Três palavras

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No outro lado da França...

Castiel estava em frente ao depósito, anotando dados em uma prancheta, com uma letra desleixada. Chatíssima papelada de estoque, mas, afinal, todos tinham de contribuir com alguma coisa para viver ali, era uma espécie de regra universal de todas as comunas. E ele ficara com a função mais entediante de todas.

Lysandre estava a poucos metros de distância, revirando uma imensa caixa de papelão. Era um silêncio pacato, sinalizador de monotonia – afinal, o serviço do dia estava quase pronto.

Todavia, a calmaria é interrompida pela chegada de Melody, um furacão de cabelos castanhos desgrenhados. Ela estava ofegante, como se tivesse corrido uma maratona. O ex-ruivo a encara, de certa forma até como se ela fosse uma criatura estranha, enquanto Lysandre educadamente pergunta se ela precisava de algo.

- Ela... ela conseguiu. – Melody ofegava. Definitivamente correra muito para chegar ali. Enquanto a garota recuperava o fôlego, Castiel foi ficando cada vez mais confuso. – Aquela ideia esquisita da Naomi, meu Deus.

Ele levanta uma sobrancelha. Não era possível. Antes que ele pudesse emitir qualquer palavra, a garota puxa ar o suficiente para sustentar uma próxima fala.

- Deu certo. Não tem como ter certeza de nada, mas... – Cada sílaba ia deixando Castiel mais assombrado. Não podia ser. Seria bom demais para ser verdade. Melody volta a respirar ruidosamente. – Mas aquele homem realmente melhorou um pouco. Já é o oitavo dia e ele não morreu.

Ele deixa cair a prancheta. Lysandre fala algo, mas ele não presta atenção em uma palavra sequer. Talvez, mas só talvez, pudesse ser o princípio de um milagre.


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Catherine levava agora na cabeça um curativo extremamente mal feito, composto de panos velhos e fita adesiva – mas que interrompera o sangramento. E, por isso, estava imensamente grata à Priya.

A jovem a explicou algumas coisas.

Apenas três tipos de pessoas eram jogados em "celas" ali como elas: habitantes da Colônia que cometeram alguma transgressão, e ali passavam alguns meses de punição, pessoas que estavam tentando ingressar ao grupo e ali passavam por uma "triagem" até serem aceitos ou não (a rejeição implicava em morte, mas Priya omitiu esse detalhe para não deixar Catherine mais exasperada do que já estava) e também pessoas "capturadas". Como elas.

Eram ambas capturadas.

Priya tinha um grupo, e foram atacados por um pequeno grupo de soldados da organização. Todos conseguiram fugir e sair vivos, ao menos era o que ela escolhia acreditar, mas ela acabou ficando para trás e já estava trancafiada ali a quase um mês. Fazia trabalhos: carregando carga, polindo armas, ajudando na colheita e tudo o que lhe pedissem.

Esperava, assim, conseguir virar "cidadã" oficial, acumulando pontos de simpatia com os líderes. Alguns já gostavam dela: já recebia porções de comida maiores do que as iniciais.

Era uma situação deprimente, de fato. Priya não ia revelar seus sentimentos a uma estranha – sabe lá se Catherine usaria essa informação para conseguir mais prestígio – mas estar ali era um calvário. No entanto, tinha de brigar pela cidadania. Uma porção de comida por dia e noites frias, mal dormidas, em um chão duro, era uma rotina pior até mesmo em comparação ao que ela estava habituada no apocalipse mundo afora.

Lá fora ela não estava a todo momento sob a mira de várias armas.

Catherine, exausta e ansiosa, revelou partes de sua situação para a nova conhecida. Contou que fora separada de Nathaniel e Nina, e, evitando dar detalhes, disse apenas que Nina fugira dali. Não contou de que era filha de um inimigo mortal do atual líder, nem nada. Talvez fosse exposição demais.

7 dias - Nathaniel Carello, Amor DoceOnde histórias criam vida. Descubra agora