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Desde o dia em que tudo em sua volta ficou cinza, Pietra Barkin só tinha uma âncora para se agarrar: manter o legado de seus pais seguro. Sendo assim, ela esmagou todos os seus sentimentos para se dedicar ao estudos e aos papéis burocráticos.

Sem amigos, sem diversão, nada que trouxesse distrações.

Foi assim que se fechou no fundo do poço, com suas crises de choro, com seus medos... era só ela e a dor. Quem poderia salvá-la de si mesma? Nem Toto, Susie ou Philip conseguiam romper a barreira da menina.

Levou alguns anos e terapias para que finalmente ela cedesse e começasse a ser o seu próprio perigo, colocando-se em situações arriscadas e machucando as pessoas que se importavam com ela, até finalmente decidir que poderia doer nela, desde que não doesse neles.

Sair do casulo poderia ser mais difícil do que parecia e o seu processo estava apenas começando.

Remexeu os cabelos em frente ao espelho e analisou a roupa. Estava confortável, não queria parecer tão arrumada, mas gostou do que viu no reflexo à sua frente.

Pegou o sobretudo marrom de cima da cama e saiu, vendo a mensagem do piloto avisando que já estava esperando do lado de fora. Pietra pediu para que Lewis não entrasse, ou não sairiam daquela casa tão cedo.

Ela encontrou Toto e Susie no sofá debatendo sobre um assunto particular, e era engraçado como a mulher sempre tinha os melhores argumentos.

— Estou saindo! — Avisou.

O homem parou imediatamente e a encarou.

— Para onde e com quem?

— Para a casa do Lewis, com o Lewis. — Piscou e saiu antes que o interrogatório começasse, mas antes viu Susie sorrir e direcionar o polegar para ela, enquanto Toto protestava com uma carranca se formando em seu rosto.

Na sala da casa Wolff, o casal levantava uma pequena discussão.

— Mandei Pietra fazer amigas. — Toto contestou. — Lewis? Sério?

— Não seja careta, querido. E tem mais, a aproximação seria inevitável. Eles se gostam desde novinhos!

— Tem razão... — Se deu por vencido. — Ao menos já são adultos. Não preciso me
preocupar ou preciso?

— Não vai poder protegê-la do mundo para sempre. Vocês dois se parecem tanto, até na teimosia. — A loira riu e acariciou o ombro do marido, depositando um beijo em seu rosto e saiu. — Vou olhar Jack.

Toto Wolff apenas suspirou, concordando.

§

O ambiente estava aconchegante e quentinho, diferente da noite gélida lá fora que sentiu beijar seu rosto assim que desceram do carro.

— Aceita alguma coisa para beber? — Ele estava nervoso.

— Não posso beber. — Pietra disse, encarando a estante de livros. Lewis gravou a primeira frase em seu consciente. — Gosta de ler?

— O decorador disse que seria interessante. — Riu se aproximando com as mãos no bolso. — Estou brincando. Não que eu tenha muito tempo, mas já li alguns. Ganho muitos livros, então precisava de um lugar para eles. Você gosta de ler?

— Sim. Leio de tudo, mas a fantasia sempre ganha. Livros são os meus passaportes favoritos para fora da realidade, eles me salvaram algumas vezes. — Disse a última frase para si.

Lewis não saberia o que dizer, permaneceu calado, observando a mulher passar os dedos pelas lombadas dos livros na estante.

Ele gostava de como ela não parecia acanhada ou com vergonha dele. O jantar foi servido, e ambos seguiram para a cozinha. O assunto girava de forma aleatória. Lewis esperaria Pietra sentir-se confortável para falar, a ansiedade em seu peito castigava o piloto, mas estava disposto a respeitar o tempo e o espaço dela.

satellite | lewis hamilton Onde histórias criam vida. Descubra agora