Ponto de vista — Alex Turner.
Sair em pleno sábado para fazer compras no shopping não é bem o meu passatempo favorito. Ainda mais quando eu estou indo com a Petersen.
Será que ainda dá tempo de desistir?
Provavelmente sim. Levando em conta que já são exatamente 15 horas, 10 minutos e 17 segundos e eu estou em frente à loja da Dolce & Gabbana completamente sozinho, posso inventar que rompi o ligamento patelar do joelho ou que o sistema de arrefecimento da minha moto simplesmente morreu.
Honestamente, estou começando a pensar que tudo isso não passa de uma brincadeira que Petersen inventou para me fazer de otário. Não é possível que alguém consiga se atrasar em todas as ocasiões existentes quando a própria estipula um horário.
— Antes que você tenha a oportunidade de me xingar, há um congestionamento horrível na avenida próxima à minha casa. — escutei a voz da dita cuja próxima a mim num momento de distração. Olhei para o lado, vendo-a se aproximar cada vez mais. Estava tão arrumada em seu macacão longo forjado à jeans que parecia que estava indo a um casamento, e seriamente me pergunto se ela se dá o trabalho de se arrumar tanto assim até para ir à padaria.
— Eu não disse nada, Petersen. — respondi sem me importar muito, passando o capacete para a outra mão e olhando brevemente ao redor. — Ok, pra onde vamos?
— Achei que estivesse óbvio quando eu falei para me esperar aqui. — apontou para a loja e eu forcei um riso. Ela entrou na frente e eu continuei parado, ainda não crédulo que ela realmente esperava que eu entrasse ali. — Vem logo, o que tá esperando?
— Até onde eu sei, meu avô não é o dono da Ambev e muito menos sou herdeiro da Petrobrás para eu me dar o luxo de entrar numa loja assim. — respondi e ela cruzou os braços, me olhando como se eu fosse um ser de outro planeta. Claro, o que ela esperava? Que eu estivesse em plenas condições de deixar meu rim como pagamento? — Katrina, eu não tenho dinheiro nem para pisar nesse tapete, tampouco para comprar roupas aí.
— Alex, para com isso. Vem logo e deixa que eu resolvo sobre o pagamento. — rebateu impaciente, dando alguns passos apenas para agarrar meu braço e me puxar como uma mãe puxa uma criança birrenta em pleno corredor de doces do supermercado.
— Ah, claro. Você roubou um banco e me colocou como cúmplice pra no final eu levar toda a culpa ou algo parecido? — indaguei, já me vendo dentro daquela loja que denota ser um ambiente agradável e tem um cheiro tão bom que nem sei descrever. Vou chamar de "cheiro de coisas absurdamente caras".
— Você é chato assim mesmo ou fez curso no SENAI? — reclamou enquanto ainda me puxava por entre os corredores repletos de araras e cabides com os mais diversos modelos, tanto masculinos quanto femininos.
Não demorou muito para sermos abordados por uma vendedora elegantemente vestida num uniforme verde musgo, impecavelmente engomado e sem um único pêlo intrusivo.
— Katrina, quanto tempo, querida! — disse jovial, abrindo um sorriso grande ao passo que tomou a liberdade de abraçar Petersen.
— Não exagera, Cinthia. Não tem nem um mês desde a última vez que vim aqui. — respondeu e eu senti vontade de desaparecer como se eu estivesse apagando toda a minha existência na história da face da terra conforme eu recuava meros passos. Mais pelo fato de que eu não tenho paciência nenhuma para isso do que pela... bom, talvez vergonha de estar aqui sendo que eu claramente não sou um membro da alta elite dinamarquesa digno de frequentar tal lugar.
— E quem é esse? Namorado novo? — a vendedora perguntou me dando uma olhadela, cutucando Katrina. O que?
— Deus me livre. — Katrina respondeu antes de mim, me fazendo olhar estupefato para ela. Não entendo essa estranha necessidade que ela tem de enfatizar que eu nunca serei o tipo dela. Não que eu me importe com isso ou vá chorar durante o banho pelo fato de que nunca terei uma chance com ela, mas poxa, precisa disso? — Esse é o Alex, ele é só um amigo da faculdade. E é exatamente por causa desse indivíduo que estou aqui.
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Before The Cinnamon Rain | Alex Turner (CONCLUÃDA)
RomanceNa Dinamarca, se você chegar aos 25 anos de idade e ainda estiver solteiro, é agraciado com uma verdadeira chuva de canela em pó como castigo baseado em tal tradição que perdura por várias gerações no paÃs. E é exatamente esse o pior pesadelo de Ale...