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Ela abre o portão e eu estou chocada com a mudança, nem parece a mesma que vi há seis meses. Seus cabelos estavam limpos e brilhantes presos a um coque, seu rosto tinha cor e emanava um aspecto saudável, apesar de nenhuma maquiagem. Seus lábios não estavam mais rachados e em seus olhos tinham brilho, brilho de vida tão diferentes daqueles de antes.

-Senhora. -ela me cumprimentou com animosidade, óbvio que me culpava por ter levado seu filho.

-Precisamos conversar. Estou ciente que está no seu trabalho e aqui na rua seria desconfortável, quer entrar no carro? -ela balança a cabeça positivamente.

Permito que o Arthur conduza sua entrevista, pois não quero bancar a legal com ela e com meus nervos aflorados como estão, não sei como controlaria meu temperamento.

-E então pode me contar suas novidades?

-Me internei, fiquei três meses lá, voltei disposta a mudar e não me drogar mais. Fui ver meu filho várias vezes e não deixaram. -ela me lança um olhar de ódio. Eu devolvo.

-Sabemos que esteve lá. Porque queria vê-lo Rosália? -pergunta o Arthur.

-Porque ele é meu filho, por que sinto muitas saudades, porquê preciso dele pra recomeçar e preciso pedir perdão.

-Você precisa dele?! - interrompo raivosamente. -E você não supunha que ele precisava de você?

-Sei que sim, por isso preciso pedir perdão, eu vivi morta durante aquele tempo e...

-Quase o matou também! -disparo.

-Eu sinto muito. -seus olhos se enchem de lágrimas e eu me sinto uma carrasca, mas não paro nem quando o Arthur me dá um toque disfarçado no braço.

-Infelizmente senhora, sentir muito é pouco, se não tivéssemos chegado a tempo SEU filho teria morrido de inanição, sua pele já estava ressecada e seus rins já padeciam, foram precisas muitas vitaminas, soros, remédios e muito carinho e amor da parte de todos da equipe para que ele se reestabelecesse, você tem ideia de que ele pesava 21 kg? Peso de uma criança de três, quatro anos! -desabafo.
Ela chora ainda mais e eu não me importo. Aliás, prossigo.

-Você pode até me odiar, como demonstra em seu olhar, mas não me importa, fico feliz em ter salvo a vida dele e mais feliz por saber que aquele tempo podre e sombrio não o corrompeu. Ele é uma criança doce, gentil e grata, apesar de tudo o que passou. Espero de coração que você tenha mudado, não por você que é adulta e escolheu aquela vida, mas por ele, que é uma criança e sente sua falta, ele te ama, se não tem forças para mudar por você mude por ele, ele merece o melhor de você, dê a vida digna que ele merece.

Ela me olha nos olhos com o rosto coberto de lágrimas, mas aquilo não me comove, sou defensora das crianças por serem os mais fracos e os que mais sofrem nestas situações.

-Sinto muito, quero realmente mudar por ele. Ele é meu único pontinho de esperança.

-Amanhã começa sua audiência, será apresentada ao juiz da segunda vara de infância e juventude, ele espera mesmo que tenha mudado, aliás onde está seu companheiro?

-Não sei muito sobre ele, tivemos algumas brigas onde acabei espancada e quase morta, soube por algumas pessoas que ele está internado em um sítio para recuperação, mas não tenho como ter certeza.

-Não sei se isso é bom. -diz o Arthur. -Então, amanhã sua audiência será as 13:00, não deve se atrasar.

-Ás 13?! -pergunto ao Arthur -Você sabe que eu não posso.

-Sei, mas você sabe que não sou eu que decido sobre isso, e representarei você. -ele diz atencioso.

-Obrigada, te ligo amanhã a tarde, quero ficar por dentro dos detalhes.

A PROMESSAOnde histórias criam vida. Descubra agora