XIII

3 0 0
                                    

Pego o controle no painel acima da minha cabeça, abro o portão eletrônico da garagem. Faço uma manobra e estaciono o carro. Desço com minha bolsa e enquanto o portão se fecha lentamente, eu saio. Dou uma olhada pro carro preto à minha frente e vou até ele. Ele me vê se aproximar e desce. Parecia estar abatido.

-Aconteceu alguma coisa?

-Sim. Podemos conversar lá dentro? -Diz apontando para minha casa. Aceno com a cabeça e me dirijo à porta com as chaves nas mãos. -Você hoje me parece diferente... -Ele comenta assim que entramos, tirando uma mecha de cabelo do meu rosto.

-Deve ser o cansaço... -Respondo entrando

-Estou atrapalhando você?

-Não. Estou intrigada com sua visita. Aceita beber alguma coisa?

-Se tiver aceito um vinho por favor, a noite foi estressante. -A minha não foi. Logo penso, mas porque não finaliza-la com uma outra taça de vinho?

Pego as taças e o vinho no bar, e ofereço o sofá, me sentando no tapete à frente, ele imita e senta no tapete de frente a mim. Ambos estamos encostados no sofá, ele com as pernas esticadas e eu com as minhas cruzadas, numa pose bem adolescente.
Ele abre a rolha que faz um estampido abafado, e nos serve. Resolve que devemos fazer um brinde.

-À nós!

-A paz! -respondo e assim brindamos.

Ficamos um bom tempo em silêncio, estou tão cansada, não dormi à noite passada e agora aqui tomando esse vinho, sinto meus nervos relaxarem. Descruzo as pernas e deixo os joelhos dobrados, enquanto apoio meu pescoço e cabeça no assento do sofá. Quero que ele diga alguma coisa, se não vou acabar dormindo, mas é um momento tão sereno e mágico, que nenhum de nós parece querer quebrá-lo.

-Parece cansada...

-Estou. Não preguei o olho na noite passada. O dia foi corrido. E estou quase dormindo aqui. O que aconteceu Felipe? Algo grave? Algo com a Ana? -pergunto pausadamente e calma demais. Combinação vinho e cansaço.

-Tem sim haver com a Ana, mas não aconteceu nada grave. Eu tenho algumas empresas, e uma delas fez uma compra errada de um lote gigantesco de um material que não usamos, isto me custará uma pequena fortuna.

-Ah você é empresário. -afirmo

-Também. Como profissão e formação sou advogado.

-Ah sim. Dos bons?

-Acredito que sim. -ele sorri -Nosso escritório é um dos mais requisitados do mercado.

-Nosso? -falo devagar e não sei se escuto direito, o vinho está tomando meus sentidos.

-Somos uma equipe de associados, eu e outros colegas. -Confirmo com a cabeça e ele prossegue. -Mas o problema é que eu preciso ir à São Paulo amanhã resolver essa questão da minha empresa. Mas não posso deixar a Ana. Pensei em você pra me ajudar.

-Eu? -Nossa! estou com muito sono. Inclino um pouco pra frente e o olho diretamente nos olhos. Acho que não estou raciocinando mais com lucidez. -Felipe eu amo a Ana e faria qualquer coisa por ela. Mas eu trabalho em dois empregos, faço faculdade em outra cidade...

-A Cristina ficará com ela. Mas ela quer você. E ninguém se mostrou com tanto dom para contorná-la como você.

-A Cristina me odeia... -resmungo. Estou falando até o que não devo, pra uma pessoa com tanto sono. Não sei se deveria ter bebido na casa do Arthur, tampouco aqui.

-Odeia não. -Ele sorri e acaricia meu queixo. -O problema dela é que ela acha que gosta de mim.

-E não gosta?

A PROMESSAOnde histórias criam vida. Descubra agora