— Você quer que eu escreva ou você vai escrever? — perguntou gesticulando com a caneta e os dois papéis sobre a mesa. Ah, jamais.
— Não, pode deixar que eu escrevo. — peguei a caneta de suas mãos e colocando meus neurônios para funcionar. O que eu digo a Matthew? Alguma cantada idiota para estudante de Direito? Algo que seja bem a cara dele.
''Gato, você não é uma sentença, porque se fosse, eu cumprira todos os prazos sem pedir recurso.''
Que merda, cara. Mas é melhor do que nada.
Terminei o bilhete e fechei, começando a escrever o bilhete para Alexa que mais parecia uma música melancólica de algum cantor indie apaixonado. Por incrível que pareça, eu me lembrei de tudo. Ou talvez uns 98% do que ele me disse. Foram suficientes para ter que me fazer diminuir minha letra para caber tudo.
— Certo, esse é pro Matthew e o outro é para...? — ela perguntou, colocando dentro de um envelope vermelho e perfumado.
— Alexa Chung. Não sei em qual período ela está exatamente, mas ela faz Estilismo de Moda. — respondo entregando o dinheiro e me preparando para sair antes que ela pudesse fazer mais perguntas, antes agradecendo com um aceno de cabeça.
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Before The Cinnamon Rain | Alex Turner (CONCLUÍDA)
RomanceNa Dinamarca, se você chegar aos 25 anos de idade e ainda estiver solteiro, é agraciado com uma verdadeira chuva de canela em pó como castigo baseado em tal tradição que perdura por várias gerações no país. E é exatamente esse o pior pesadelo de Ale...