Promenade des Anglais

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Um tiro.

Era tudo que sobrava em sua arma. No entanto, a imensa horda de mortos-vivos que avançava atrás de si na outrora bela avenida Promenade des Anglais, requereria bem mais do que apenas um projétil para ser neutralizada. Possuía algumas munições extras em sua mochila, mas só conseguiria pegá-las se parasse ou ao menos diminuísse a velocidade de seus passos – e isso não seria possível agora.

Ali costumava ser a via mais viva da cidade de Nice. E agora só exibia morte.

Nathaniel corria, pois sua vida dependia disso. O sol ardia em sua nuca, quente, deixando-o cada vez mais cansado. Três anos após o fim do mundo, seria agora que iria morrer?

Assim, sozinho?

Chacoalhou fortemente a cabeça para afastar a ideia, tentando manter o foco em manter o ritmo da corrida, que já era longa. Suas pernas ardiam e os grunhidos das criaturas ficavam cada vez mais próximos.

Não queria morrer ali, desse jeito. Não queria morrer de jeito nenhum.

Entrara naquela parte da cidade, a mais infestada pelos mortos, por engano enquanto procurava por mais suprimentos, munição e gasolina. Tinha mapas, claro, mas não era natural daquele lugar então não o conhecia muito bem – bastou uma esquina errada para se ver envolto por seus perseguidores ex-humanos.

Sentiu uma repentina câimbra. Sua perna esquerda é completamente tomada por uma intensa dor que o faz ranger os dentes. Os mortos não diminuem o passo enquanto ele pisa em falso e vai em direção ao chão, mitigando o impacto com o solo usando suas mãos.

A sensação de aperto em sua perna apenas piora. O loiro solta um grito de frustração enquanto tenta se reequilibrar. Poucos metros o separavam da morte, pouquíssimos.

Sentiu um arrepio frio descer sua espinha. Conseguia ouvir os próprios batimentos cardíacos e as ponta de seus dedos formigavam fortemente. Seria esse o famoso presságio de fim da vida?

Desde o início do vírus, perdera todos por quem tinha apreço. Armin, Ambre, Kim: todos mortos há anos. Não entrou em nenhum grupo desde então e costumava se portar de maneira antissocial perante outros sobreviventes encontrados, com medo de serem salteadores – ou seja, ladrões, comumente vivendo em bando, que enganavam pessoas, roubavam pertences e até mesmo tiravam vidas.

Estava sozinho a tanto tempo, mas nunca tinha lhe passado pela a cabeça a ideia de que morreria assim. Esquecido. Só.

Foi retirado de seus pensamentos ao ouvir um alto ronco de motor, seguido por uma voz feminina.

- Sobe aqui, sobe! – Virou a cabeça em direção ao som, e viu, na sua diagonal esquerda, sob uma imensa moto, uma mulher usando uma grossa jaqueta de couro e capacete. – Anda porra! Ou você quer realmente morrer aqui?

Reagiu rápido, em um rompante de adrenalina, correndo em disparada até a mulher misteriosa. Saltou sobre a motocicleta que, quando ele ainda mal tinha terminado de passar seus braços ao redor da condutora desconhecida para se segurar, arrancou com força máxima.

Iam rápido. Nathaniel tinha certeza de que se afrouxasse, minimamente que fosse, o abraço, iria cair de costas no asfalto.

A desconhecida saiu da avenida e adentrou uma série de esquinas apertadas, se distanciando cada vez mais de onde estavam. A velocidade em que estavam fazia o trajeto parecer menor do que realmente era, mas a verdade é que percorreram quilômetros para longe da outrora mais bela avenida da cidade francesa de Nice.

O vento esfriava seu corpo, desacelerando seu peito. Em meio à uma mente enevoada pelo recente momento de pavor, conseguiu organizar um pensamento completo: estava salvo.

Não sabia o que ia acontecer depois, mas, por agora, ele estava salvo. Sentiu seu corpo relaxar enquanto admirava a cidade. Saboreava a paisagem como se ela ainda tivesse alguma vida em si além dele e sua salvadora.

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Sentiu uma freada repentina, que o jogou para frente com força. Enquanto a mulher rapidamente desceu da moto, ele, mortalmente cansado, apenas olhou ao redor calmamente.

Estavam em uma clareira. Era outono, então as plantas estavam tingidas em amarelo e laranja. O vento as curvava suavemente, em movimentos alternados, agradáveis à vista. Outono era a estação preferida de Nathaniel.

Desceu da moto, e, ao subir a cabeça, não encontrou mais a motoqueira. Um alerta de perigo acendeu em sua mente. Antes que pudesse puxar a arma de sua cintura, ouviu um som metálico muito característico ao pé de sua orelha.

Uma arma sendo destravada.

Sentiu o cano ser encostado levemente em sua nuca. Não precisou se virar para saber que quem agora o ameaçava era a pessoa que salvou sua vida vinte minutos atrás.

- Não acho que você precisa fazer isso. – Disse, calmo. Não era a primeira vez que estava sob a mira de uma arma, e provavelmente não seria a última.

- Preciso. – Ela disse. Sua voz era suave, bonita. Sentiu uma pequena mão puxar a arma que estava em sua calça.

Tentou se mover, pois não queria perder sua única garantia de autodefesa, mas sentiu a figura misteriosa apertar fortemente o cano metálico em sua nuca.

- Você fica parado. Eu não vou ter medo de te matar caso seja necessário. – Percebeu que a mulher subiu o tom. Falava firme e alto.

Estava sem a arma. Agora tudo que lhe restava era a pequena faca de caça, presa em sua bota, que não tardou em ser também tomada pela mulher. Em seguida, recebeu mais um comando.

- Sem se virar, solte a mochila das suas costas.

Assim o fez. Não tinha outra opção.

Ouviu ela chutar a bolsa cheia para trás, sem descolar momento algum a arma dele.

- Você realmente me salvou só para me matar em seguida? Poderia ter poupado seu tempo, não precisava ter me levado para uma voltinha antes. – Disse, sarcástico. Ouviu a moça soltar ar pelo nariz, como se tivesse achado a frase engraçada. – Apesar de, sim, eu não poder te culpar por querer ficar mais um tempinho comigo. Hoje em dia não é em todo canto que você vê alguém bonito assim.

Dessa vez ela não conseguiu se segurar e soltou uma pequena risada.

"Bom, pelo menos ela tem o mínimo de senso de humor" – Pensou Nathaniel.

Antes que pudesse ter a oportunidade de dizer mais qualquer coisa, ela falou mais uma vez.

- Muito bem. – Estava séria novamente. Todo seu esforço de deixar ela descontraída, pelo visto, não dera certo. – Mas agora você vai parar de gracinha e me dizer seu nome.

A arma, antes em sua nuca, agora subira para a parte de trás de sua cabeça. Quem quer que fosse aquela pessoa, ela não brincava em serviço.




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Avisos:

Comecei essa hisória de supetão, inspirada pelo recente evento de Haloween do Amor Doce. Adorei o conceito dos personagens em um contexto de apocalipse zumbi e resolvi botar minha ideia em produção.

Não planejo fazer com que a história seja muito longa. Certamente será uma história violenta, mas outros eventuais gatilhos eu deixarei sinalizados no início do capítulo.

Se quiserem falar comigo, pode ser pelo meu twitter de Amor Doce: nathpetista

Não sejam tímidos e me deem suas opiniões! Minha escrita só vai evoluir assim.


7 dias - Nathaniel Carello, Amor DoceOnde histórias criam vida. Descubra agora