Nina, certa noite, contou a Nathaniel a história toda sobre Brassempouy. Catherine estava dormindo no quarto – era seu dia de cama no rodízio estabelecido – enquanto o loiro estava imerso em pensamentos na sala, preparando-se para dormir. De repente, entra a menina. De pijama, braços cruzados e olhar baixo, começou a falar, pois, afinal, eram uma equipe. E entre equipes não deveria haver segredos.
O apocalipse começou quando ela ainda era muito nova, aos doze. A região onde morava, um bairro de classe alta em Nantes, foi cercada artificialmente e se tornou a famosa "Colônia de Brassempouy". Uma espécie de refúgio burguês contra o caos.
Dinheiro não comprava o fim do apocalipse, mas comprava armas, munições, mantimentos e metros e mais metros de arame farpado para produzir uma suntuosa cerca de proteção.
Seu pai, Anthoine, fora um dos líderes. Outrora empresário, de posses, agora tinha como maior bem uma área de poucas quadras, e a filha adolescente, visto que sua esposa fora uma das primeiras a morrer durante o início da infestação.
Viveram bem por alguns anos, no autossustento. Plantavam e criavam animais, recusavam pessoas de fora e eram agressivos com quem insistisse em pedir socorro ao redor de sua cerca. Nina, muito nova, ainda não entendia – mas aqueles tiros, não eram de aviso.
Mas, problemas aconteceram. Invernos rigorosos castigaram as plantações, e o esgotamento do solo deixou as produções ainda menores. De nada mais valia o antigo dinheiro, pois depois de meses: o racionamento de comida chegou com força.
E, na escassez, vem o conflito.
O pai de Nina teve um caso com Mélanie, esposa de seu amigo e também líder da Colônia, Pharrel. A partir daí, nasceu um racha, e ambos passaram a adotar sempre posições opostas sobre quais deveriam ser os rumos da comuna.
Pharrel era mais astuto. Por meses, fez secretamente a cabeça de outras figuras importantes dentro da comunidade sobre como Anthoine seria um mal líder. Sempre cordial, sério, e convincente, adquiriu um certo poderio interno.
E, uma noite, resolveu colocar uma vingança final em prática.
Faria parecer acidentalmente. Combinou com um subalterno para que fosse feito, na calada da madrugada, pouco antes do amanhecer, um minúsculo buraco na cerca – que seria vigiado o tempo todo, então não haveria risco, seria apenas para manter as aparências.
Horas antes, de noite, mataria Anthoine. Na casa dele. Pessoalmente.
Não era do tipo que gostava de delegar protagonismo.
Não pensou no que iria fazer com Nina, decidiria na hora. Pouco importava. Mandaria algum outro soldadinho sumir com o corpo e, durante a manhã, fingiria para os outros moradores uma falsa desolação – "oh céus, um morto invadira a casa de Anthoine por um buraco na cerca e o matara". Ninguém, fora uns poucos empregados obedientes, teriam ciência.
A falha do plano fora o fato de Nina não ter ido dormir cedo aquela noite.
Nina interrompe a história por um momento. Parecia estar organizando memórias muito intensas. Ela passou bons segundos em silêncio, sem perceber. Nathaniel reparou que talvez o assunto ainda fosse muito pesado para a menina. Nina parecia segurar o choro.
Ele apreciava o gesto. Ela, ao menos, queria contar a história toda a ele, e isso bastava. Por agora. Ainda queria saber 100% onde estava se metendo, mas poderia esperar mais uma noite.
Convenceu-a a continuar a conversa outro dia. Fingiu estar com muito sono, e assim todos foram dormir. Ele demorou mais para adormecer, no entanto. Estava pensando.
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Semanas iam passando, e a pequena base no Chateau ia prosperando. Sobrou até um tempo para fazer uma pequena faxina, e agora os cômodos principais estavam organizados: salão principal, cozinha e até mesmo o porão.
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7 dias - Nathaniel Carello, Amor Doce
Teen Fiction(História baseada no evento de Halloween 2022 do jogo Amor Doce) Três anos depois de uma epidemia mortal quase dizimar a raça humana por completo e transformar seus infectados em mortos-vivos, as poucas pessoas restantes tentam a todo custo sobreviv...