"𝘐𝘴𝘴𝘰 𝘦𝘳𝘢 𝘱𝘰𝘳𝘲𝘶𝘦 𝘦𝘶 𝘵𝘪𝘯𝘩𝘢 𝘰 𝘙𝘢𝘺."

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Norman POV —

Falta uma semana para a nossa viagem e confesso que não estou nem um pouco animado. Parece que os da minha turma estão tão animadas que só falta eles vomitarem arco-íris pelos olhos. — Eu estava saindo da faculdade com a Emma. Nós tínhamos combinado de sair com alguns amigos para comer na nova churrascaria que tinha aberto na cidade.

Ah, Norman, pensa pelo lado positivo. Você vai sair do Japão pela primeira vez sem seus pais! — Emma sempre vê o lado bom nas coisas. Eu sei que isso é normal na maioria dos seres-humanos, mas as vezes isso irrita.

Eu sei, eu sei. Mas eu não gosto e nunca gostei de sair com as pessoas da minha sala. Principalmente a Anna, ela é muito irritante. Anda acho que ela ir nessa viagem vai dar problema.

O namorado dela estuda no Canadá, né? Talvez eles se encontrem e ela fique mais calma.

Não sei não, namoro à distância nunca dá certo.

Não é verdade! Meus pais são casados à distância e vivem muito felizes!

Emma, você já é adulta. Essas coisa de ser adotada por pessoas da internet é baboseira. Além do mais, você não está com eles pra saber se o "casamento" deles está bom.

Norman, anos atrás você era mais tolerante.

Isso era porque eu tinha o Ray. — As palavras saíram sem pensar, Emma deu um suspiro e colocou a mão na testa.

Norman, você tem que esquecer essa história de "Ray". Ele não existe e nunca existiu.

Eu só vou parar de pensar nele quando você esquecer todas as criancices que você faz. — Ela revirou os olhos e suspirou de novo. Eu odeio quando as pessoas não me levam à sério.

Tá bom Norman, não vou te obrigar a nada. Você vive a sua vida e faz as suas escolhas. Mas eu acho que existe um limite entre criancice e loucura.

Resolvi deixar pra lá o fato de ela dizer que eu estou louco. Não vale a pena gastar saliva com alguém que já quis se casar com uma girafa do Animal Planet. E outra coisa, nós vamos nos encontrar com Mujika e Sonju, ficaria chato um clima ruim entre nós.

Mujika e Sonju são amigos que fiz em um evento de animes e jogos. Eles estavam vestidos de demônios do meu jogo favorito, não pude ficar parado e pedi uma foto e o número deles. Desde então, nós saímos em grupo, eu eles e a Emma.

Quando chegamos na churrascaria, vimos os dois sentados em uma mesa que já estava com comida. Pedimos licença e nos sentamos. O lugar estava lotado, logicamente porque era festa de inauguração. As pessoas bebiam riam muito, o cheiro estava de matar de tão bom. Tinha mesas dentro e fora do estabelecimento e todos estava muito bem vestidos.

Ah, que bom que chegaram, pedimos comida e acabaram de nos entregar. — Não sei porque, mas Mujika parecia nervosa.

Podem comer. — Sonju disse e deu uma um prato com carne pra mim e pra Emma. Ele também estava nervoso.

'Itadakimasu~

Depois de comermos e conversarmos um pouco, Mujika e Sonju se entreolharam e apertaram as mãos.

Pessoal, temos uma notícia pra dar à vocês. — Eu sabia. Eles se entreolharam de novo e sorriram um para o outro.

"Estamos namorando!" eles disseram juntos. Emma ficou tão chocada que engasgou com o arroz que estava comendo. Ela até usou isso de desculpa pra beber um pouco mais de cerveja.

NAMORANDO?! AI MEU DEUS PARABÉNS! — Ela estav com os olhos brilhantes e estava gritando muito alto, as pessoas da mesa em volta ficaram olhando. Foi aí eu me liguei em uma coisa.

Espera... Vocês já não estavam namorando? — Aquilo com certeza quebrou o clima fofinho que tinha se instalado. Mujika e Sonju não aguentaram e riram.

Por que acha isso, Norman? — Mujika perguntou.

