Casebre

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Nina o olhava carrancuda, como se quisesse que Nathaniel fosse embora. Para o azar da menina, ele preferia mil vezes lidar com uma adolescente nervosa do que com uma horda de mortos-vivos.

Então ele apenas acenou, da maneira mais simpática que conseguia. Tudo que conseguiu de volta foi ser solenemente ignorado.

- Ele... – Catherine se aproxima, dando um tapa em seu ombro, que provavelmente era para ter sido bem menos forte do que de fato foi. – É um cara que encontrei no centro de Nice. Lá está bem tomado pelos mortos, não consegui trazer muita coisa.

Ela estende à Nina uma sacola contendo alguns alguns pacotes, todos frutos da "expedição" pelo centro da cidade: dois rolos grandes de bandagem, um pouco de gaze e alguns antibióticos.

- Os remédios estão vencidos. – A menina loira diz, em um muxoxo.

- Tudo está vencido hoje em dia, Nina, é o máximo que conseguiremos arranjar por aí. Mas vai funcionar, não se preocupe. – Catherine passa por trás dela, fazendo-a um afago rápido antes de pegar uma cadeira extra e oferece-la de assento para Nathaniel.

Ele aceita – suas pernas doíam.

Após sentar, Catherine se afastou novamente. Ela parecia sempre estar atarefada, cuidando do lar. Por alguns segundos, Nathaniel pode finalmente observar melhor a casa.

Como era uma construção encrustada na montanha, a "parede" do fundo era apenas terra. Era um ambiente pequeno, dividido em dois – a sala em que estavam agora, que continha precários móveis de madeira, sacos de dormir e alguns equipamentos pendurados na parede, e outro cômodo, separado por uma portinha de madeira, que o loiro supôs ser algum banheiro bem compacto.

O local era penumbroso. A única iluminação vinha de alguns lampiões, presos em pequenos ganchos no teto. Não havia nenhuma janela, o único jeito de observar o exterior era por um pequeno furo na porta, uma espécie de olho mágico não intencional.

Tudo lá era absolutamente simples, paupérrimo. E mesmo assim, estava limpo e organizado, o que o tornava muito mais confortável do que qualquer outro lugar em que passara noites nos últimos meses.

- Você vai ficar aqui de agora em diante? – Nina diz, falando diretamente com ele, enquanto Cat se afasta para organizar, em uma precária dispensa, os mantimentos coletados.

- Provavelmente só vou passar a noite. Estou aqui na região por acaso. – Respondeu, endireitando-se na cadeira. Suas costas estavam tensas.

- Nome.

Ela não estava sendo exatamente uma anfitriã doce. Talvez fosse receio? Era justificável, afinal ele era um estranho e ela era uma menina ferida. De qualquer maneira, era claro que ela queria voltar a dividir a casa apenas com Catherine o mais rápido possível.

- Você pode me chamar de Nath. – Tentou, novamente, o caminho da simpatia. Era um hóspede, afinal, e a menina parecia ter dezesseis anos, no máximo.

- Parece nome de mulher.

- Olha, por que você não vai para o infer...

Não concluiu a frase, pois Catherine se aproximou, segurando três pequenas tigelas. Nina mostrou-lhe a língua. Era como se estivesse no ensino médio novamente.

- Hora do jantar! – Cantarolou, estendendo a última sílaba por alguns segundos, como se tentasse empolgar duas crianças. Nathaniel estava surpreso ao pegar sua refeição.

- Você realmente não precisa gastar sua comida comi...

Sua fala foi interrompida bruscamente.

- Bobagem. Você me salvou. Ao menos um pouco de peixe e vegetais eu posso te fornecer.

7 dias - Nathaniel Carello, Amor DoceOnde histórias criam vida. Descubra agora