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Embora a casa estivesse fechada, o cheiro no ambiente era agradável. Pietra passou a mão em cima do móvel de madeira e não encontrou sinal de pó.

— Está tudo tão conservado. — Lewis disse atrás dela.

Ele olhava em volta curioso como uma criança.

— Com certeza, Toto deve mandar uma equipe de limpeza aqui, bom, faz tanto tempo desde a última vez que pisei meus pés nessa casa que não lembrava mais quais poderiam ser as cores da paredes. — Suspirou. — Só acho que tinha mais fotos.

Seus olhos encontraram apenas pinturas. Lewis se aproximou a envolvendo em seus braços, ela recostou a cabeça no peito do piloto e fechou os olhos.

— Se sente bem?

— Sim. — Virou-se para ele. — Agora percebo que fui uma tola em me afastar de todas as coisas sobre eles.

— Cada pessoa reage a dor de uma forma. — Pincelou o dedo no nariz dela. Ainda parecia um sonho vê-la ali parada na sua frente. — Que tal experimentar focar no presente?

— Você deveria ser coach e não piloto. Sabia? — Ela revirou os olhos sorrindo.

Lewis riu daquela forma que ela amava, alargando os lábios e fechando os olhinhos.

— Vamos olhar o resto da casa. — Pietra saiu puxando-o pelas mãos. — Toto ficou surpreso quando pedir as chaves. Surpreso e curioso! Ah, aquele velho...

— Vocês tem uma relação muito bonita.

— Ele vive me atormentando, mas eu sei que é só preocupação. Devo muito a ele e a Susie. — Ela parou no corredor e abriu uma das portas. Era uma biblioteca.

Ela arfou e puxou o ar de volta para os pulmões. Os móveis em madeira brilhavam e a enorme estante preenchiam uma das paredes indo até ao teto, contando com uma escada de correr para auxiliar no alcance dos livros.

— Bem-vindo ao paraíso.

— É incrível. — Lewis não sabia o que era mais admirável. O ambiente clássico como se tivesse sido tirado de um filme de época ou brilho nos olhos da mulher a sua frente tocando em cada coisa como se pudesse sentir as memórias do lugar com a ponta dos dedos. 

Mas Pietra não se demorou muito ali. Ela arrastou Lewis para mais um cômodo com um sorriso sorrateiro no rosto. Abriu a porta de um quarto enorme coberto por tapeçarias e persianas grossas e bordados dourados.

Um quarto digno de realeza. Lewis pensou. Mas era exatamente assim chamavam os Barkins pelos corredores da equipe alemã. A realeza do Paddock.

— Aqui era o quarto dos meus pais. — A ausência de dor em sua voz deixou o homem relaxado. — Mas o que eu quero que veja está aqui.

Ela caminhou até uma porta de correr que levava a um anexo. Os olhos de Lewis brilharam como os de Pietra ao ver os livros.

— Isso aqui é um santuário! — Ele exclamou.

A sala parecia uma verdadeira exposição de relíquias da fórmula 1. Um museu. Tinha de tudo! Capacetes de antigos pilotos, macacões, fotos, autógrafos...

— Lembro que papai sempre mantinha esse lugar fechado. Segundo ele, eu era muito curiosa. Uma vez peguei um capacete para brincar e quando ele me viu achei que ia desmaiar. O homem ficou pálido! — Ela abraçou o próprio corpo alisando os braços e riu da lembrança olhando para as coisas ali postas em maior cuidado e delicadeza.

O sentimento maior era pura nostalgia.

§

Pietra deixou um Lewis encantado como a sala de coleções do seu pai e saiu voltando para o quarto.

A sua curiosidade a levou até o closet da mãe e tudo estava lá, cada roupa e todas as peças das grifes mais famosa do mundo. A mulher era louca por marcas de luxo, principalmente bolsas.

