REFÉM | LIVRO 3 DA SÉRIE: EU DEPOIS DE VOCÊ

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LARA

A minha ficha não estava caindo, e no primeiro mês eu me fechei completamente. Não estava conseguindo ouvir a voz dele, estava sentindo tanta raiva era um misto de sentimentos que eu não estava conseguindo lidar. E ele também estava estranho, de poucas palavras, sem sorrisos, completamente frio, como se o que nós já vivemos não passasse de nada, realmente a Ana Júlia tem total efeito sobre a vida dele.

Hoje completava 1 mês em que eu estava vivendo como uma prisioneira literalmente, o máximo que eu podia fazer era ir até a área da piscina pegar um sol e só, e mesmo assim os seguranças ficavam o tempo inteiro de olho, é algo sufocante. E hoje o dia não foi diferente, porém fiquei completamente sozinha sem ouvir Felipe ao telefone, ou vê-lo pela janela enquanto ele andava de um lado para o outro na beira da piscina.

Bateram 2x na porta, eu já havia tomado um banho e colocado uma roupa de academia e todos os dias pela manhã ele vinha até o quarto e me liberava para ir malhar na academia da mansão, era o mínimo, mas hoje era Francesco que foi até quarto, ele é o braço direito do Felipe, cuida de toda segurança da propriedade.

Francesco: Oi senhorita Lara -das poucas vezes em que a gente se falou ele sempre foi muito simpático e cuidadoso nas palavras-

Lara: Oi -levantei da cama- cadê Felipe?

Francesco: Ele tinha reunião na capital e pediu para eu cuidar, bom...

Lara: Da minha super rotina, né? -falei em um tom sarcástico e ri de nervoso- vamos lá.

Desci e ele foi em seguida, o café da manhã eu tomava no quarto, no começo tentei fazer greve de fome mas era impossível, comer é algo que sempre me acalmou e agora não seria diferente. A academia era completamente equipada, Felipe falou que esse lugar sempre foi o refúgio dele, ou seja, ele passava boa parte do tempo aqui.

Depois do treino de costas eu estava exausta, subi para tomar um banho e coloquei um camisão a casa tinha ar condicionado que vivia ligado então mal dava pra sentir o calor que estava lá fora e voltei para a sala o almoço foi servido e comi sozinha como todos os dias, eu evitava ficar perto do Felipe e hoje não foi diferente. Depois do almoço deitei no sofá e passei o dia vendo TV até pegar no sono ali mesmo. Perdi completamente a noção do tempo e acordei no susto com a voz do Felipe, ele estava falando alto e com a voz arrastada, estava bêbado eu o conheço muito bem. Sentei no sofá e pela janela dava pra ver o sol se pondo.

Francesco: Desculpe acordar a senhorita, mas ele precisa de você -ele falou quando entrou na sala e senti meu coração bater mais rápido-

Lara: Eu não posso fazer nada -neguei com a cabeça-

Francesco: Ele está descontrolado, nunca vi o senhor Felipe dessa forma Lara.

Passei a mão pelos meus cabelos desgrenhados e respirei fundo, levantei do sofá e Francesco foi andando na minha frente até chegarmos no escritório de Felipe. Abri a porta devagarzinho e lá estava ele, sentado em uma enorme poltrona de frente para a praia com uma garrafa de whisky na mão, os seus olhos estavam fixos para o mar.

Felipe: Depois conversamos Francesco, vai cuidar da segurança e me deixa em paz.

Lara: Ele já foi -falei baixo, tentei manter o tom e ele se virou rapidamente pra mim-

Os seus olhos estavam brilhando como quem tivesse chorado, ele engoliu seco, desviou o olhar para a garrafa e voltou a olhar para o mar como se não estivesse ligando que eu estava ali. Entrei e fechei a porta, evitei qualquer tipo de barulho e caminhei lentamente até ele, fiquei esperando ele recuar, ele brigar, gritar e descontar o que estava sentindo em mim mas não, ele se silenciou, ficou quieto e engoliu qualquer palavra que eu achei que estava por vim.

Lara: Você quer conversar? -ele negou com a cabeça e deu mais um gole do whisky-

Felipe: Tem algo para me falar? Porque eu não tenho.

Lara: Pelo jeito não teve nenhuma novidade sobre ela, né?

Felipe: E você deve estar muito feliz com isso, né? -ele me imitou no final e bufei, o mesmo seguiu me olhando e forçou um sorriso- não adianta bufar, você sabe que é a verdade.

Lara: Eu deveria me preocupar com quem me jogou aos lobos? -ele arqueou a sobrancelha e afirmei com a cabeça- Pois é, a sua irmã é fingida Felipe, ela fingiu desde o início uma aproximação comigo, ela me apresentou a Thamara e sabia que eu não iria trabalhar em um lugar qualquer, ela planejou tudo -ele ficou quieto e podia ouvir a minha respiração, meu coração estava tão acelerado, sentia tanta raiva por ele insistir em proteger a irmã- Ela não pensou em você em momento algum, eu não digo por mim porque ela não me deve nada, mas a você sim.

Felipe: O que ela ganharia fazendo tudo isso Lara? -ele levantou sem tirar os olhos de mim-

Lara: O que ela ganharia se você não tivesse medo da rejeição da sua família? O que ela ganharia se você tivesse me escolhido? -engoli seco, eu nunca havia falado sobre nós pra ninguém, eu nunca falei o quanto me doeu ele colocar eles em prioridade- me responde Felipe -aumentei a voz e ele negou com a cabeça-

Felipe: Eu não sei...

Lara: Você sabe e não quer enxergar, você se deixou levar e a sua vida virou uma porra de uma bola de neve.

Felipe: Não virou, pelo contrário me deu um rumo, eu sabia pra onde deveria ir é o meu legado Lara, você não percebe que é a porra do meu destino?

Lara: Legado, destino... -ri de nervoso- O seu pai transferiu tudo isso pra você, ele está preso por ter sido um canalha Felipe, ele só usou você e Ana Júlia é igualzinha a ele.

Felipe: Você não entende nada, você não sabe de nada. Quer falar tanto em prioridade, mas os Bottini's é a sua, e eles não são nem sangue do seu sangue.

Lara: E precisa disso? Eles me acolheram, acreditaram em mim e não fizeram como a sua irmã que me sentiu como uma ameaça. Ela armou pra eu pegar você com outra na sua casa -o seu olhar continuava perdido, mas isso ele nem imaginava- está surpreso? Não foi atoa Felipe. E outra coisa, para que os russos iriam querer sequestrar a sua irmã? o que eles iriam ganhar com isso? Gabriel, Amanda, eles sim o Gustavo iria fazer o possível e o impossível.

Me virei para sair dali e me assustei com o barulho da garrafa de whisky sendo espatifada na parede do seu escritório, olhei rapidamente para Felipe enquanto ele olhava firme para os cacos de vidro que estavam no chão, acabou quebrando um espelho junto e voou vidro até nos seus pés.

Lara: Merda, sai dai -andei até ele com cuidado e toquei no seu braço, ele tentou se esquivar e segurei com firmeza- não seja orgulhoso.