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— Você poderia caminhar mais devagar? Já viu o tamanho das suas pernas comparadas a minha? Toto!

Pietra ralhou pelo saguão da fábrica em Brackley atraindo para a sua direção o que mais odiava. Olhares. Ele estava a cinco passos de distância, Pietra o seguiu puxando a mala que mais parecia ter chumbo do que roupas.

— Está fora de forma para andar rápido, mas não está para subir em uma moto? — Riu — Você é uma piada, Pietra.

— Ainda está ressentido com isso? Pelo menos em uma moto, eu não preciso andar! — Ela retrucou.

Esperava não se arrepender de ter aceito o convite, mas lá no fundo estava se sentindo bem de ter aceitado.

Phill sempre sugeriu que Pietra encontrasse um namorado ou saísse para fazer amigos, mas as duas opções eram recebidas com caretas e comentários sarcásticos pela jovem mulher.

Pietra não precisava de ninguém dentro do mundo dela e afastou a todos. Aquele lugar cinza, quebrado, monótono, cruel... Ela não tinha amigos além de Phillip, Toto e Susie, mas sentia-se bem na companhia dos livros e do velho piano que era de sua mãe.

A jovem não contava que a sua primeira parada em solo britânico fosse diretamente na fábrica da equipe alemã, esperava que Toto fosse diretamente para casa.

— Boa tarde senhor! — Uma mulher ruiva com o nome Miriam no crachá parou Toto e Pietra no caminho. Ela estava nervosa. — Perdão informar tão em cima da hora, mas surgiu uma reunião de emergência. Estão te aguardando na ala leste.

— Tudo bem, avise que já cheguei e estou indo. — Ele se virou para Pietra e disse tirando umas chaves do bolso: — Pode ir para a minha sala, descansa um pouco e eu te encontro lá depois da reunião.

Pietra confirmou balançando a cabeça e pegando as chaves. Ela precisava jogar uma água no rosto e descansar para tentar se livrar da sensação nauseante que ganhou com o voo.

O corredor do andar onde a sala do chefão se localizava estava vazio. Ela alcançou a maçaneta e entrou, olhou ao redor até seus olhos recaírem nas fotos em cima da prateleira de vidro.

Pietra se aproximou com curiosidade se arrependendo do ato assim que reconheceu as pessoas nas fotos.

Seus pais. Toto e seus pais. ela com Toto e Susie. Seus pais e ela.

O avalanche de memórias a fizeram fechar os olhos que começaram a arder diante das imagens. Pietra levou a mão trêmula a um dos portas retratos e sentou no pequenos sofá, era uma fotografia de Toro junto com seus pais, todos ainda jovens demais. Pietra sequer existia naquela época.

Os sorrisos largos enfeitavam os rostos, eles estavam felizes.

Wolff e os seus cabelos rebeldes como sempre, Henry e o seu gosto duvidoso para a moda e ao lado do homem, Selina, esplêndida como uma modelo.

Pietra traçou com as pontas dos dedos o rosto das pessoas que deixaram esse mundo de uma forma precoce e devastadora.

Fechou os olhos engolindo em seco e foi apenas questão de segundos para que ela voltasse ao fundo daquele poço. Sem ar, sem forças... o seu coração batia além dos limites do seu corpo e as lágrimas grossas molhavam o rosto pálido.

Sem sobreviventes.
Sem sobreviventes.
Sem sobreviventes.

O coração dela se espremia como se pudesse desaparecer do peito. Ela estava longe, bem no fundo daquele oceano, junto aos seus pais... até que uma voz, um timbre suave, um pouco rouco alcançou a escuridão em que estava desaparecendo.

Ei, respire fundo. — Ela tentou fazer. Sendo guiada pela voz. — Isso, continue respirando fundo. Estou aqui, pode abrir os olhos, por favor?

E ela abriu.

Os olhos de tons avelã mirava seu rosto com preocupação. O pequeno corpo de Pietra tremia e ela não se deu conta que estava com as mãos fechadas agarradas ao porta retrato.

O homem a abraçou aquecendo o corpo dela como se pudesse a envolve-la em um casulo de proteção. Quando ele se afastou para encara-la mais uma vez o choro já havia cessado. Pietra uniu as sobrancelhas e tentou formar palavras que pudessem se explicar, mas foi interrompida por ele.

— Não precisa falar nada. Vai ficar tudo bem.

Lewis Hamilton, o seu primeiro amor, estava bem ali diante dela tentando acalma-la.

A porta fora aberta de forma abrupta. Toto Wolff passou por ela ofegante.

— Pietra! Me desculpa, eu... — Tentou formar qualquer frase, mas desistiu.

Se aproximou dela, agachando em sua frente vendo o que estava entre suas mãos. Toto se praguejou mentalmente por ter esquecido aquele detalhe em sua sala. Correu feito louco quando se deu conta do erro.

Pietra só sacudiu a cabeça negando, ela não estava chateada, ela só não estava pronta... nunca esteve e não sabia quando estaria.

Seus olhos encararam o piloto mais uma vez antes que ele deixasse a sala, ela emitia um pedido de agradecimento de forma silenciosa através deles na esperança de que ele ainda pudesse decifra-la como ninguém jamais fizera.

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