Bom, quando eu conheci vocês vocês estava usando um cosplay de casal. Sempre que saíamos vocês andavam de mãos dadas e você sempre fazia o Sonju sorrir.

Epa, epa, epa! A parte de andar de mãos dadas e do Sonju sorrir é verdade, mas agora, o cosplay? Pelo o que eu me lembro, aqueles demônios que nós nos fantasiamos não eram um casal.

Então você lembrou errado, eles eram um casal, mas só foi revelado isso nas legendas japonesas do jogo. Nas legendas em inglês é dito que eles são melhores amigos.

Eles ficaram sem-graça, mas Emma tirou aquele clima pesado quando começou a rir.

Ai meu Deus, eu nem tinha me tocado.

Enfim, o resto da noite foi normal. Nós bebemos, rimos, comemos e até apostamos com uns caras da mesa ao lado.Resolvi voltar pra casa quando meu alarme tocou. As ruas estavam frias e vazias, isso era a única coisa ruim naquela região onde a churrascaria foi aberta. Se alguém morrer ali, ninguém acha durante 2 semanas.

Quando cheguei em casa, antes mesmo de abrir a porta, pude ouvir sons de chiados.

Fala sério... — resmunguei e destranquei a porta da sala.

Ao entrar, encontrei meu pai sentado na poltrona com a TV desligada e com uma garrafa começada de cerveja na mão. Ele só fazia isso quando brigava com a minha madrasta, que, pra falar a verdade, é um pé no saco.

Eu desliguei a TV, tirei a garrafa da mão do meu pai, tirei os sapatos dele e coloquei um cobertor nele antes de subir pro segundo andar.

As escadas rangiam a cada passo que eu dava, era incrível como ninguém acordava com aquele barulho. Eu cheguei no segundo andar e fui andando pelo corredor até meu quarto, e, estranhmente, a luz do quarto dos meus pais estava acesa. Não precisei chegar nem a 3 metros pra conseguir escutar minha madrasta.

É amiga, ele não quis me levar pra comer naquela churrascaria nova mas deixou aquele pirralho ir. Sinceramente, eu queria que essa criança se mudasse logo, ele já é maior de idade, ele é um pé no saco.

Eu apenas revirei os olhos e segui meu caminho. Quando cheguei na frente da porta do quarto que ela estava, eu abri a porta e disse:

A senhora fala muito alto. — Foi perceptível na cara dela que ela estava sem-graça, eu só encostei a porta e entrei no que quarto. Logicamente, tranquei a porta. Não preciso de visitas noturnas.

Eu me deitei na cama e dei um suspiro. Eu também não via a hora de me mudar, sair desse inferno, trabalhar e dar a vida que meu pai merece. Mas, por enquanto, eu teria que viver com essa mocreia.

Eu peguei meu celular e vi que estava em 23%. Saí caçando meu carregador pelo quarto todo, mas tudo o que consegui foi bagunçar minhas coisas. Lembrei que tinha um carregador reserva do meu antigo celular na última gaveta da cômoda onde guardo meus remédios.

Quando fui mexer lá, estava tudo empoeirado, até atacou a rinite. Toda aquela poeira marom subiu e eu comecei a tossir muito. Pelo menos, achei o carregador. Quando coloquei minha mão lá dentro, senti um papel. Pensei que pudesse ser uma receita de remédio antiga, mas era outra coisa.

O papel estava amarelado porque era velho, mas eu podia ver claramente o que era. Era o desenho que Ray tinha me dado de aniversário. O desenho era eu e ele, brincando de carrinho em uma pista de Hot Wheels que eu queria muito.

Eu comecei a chorar vendo o desenho. Estava muito bem desenhado se comparado com meus desenhos antigos. Essa situação parecia com a de quando Cinderela perdeu seu sapatinho de cristal, sendo ele a única coisa que não se transformou de volta depois das batidas de meia-noite.

Eu apertei o desenho contra o meu peito, coloquei o celular para carregar e de deitei. Aqui parecia um sinal, mas sinal pra que? Nem eu sei. Eu só sabia que logo logo ia reencontrar o Ray. De uma maneira ou de outra.

𝐌𝐞𝐮 𝐚𝐦𝐢𝐠𝐨 𝐢𝐦𝐚𝐠𝐢𝐧𝐚𝐫𝐢𝐨Onde histórias criam vida. Descubra agora