XIX

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-Quando marquei com você pela manhã eu estava tão sem rumo que até me esqueci que tinha prova hoje. Preciso ir para a faculdade, ia ter que desmarcar com você de qualquer maneira. Ainda bem que como a tia marcou um compromisso para você, ficamos quites. -digo me sentando ao seu lado naquele sofá branco.

-Tem razão. -ele me encara, com aqueles olhos castanho escuros inquisidores, tão próximo, Rafael era mesmo um homem bonito sem sombra de dúvidas. -Então o que a deixou tão fora de si que marcou compromisso encima de compromisso? Você não é assim...

-Não sei nem por onde começar. Hoje foi um dia de bombas sendo atiradas em mim. -ele continua me olhando, querendo entender porque eu estava tão abalada. -Rafa, o prefeito não vai mais fazer aquela doação para o abrigo, não sei como faremos mês que vem para fechar o caixa. Ele também pediu para que o Arthur desse um jeito de me afastar do conselho e acabei de ser demitida da escola, vou apenas encerrar o ano letivo e serei desligada com o fim do contrato que não será renovado.-falo tudo isso, ora com um sorriso, ora com choro.

-O que foi tudo isso? Você fez algo com o prefeito?

-Aí que está, claro que não. Fui hoje abordá-lo em seu horário de almoço para tentar entender, porque desde que ele assumiu a prefeitura e fomos pedir para que ele continuasse com a ajuda que o antigo gestor doava, eu nunca mais vi esse homem, tampouco falo algo em seu nome, exceto, quando emitimos agradecimentos. Me ajuda a entender que rolo compressor foi esse que veio em minha direção. -ele está tão sem palavras e confuso quanto eu e só me olha de boca aberta. -Quero chorar.

-Então chora. Aproveita que estou aqui. -me deito em seu colo e enquanto ele acaricia meus cabelos, as lágrimas rolam. Ficamos assim, não sei exatamente por quanto tempo. -Jhú, não se preocupe com nada agora, temos reserva ainda por um tempo para o abrigo, as terras são da minha família, o que nos livra de aluguel ou impostos e qualquer coisa eu tenho uma reserva pessoal. Quanto ao conselho, você não é uma funcionária pública de licença?

-Sim.

-Então, resolvido escolha seu trabalho em alguma escola, assim você pode trabalhar inclusive em dois turnos, é verdade que não há outra escola particular, mas você pode trabalhar na prefeitura em duas cadeiras, só passar no processo seletivo.

-Você sabe que o salário e os benefícios, inclusive meu plano de saúde são muito bons, né?

-Dá para viver sem, mas que eu gostaria de entender tudo isso, eu gostaria. Parece até uma conspiração contra você. Então quando você fica sabendo de tudo isso, é informada que terá seu contrato encerrado...

-Você acha que tem relação?

-Estranho seria pensar que não.

-Verdade. Sempre cheguei atrasada, não mudei em nada, e sempre fui elogiada pelo meu excelente trabalho, inclusive em todas as vezes em que trabalhei após o expediente. Você acha que tem o dedo do prefeito nisso também?

-Os filhos dele estudam lá, não estudam?

-Sim, os mais novos do seu segundo casamento, mas não dou aula para os gêmeos, eles já devem ter seus 12 anos.

-Pode não ter haver com as crianças só com vc mesmo...

-Caramba formou 'A' teoria da conspiração hein? -dou uma risada.

-Desculpa, foi o que pareceu mesmo.

-Não descarto nada. Vou buscar a Ana na escola. -quando vou abraça-lo sinto uma vontade inexplicável de saber como seria seu beijo, o cheiro dele era tão perfeito. Eu nunca havia sentido isso antes. O que está acontecendo comigo?! Parece que ele percebe porque olha no fundo dos meus olhos, tão pertinho e soltando o abraço tão devagar.

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⏰ Última atualização: Nov 24, 2022 ⏰

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