IV

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Começo a tremer, não sei se de medo ou de desejo, pois estou sentindo ambas as coisas, mas ele para de olhar a minha boca e olha meus olhos e de repente sua expressão muda e ele me solta.
Fico aturdida sem nada entender, abaixo a cabeça e enquanto vou até a cozinha ele me segue. Abro a geladeira e encho um copo de água, sentindo aqueles olhos me seguindo, me encarando me queimando a pele.

-Por que você estava com medo? -Ele pergunta

Bebo toda a água com atenção redobrada para não me engasgar. E o olho nos olhos sem entender.

-De mim? -Ele continua, com aquele olhar inquisidor.

-Não sei do que está falando! Não tenho medo de ninguém sr. Netrurg!

-Mas poderia jurar que você queria que eu a beijasse, e olha que senti isso as três vezes que esteve próxima... - Ele pareceu ponderar consigo mesmo, só que em alta voz.

-Acho então que precisa consertar seu radar, pois ele está lhe enviando mensagens equivocadas!

-Meu radar? -Ele olha com as sobrancelhas levantadas e solta uma gargalhada tão gostosa!

-Do que está rindo? De mim? -Pergunto quase corando de vergonha, ou é raiva, ou excitação? Meu Deus o que está acontecendo comigo. Deve ser efeito tardio do vinho!

-Jamais! - E ri ainda mais alto. -Mas seu senso de humor é bem apurado! -Finalmente ele começa a diminuir as risadas e olha pra mim mais seriamente, mas ainda com o humor brincando em suas faces. -Obrigado de verdade, eu realmente precisava disso

Fico calada. Não havia o que dizer, parece que é doido! Mas toda essa presença também me deixa meio louca. Passados alguns minutos e três copos de água depois.

-Desculpa, mas você não me disse o que veio fazer aqui à essa hora. -Digo com curiosidade e também pra quebrar aquele silêncio pesado de nossos pensamentos.

-Ah sim. Você me desconcentrou. A Ana pediu pra dormir com você.

-Ela está aqui?

-Não. Vim buscar você. Pensei que poderia me ajudar, ela também não quer comer e eu não tenho paciência para as manhas que ela está fazendo. No tempo dos meus pais isso seria couro na certa! -Seu desabafo é tão gentil, que me comove. Então uma garotinha de seis anos deixa esse homenzarrão desse jeito! Que inveja dela! Eu o desconcentrei?! "Claro, recebeu o homem de calcinha e top"! Grita uma vozinha na minha cabeça.

-Me buscar?

-Sim. Ela não pode perder o hábito de morar em sua própria casa, por mais doloroso que isso possa ser agora! Apesar de que será por pouco tempo. -Passa a mão nos cabelos, jogando para trás.

-Sr. Netrurg, eu não posso ir. Tenho muitas coisas a serem feitas aqui em casa e...

-Me chame de Felipe, afinal não sou tão velho assim. Pensei que havia dito que a amava e queria cuidar dela! -Ele me interrompe. Me deixando aturdida, mal sabe ele que não dizia seu nome porque não me lembrava. Então é Felipe?! Hmm. Realmente quero cuidar dela, ela precisa e eu não posso ter sentimentos tão mesquinhos.

-Ela ainda está acordada?

-Já é a segunda vez que você menciona horas. Dorme tão cedo assim? Porque ainda não é oito e meia.

-Sério? Dormi tanto que pensei que fosse mais tarde.

-Deve ser o efeito do vinho. Vi que você acabou com uma garrafa. Está tudo bem? -Aqueles olhos analisadores estão de volta, achando que vai ler minha alma.

-Sim. Foi um dia pesado! Não gosto de cemitério e não gosto de multidões...
Mas já estou melhor.

-Ok. E então você pode me ajudar? A Ana me implorou para te buscar. -Será que ela realmente fez isso ou ele está usando de chantagem emocional?! Agora sou eu quem aperto os olhos o analisando.

A PROMESSAOnde histórias criam vida. Descubra agora