XI

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As crianças todas tinham aulas na parte da tarde, cada sala com divisão por idade e série, algumas por aproximação, ás vezes eram recolhidas crianças que nunca frequentaram, ou evadidos da escola, o que era mais comum. A organização do lugar era excelente, não a muito tempo o Rafael e eu consertamos muita coisa e fico feliz em dizer que fizemos um ótimo trabalho.
As meninas tinham dormitórios separados dos meninos, só ficavam juntos, na sala de aula, na hora de brincar sob supervisão e nas refeições. A partir de 14 anos as meninas ajudavam na preparação das refeições e os meninos no cultivo da lavoura, o sítio era muito grande, se produzia muita coisa, mas tudo para ser consumido aqui mesmo. Roupas, sapatos, livros e brinquedos ganhávamos de doações, já as doações em dinheiro e uma ajuda da prefeitura pagávamos o salário dos professores não voluntários e a condução dos voluntários, impostos, água, luz, gás e telefone, ás vezes, eu e o Rafa tirávamos do nosso próprio orçamento pois nem sempre as doações eram suficientes, ainda tinha as compras de supermercado do que não era produzido e outros gastos extras com remédios que sempre apareciam.
Os médicos eram voluntários, e o Rafa, como dentista tomava conta de todas as crianças sozinho, duas vezes por semana ele fazia isso. Ele deu a cara por esse lugar, por isso amo ele!
O lugar era grande, tinha dois andares, em cima ficavam os dormitórios e os aposentos dos funcionários que moravam lá, embaixo era o refeitório, salas de aula, cozinha e sala de televisão.
Passamos por todos sendo cumprimentados com carinho, alguns menores abraçavam as nossas pernas, aqui todos têm seus direitos e deveres, mas todos amavam estar aqui, já tivemos quase fugas, mas depois de serem tragos de volta e conversarmos, eles entendiam que estar aqui era o melhor, alguns voltavam pra suas famílias, outros eram adotados, outros depois de chegarem na maioridade, voltavam como voluntários. Isso era gratificante, eu como conselheira, sempre tinha contato com as novas famílias, mas pra ser sincera, cidade do interior, casos de adoção são raros, então ou os pais se reabilitavam e se tornavam aptos, ou as famílias pegavam, ou as crianças cresciam aqui. Por isso não incentivávamos a falar sobre adoção, não criando vagas expectativas.
Encontrei o Devyson e fui falar com ele, como ele está saudável, isso me deixa muito feliz.

-Olá anjo.

-Oi tia. -deu uma pausa. -Tia eu estou com saudade da minha mãe.

-Eu imagino meu amor, mas eu tenho notícias, ela está muito bem, tá bonita ela, por isso que você é bonito assim. -falei bagunçando seus cabelos. -Ela está trabalhando e logo vão poder deixá-la te ver e aí você mata a saudade dela.

-Ah sério tia?! Nossa. Estou muito feliz! -gritou me abraçando. -Eu vou poder morar com ela?

-Por enquanto não. Eu sinto muito, mas um juiz vai analisar tudo pra saber se você pode voltar a morar com ela.

-Por quê?!

-Para assegurar que você vai estar bem cuidado, que aquelas coisas ruins nunca mais irão acontecer. Entende? Estamos preocupados com o seu bem-estar. Queremos que você seja muito feliz. Assim que for liberado ela pode te ver e vocês matam a saudade. Tá bom? -ele acenou afirmativamente com a cabeça e me abraçou.

-Mesmo assim estou feliz tia, agora eu sei que ela está bem e que pode me ver. Vou me comportar direitinho pra ela ter orgulho de mim.

-Nossa que lindo isso! Ninguém nega que você já é um homem. E eu tenho orgulho de você, tá?

O abracei muito forte e ficamos assim, até o Rafael me chamar.

-Podemos conversar?

-Claro. Vai brincar Devyson, te vejo na hora do almoço.

-Você vai almoçar aqui tia? -perguntou animado, arregalando os olhos, já que isso não é muito comum.

-Sim -disse sorrindo e confirmando com a cabeça.

A PROMESSAOnde histórias criam vida. Descubra agora