Um

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Marinette podia ser muitas coisas.

Ela era uma excelente pianista e tocava violino majestosamente. Dançava e cantava com excelência. Era uma boa ouvinte, ótima companhia. Bordava e pintava muito bem. Além disso, sabia cavalgar, já havia praticado esgrima (um esporte que seu pai praticamente a obrigou aprender) e cozinhava os melhores macarons que alguém poderia desejar comer.

Sim, ela era a personificação de sucesso e perfeição, mas uma coisa que não era é tonta.

Estar ali, prestes a entrar naquele salão de baile onde realmente, definitivamente, entraria para o "mercado de casamento" a causava um sentimento desesperador de descontentamento e nojo.

Ela não entendia como as pessoas podiam ser tão mente fechadas a ponto de não perceber que cada mulher que entrasse por aquela porta adornada, seria objetificada e tratada como uma mercadoria qualquer, onde seus pais as venderiam para desconhecidos para que pudessem procriar, cuidar da casa e ser a esposa perfeita, enquanto o homem não se esforçava ao mínimo para receber a companhia de tal dama.

O pior é que as outras garotas não pensavam como ela. Elas não ligavam de serem diminuídas e descartadas tão facilmente.

Aquilo era uma balbúrdia.

Marinette ajeitou o belo vestido que usava, passando a mão pelo tecido de seda para desamassa-lo, após sair da carruagem com a companhia de sua irmã Bridgette.

- Você consegue! - Bridge passou seu braço por debaixo do dela e sussurrou em seu ouvido.

Marinette suspirou, recobrando a postura que precisava ter e começou a caminhar com a irmã até aquela multidão e as luzes.

Esse era o segundo ano de debuto de sua irmã. Bridgette escolheu permanecer mais um ano sem se casar para acompanha-la na aventura que seria entrar para a alta sociedade de Paris. Apesar disso, o casamento de Bridgette já estava mais que certo. Ela e o visconde de Vanilly haviam se entendido muito bem na temporada passada e, por sinal, foi ele quem sugeriu, juntamente a própria irmã, que Bridgette deveria permanecer nessa temporada para que Marinette tivesse esse apoio e companhia no primeiro ano.

Ela não podia negar, se contentava que a irmã havia encontrado um homem realmente capaz e eficiente em seus parâmetros de "excelente marido". Ela gostava de Félix. Ele a tratava como uma irmã mais nova, apesar de que isso, certas vezes, era irritante.

Ao entrar naquele salão, Marinette tentou reparar em todos os rostos que marcavam presença ali. Os rostos conhecidos e desconhecidos. Ela deu um passo à frente da irmã, descruzando seus braços e sendo automaticamente apresentada como uma das jovens que estaria à disposição nessa temporada. Seus pais entraram logo atrás e Félix se juntou a Bridgette em um piscar de olhos. Hoje era a tacada inicial.

Ela e sua família se dirigiram para próximo da pista de dança, onde eles ficariam até o final da noite, para que os pretendentes de Marinette pudessem ir lá e assinar seu cartão de dança e conversar com Tom Dupain-Cheng, o responsável quem permitiria qualquer ato pela sua filha.

Alguns minutos se passaram. Minutos que se assemelhavam a horas intermináveis. Marinette não aguentava mais sorrir daquela forma extravagante e falsa. Ela só queria poder fechar o rosto, rir dos homens com perucas ridículas e, de certa forma, ser despudorada ao expulsar os homens que iam conversar com seu pai e fingiam sua inexistência, mesmo que o assunto da conversa fosse ela. "Cadê o cavalheirismo?!" - ela pensou de forma irônica.

Não, não existia educação ou cavalheirismo ali no meio. Na verdade, só existia orgulho, presunção e um respeito que só existia para evitar desavenças entre as famílias mais poderosas de Paris. Ninguém gostava daquilo. Tudo era meramente suportável, nada mais, nada menos.

SaudaçõesOnde histórias criam vida. Descubra agora