Talvez vermelho seja a minha cor

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06 de Janeiro

  Ir à escola com o seu nome no centro de todas as fofocas não é algo legal, mas o trio teve que se acostumar com os comentários aqui e ali, que realmente incomodavam, mas todos aceitaram que a melhor escolha seria simplesmente ignorar, até um dia específico em uma aula de literatura estrangeira.

  Hyunjin chegou na aula atrasado e logo se sentou ao lado de Changbin e Felix que o receberam com sorrisos no rosto. O professor que estava preparando o slide se levantou de sua cadeira animado para a aula que iria dar, sobre o livro que tinha dado para seus alunos lerem, A letra escarlate. Ele começou a falar sobre o resumo do livro dando o contexto para os preguiçosos que não tinham lido o livro inteiro.

— O livro se passa na colônia de Massachusetts Bay, na Nova Inglaterra de 1666, época da colonização dos Estados Unidos, puritanos e índios algonquinos chegam a uma trégua em seus sangrentos conflitos. Quase uma aula de história aqui. Diante desse pano de fundo, a Hester chega da Inglaterra, engravida e se recusa veementemente a dizer o nome do pai da criança. A comunidade puritana na qual Hester vive não aceita essa escolha e a obriga a usar a letra escarlate A, de "adúltera", sempre visível sobre suas roupas e...

— Engraçado como esses livros velhos são atuais não é professor? Até hoje em dia as pessoas traem umas às outras e não tem a cara de pau de admitir as merdas que fez.

Uma das meninas falou olhando diretamente para Hyunjin que estava já revirando os olhos com a suposição da colega de sala.

— É verdade, miga, as vezes fico pensando, imagina se hoje em dia as pessoas tivessem que colocar um A vermelho na roupa para se identificar? — Ela riu e negou com a cabeça. — Tenho certeza que tem pessoas nessa sala que teriam que usar.

— Chaeyoung, Seungwan, chega, a aula é de Literatura, não de lacre, ou seja lá o que vocês estão querendo fazer aqui.

— Professor, o senhor precisa fazer um twitter para entender o que está acontecendo.

Outro aluno falou rindo como se fosse a coisa mais engraçada do mundo.

— Eu não quero saber de fofoca dos alunos, vocês são muito chatos, acham que tudo é importante demais.

— Mas já que adultério é tema da aula, acho que a gente deveria poder fofocar sobre.

O professor se encostou no quadro e cruzou os braços.

— Já me arrependi de ter começado essa aula, mas já que começou. — Ele respirou fundo e se desencostou do quadro. — Porque vocês acham que as pessoas são tão julgadas por uma coisa que as pessoas nem tem toda certeza sobre?

— Como não tem tanta certeza? Adultério é errado, não tem o que fazer.

Outro aluno falou.

— Se é tão errado porque só a mulher que foi julgada? — Todos ficaram calados. — Estou perguntando.

— Porque as pessoas gostam de falar das pessoas que eles acham que estão abaixo deles, as pessoas que eles julgam fracas, mulheres, pobres, LGBTs.

Hyunjin falou fazendo toda a sala olhar para ele.

— Gosto disso, elabore.

O professor disse se aproximando de Hyunjin.

— As pessoas sempre acham que tem o direito de fazer o que eles querem com pessoas que eles consideram piores que eles. Trazendo isso para a nossa realidade, a gente pode comparar as pessoas ricas que acham que é incrivelmente engraçado acabar com a vida dos bolsistas, só porque eles acham que os bolsistas são menos que eles.

Reputação | ᴄʜᴀɴɢᴊɪɴʟɪxOnde histórias criam vida. Descubra agora