No saguão onde todos estavam se despedindo, Lewis observou de longe a interação entre seu chefe de equipe e a jovem, agora mais calma.
O piloto estava a procura de Toto quando notou a porta aberta e um choro baixinho vindo de dentro da sala. Lewis entrou e não acreditou no que estava diante dos seus olhos, era ela, depois de muitos anos... de carne e osso. Pietra Barkin.
O estado caótico em que a encontrou fez com todo o seu interior se contrair. Ainda estava lá, aquela fagulha de preocupação, aquele sentimento aquecendo-o como se ainda fosse aquele adolescente bobo apaixonado.
Lewis só agiu, afastou todos os pensamentos negativos sobre o passado, a mágoa e agiu. Se aproximou e só tentou trazer-la para a realidade em meio aquela crise.
— Se não parar de olhar naquela direção vai acabar babando! — Ouviu a voz de Angela. — Quem é a novata? Muito bonita!
Diferente de quem costumava ser, agora Pietra ostentava um semblante pálido, olhar distante e sorrisos que não chegavam até os olhos, mas para ele, ela era bela como uma noite estrelada mesmo estando tão quebrada.
— Larga de ser fofoqueira, Ange! — Riu.
— Mas oque?! — A fisioterapeuta retrucou. — Você que está aí bisbilhotando e eu que sou a fofoqueira?
— Pietra Barkin. — satisfez a curiosidade dela.
— Aquela Pietra? A filha dos... — Não completou a frase.
Lewis olhou para ela apenas anuindo com a cabeça. A mulher franziu o cenho olhando para a mesma direção que ele olhava antes.
Ela sabia o que havia acontecido com a garota que perdera os pais tão jovem e se fechou para o mundo. Se fechou tanto que afastou todas as pessoas, incluindo o homem parado a sua direita observando-a do outro lado do saguão.
Angela jamais revelaria a ele sobre todas as vezes que já tinha visto o nome da jovem Barkin na barra de pesquisa do google em seu celular, o que levava a loira a desacreditar que aqueles sentimentos fora apenas uma paixãozinha de adolescência.
§
O cheiro de comida caseira estava por toda casa quando Pietra fechou a porta atrás de si, deixou as malas na sala e correu em direção a cozinha.
A mulher concentrada em mexer as panelas, se atentou aos passos e virou-se encontrando a moça emocionada, com os olhos cheios de lágrimas que poderiam ser de saudade.
— Susie! — Choramingou abraçando a senhora Wolff. — Que saudades!
— Se você chorar, eu vou chorar, e eu já chorei o suficiente cortando cebolas para preparar o seu prato favorito. — A mulher brincou acariciando os cabelos de Pietra. — Também estava com saudades, Pie. Agora pode começar a dissertar a sua defesa.
Susie se afastou cruzando os braços para encara-la. Pietra riu pequeno colocando uma mexa do cabelo atrás da orelha.
— Quando vocês vão parar de me tratar igual a uma criancinha? — Apontou para Toto parado na porta da cozinha com os braços cruzados. — Sabem que estão exagerando, não sabem? Não preciso que banquem o super-heróis comigo. Eu estou bem!
Susie levantou as mãos em rendição.
— Paro de trata-la como criança quando parar de agir como uma inconsequente. — Toto deu de ombros passando pelas mulheres para abrir a geladeira.
Pietra suspirou.
— Eu prometo que não farei mais coisas burras! — Levantou a mão como se estivesse jurando diante de um tribunal.
— Acho bom. Sorte que sou loira e dá para esconder os fios brancos que você me causa. Toto não pode dizer o mesmo.
Susie riu ganhando um revirar de olhos da moça, um murmúrio do marido e voltou para as panelas.
— Onde está Jack? A casa está silenciosa demais.
— Dormindo depois de todo cansaço das aulas de natação.
Pietra assentiu.
— Preciso de banho e algumas horas de sono. — Soltou beijos na direção da loira e se retirou. — Vou subir.
Pietra sabia que Toto iria contar sobre o episódio no escritório, eles eram a única coisa que se aproximavam de uma família para ela, então compreendia toda a preocupação.
Ambos eram seus padrinhos, mas agiam como se fossem seus pais. Embora aquele lugar jamais pudesse ser m preenchido, talvez fosse bom se permitir ter conexões mais profundas com aquelas pessoas que a amava.
Seguiu pelo corredor famíliar para o quarto que ficara antes. Só queria umas horinhas de sono para desacelerar seu coração, sentou na cama e fechou os olhos massageando as têmporas.
Os olhos castanhos logo se fizeram presente em seu imaginário, Pietra arfou sentindo a culpa consumi-la. Aquela aproximação, o cheiro dele, a voz... tudo ainda agitava as coisas dentro dela como no dia que trocou as primeiras palavras com Lewis, o garoto prodígio que ela sempre observava de longe no paddock.
Ele não entenderia que ela só queria protege-lo da casa oca, rachada e vazia que se tornara. Por isso rejeitou as ligações e todas as vistas.
A garota alegre, sorridente a qual ele chamara de sol não existia mais.

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satellite | lewis hamilton
FanfictionQuem poderia salvar a sua alma de sucumbir? Ela encontrou as respostas nos braços de um amor do passado e nas escolhas que teria que fazer para finalmente respirar livre.