— E isso é tudo.
Toto deixou que o ar pesado saísse por seus lábios e mirou o carpete cinzento. O monólogo dramático de como atendeu o pedido desesperado de dois amigos levou o homem a remexer as lembranças.
A saudade e a dor do luto que ele não se permitiu, todas aquelas coisas caindo sobre ele como um avalanche a cada frase que remexia o passado.
Pietra o encarava fixamente, sem conseguir pronunciar nenhuma palavra.
— Mas sabe, Pietra? — ele voltou a falar. — Não me arrependo. Foi devastador para Henry se descobrir estéril. Ter uma família era o sonho da vida dele. Ele era tão jovem, mas aquele cara tinha todos os seus propósitos de vida bem estabelecidos. Parecia até... — a voz pausou com um certo peso e ele concluiu. — Parecia até que ele previa que teria um tempo curto.
Pietra suspirou sentindo os olhos esquentarem.
— Bom, naquela época não era tão fácil ouvir sobre inseminação e o banco de doação limitando... eles teriam que aguardar mais tempo e em tão recorreram a mim. — Toto continuou a explicar.
— Isso tudo é...
— Absurdo?
— Não! Quero dizer... estranho! — Disse Pietra unindo as sobrancelhas. — Mas conhecendo a amizade de vocês e a excentricidade dos meus pais, bom, não é difícil de acreditar.
Ela riu. O som do riso nasalado pegou o homem de surpresa, não esperava que Pietra reagisse bem.
— Faria tudo de novo por eles. Pode parecer maluquice, mas isso deu a eles a oportunidade de viverem todas coisas que sonhavam viver... Tiveram a oportunidade de de ter você.
— Mas você nunca pensou que um dia eu ficaria sabendo? ou pretendia viver com isso guardado para sempre?
— Não sei, Pie. Um dia você teria que saber, só não queria que fosse dessa forma.
— Sabe que sempre achei estranho o fato dos meus cabelos serem absurdamente pretos com um pai loiro e uma mãe castanha? Agora faz sentido.
Pietra segurou o riso com a mão e Toto a acompanhou, as coisas estavam amenizando entre eles.
— Então, ainda me odeia?
— Não te odeio, estava chateada! — Ela levantou-se e sentou ao lado dele. — Você é o melhor amigo, Toto e eu senti muito a sua falta.
— Achei que o seu melhor amigo fosse o Lewis. — Disse o homem enrugando o nariz.
— Já está velho para ter ciúmes.
— Assim você me ofende, Pietra. — Ele levou uma das mãos ao peito fingido.
Ambos gargalharam da cena dando lugar a um abraço meio desengonçado.
— Também sentir a sua falta, encrenqueira.
Pietra sorriu contra o abraço. O seu coração se encontrava em paz como se repousasse em uma pluma. Toto também estava satisfeito com o feito naquela noite, agora finalmente conseguia respirar aliviado.
— Toto? — Ela chamou saindo do abraço. — Acho que precisarei de um tempo para me acostumar, então, não se sinta mal se caso...
— Pietra, não quero que se sinta pressionada a me chamar de pai. Henry sempre será o seu pai. Só isso importa.
— Eu sei, é que eu quero fazer isso.
O rosto dele ficou surpreso.
— Mas talvez leve um tempo.
— Tudo no seu tempo, então.
— Você sempre foi como um pai, Toto. Um pai bem chato, mas sei que tudo não passava de preocupação.
— É que você também não ajudava. — Ele resmungou. — Mas tudo bem, Pie, leve o tempo que for necessário para se acostumar e mesmo se chegar a conclusão de que não vai conseguir fazer, não ficarei chateado.
— Obrigada. — Ela recostou a cabeça no ombro dele. — Obrigada por tudo.
§
A corrida aconteceu, a equipe da estrela prateada tivera algumas evoluções, mas não era suficente para Lewis.
Pietra notava como o semblante do namorado se perdia em preocupação olhando o horizonte da sacada da cobertura no país atual onde outra corrida aconteceria em breve.
— Por onde anda esses pensamentos? — Ela sentou-se no colo dele, Lewis escondeu o rosto no pescoço da mulher inalando o cheiro de frutas vermelhas.
— Nessa linda mulher em meu colo.
Pietra o encarou.
— Não precisa mentir. — pincelou o nariz dele com a ponta do dedo indicador.
— Não é mentira, estou sempre pensando em você.
Um selinho molhado alcançou os lábios de Pietra.
— O seu plano deu certo. Consegui conversar com Toto.
— Que bom! Não aguentava mais vocês dois naquela atmosfera horrível.
Pietra sentiu as mãos tatuadas afagarem a sua coxa. A pele exposta pelo short se arrepiou e não passou despercebido por Lewis.
Ela voltou o seu rosto para a curva do pescoço do homem, a respiração roçava a pele sensível do local o que fez Lewis apertar levemente a perna dela. O calor subiu pelo colo de Pietra com o movimento dele e ela arfou.
— O que acha de terminar isso lá dentro? — A voz dele saiu arrastada.
— Você tem todas as melhores ideias.
Ela riu baixinho beijando e mordiscando o pescoço de Lewis e os dois seguiram para o interior do quarto trocando carícias, esbarrando na mobilia no local.
A luz rosada do céu entardecendo fazia o filtro perfeito para a intimidade trocada entre o casal.
Os beijos lentos ganharam a agilidade e entre eles podiam ouvir pequenos gemidos vindo de ambos em meio as carícias. Ela gostava da sensação que seu corpo expelia aos toques de Lewis, ela era dele, sempre foi e sempre seria.
A bagunça entre os lençóis brancos, o suor dos corpos e todos os ruídos emitidos enquanto se amavam era a evidência da perfeição. Pois não existia mais mundo quando seus corpos se conectavam.

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satellite | lewis hamilton
FanfictionQuem poderia salvar a sua alma de sucumbir? Ela encontrou as respostas nos braços de um amor do passado e nas escolhas que teria que fazer para finalmente respirar livre.