Ponto de vista — Alex Turner.
Numa escala de 1 a 10, meu nível de nervosismo ultrapassa qualquer estatística enumerada. Já perdi as contas de quantas combinações de roupas tentei e quantas vezes me olhei no espelho tentando ter um momento de autocompaixão. Mas droga, isso é mais difícil do que fazer uma simulação numérica.
O meu consolo é que Katrina iria. Sim, a minha oferta de pagar o sorvete para ela foi irrecusável, embora eu tenha achado que ela não ia se entregar tão facilmente.
Por fim, às 16:40 e nenhum minuto mais tarde, eu estava fazendo o meu caminho até o Parque Enghave. Não era tão longe, e considerando que hoje era feriado, o dia estava relativamente tranquilo, as avenidas estranhamente vazias sem aquele rotineiro alvoroço, o clima beirando os 23°. O dia estava realmente perfeito para uma volta no parque e só de pensar que daqui alguns minutos irei provavelmente ter o prazer de desfrutar dessa tarde ao lado de Alexa, minha barriga começa a doer.
Optei por deixar minha moto num estacionamento privativo do outro lado da rua. Não porque não confio em deixá-la na rua, mas porque simplesmente não havia um único espaço para estacionar aos arredores do parque. Dei uma breve corrida para atravessar a rua e finalmente coloquei os pés cobertos pelo tênis na grama verdejante do parque.
O ar puro penetrava minhas narinas, trazendo um leve cheiro de pipoca amanteigada, me fazendo concluir que havia algum pipoqueiro no perímetro. Meus olhos cobertos pelo óculos de sol alcançaram até as passarelas, uma parte do lago artificial e as diferentes árvores espalhadas, algumas ali eram de espécies raras, então eram muito bem protegidas e monitoradas para que nenhum galho fosse arrancado. E obviamente, era notório as diversas barraquinhas de pequenos artesãos e hippies em pontos distintos do parque, chamando a atenção dos visitantes a fim de conseguir vender algo no fim do dia.
Antes que eu consiga terminar de descrever tudo o que eu ainda estou vendo, senti o celular vibrar em meu bolso dianteiro. Katrina. Ah, por um segundo eu esqueci dela.
— Onde você tá? — perguntou assim que eu atendi no quarto toque.
— Boa tarde para você também. Acabei de chegar, onde você está? — respondi de forma passiva-agressiva, como se eu pudesse até ver ela revirar os olhos com essa minha resposta. Olhei brevemente ao redor, tentando ver se ela estava por perto.
— Do lado do carrinho de sorvete do Sr. Robertsen. — ela respondeu e eu arregalei minimamente os olhos. O Sr. Robertsen é um sorveteiro bem conhecido por aqui, sempre está no mesmo ponto no parque e aparentemente sempre vendeu muito bem.
— Caralho, ele ainda tá vivo? — perguntei um pouco incrédulo, escutando ela rir de forma reprimida do outro lado. Desde que o sol é uma estrela que ele é velho, ainda lembro de que quando eu era criança e vinha aqui com meus pais, ele sempre tinha aquela cara velha e enrugada sob um chapéu de cozinheiro. Talvez ele seja como o Morgan Freeman.
— Está, não sei como, mas está. — ela respondeu enquanto eu fazia o meu caminho até o ponto onde ele sempre deixava o carrinho, já conseguindo avistar ela de longe. Ou pelo menos eu achava que era ela.
— Vou desligar, já te achei. — falei rapidamente e encerrei a chamada, não esperando uma resposta dela. Ao analisar ela por um primeiro momento, não parecia ela. Desde que a conheço, Katrina fazia questão de deixar até o dedinho do pé impecável ao sair na rua, vestindo sempre as melhores roupas e passando aquela impressão de filhinha metida bancada por pais ricos.
Mas bom, olhando-a vestindo apenas uma calça jeans cintura alta, um cropped cor vinho, uma sandália rasteira de tiras e o cabelo preso num coque alto, era de se espantar um pouco. E eu odeio admitir isso, mas ela continua bonita. Não sei explicar exatamente como, e nem quero. Não é algo relevante eu achar ela bonita ou não, é?
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Before The Cinnamon Rain | Alex Turner (CONCLUÃDA)
RomanceNa Dinamarca, se você chegar aos 25 anos de idade e ainda estiver solteiro, é agraciado com uma verdadeira chuva de canela em pó como castigo baseado em tal tradição que perdura por várias gerações no paÃs. E é exatamente esse o pior pesadelo de Ale...