Pietra se aproximou do armário de bolsas com portas de vidros e abriu. Admirada com cada detalhe e se voltou para os vestidos, passou a mão pelas sedas finas e abriu os cabides para conferir as etiquetas até os seus olhos baterem em algo.

Um compartimento no estilo cofre estava lá. Pietra se agachou na frente do retângulo em cor de chumbo e abriu a tampinha revelando os botões e uma pequena tela digital.

Deveria ser onde a mãe guardava algumas joias casuais para o dia-a-dia. A senhora Barkin era pura vaidade. Pietra sentiu a curiosidade se apossar dos seus sentimentos e pensou em tentar abrir o cofre.

Seu aniversário. Negado.
O aniversário do seu pai. Negado.

Uniu as sobrancelhas grossas pensando. O que poderia ser? Então decidiu tentar os dois primeiros números do aniversário do seu pai junto ao seu e ouviu a porta destravar.

— Mamãe não era nada criativa — Resmungou balançando a cabeça.

A jovem remexeu o pequeno compartimento e encontrou estojos de jóias como havia previsto e alguns talões de cheque em branco, mas um envelope branco no fundo da caixa metálica chamou a sua atenção. Pietra o puxou e sentou-se no carpete.

Era curiosa demais pra não conferir o conteúdo, e então, puxou o bolo de papéis de dentro do envelope. Seus olhos passaram sobre a logo no papel que parecia ser de uma clínica médica.

— Ela estava doente? — se perguntou, arqueou uma das sobrancelhas e continuou a sua leitura rápida com os olhos.

Não entendia algumas coisa. Eram exames e a maioria deles de sangue. O nome de sua mãe estava na maioria, passou mais páginas e encontrou o de seu pai também, mas não esperava o que veio na página seguinte.

Torger Christian Wolff

Eram exames de sangue de Toto.

Pietra uniu as sobrancelhas em puro questionamento. O que aquilo estava fazendo junto aos exames de seus pais? Bom, eles sempre foram amigos, poderia ser algo que acabou parando ali por acaso. Ela concluiu em pensamento.

Continuou a sua busca por respostas e no momento em que seus olhos passearam sobre as palavras, Pietra desejou nunca ter pego aquele envelope.

Uma de suas mãos estava trêmula segurando as folhas brancas e a outra foi parar em cima de seu coração que batia freneticamente. Tão rápido e forte que doía.

— Doador saudável. 100% compat-ivél. — Gaguejou. — Meus Deus. Meu Deus. Meu Deus!

Talvez sua voz tenha saído alto demais, pois Lewis entrou no closet assustado.

— Não pode ser. — Ela encarou ele com o rosto banhado em lágrimas. — Lewis...

Ele se agachou na sua frente segurando os ombros dela que chacoalhavam na intensidade do choro.

— Amor? Olha pra mim. O que aconteceu? — Lewis afastou os fios de cabelo desgrenhado do rosto úmido.

Pietra empurrou os papéis na direção dele, ela não conseguia verbalizar, sentia que seu peito poderia explodir a qualquer momento.

Lewis leu por cima algumas páginas.

— Aqui diz que seu pai era infértil, mas... — Disse sem pensar e então logo começa a liga os pontos quando leu na outra página o nome do chefe da sua equipe equipe e logo embaixo a assinatura dele como doador para fertilização in-vitro.

— Pietra...

Ele soltou os papeis e a abraçou apertando-a em seus braços, tentando amenizar a confusão que ele sabia ter sido instalada no interior dela.

— A minha vida é uma mentira, Lewis. — Soluçou alto.

Partiu o coração dele vê-la daquele jeito. Nem sabia o que dizer, estava surpreso, mas ela estava em choque.

— Eu sei que tudo vai ficar bem. Shhh...

— Eles não podiam me esconder uma coisa dessa, não podiam. Eu...

Lewis ouviu a respiração dela ficar mais forte e de repente o corpo de Pietra amolecer sobre seus braços.

satellite | lewis hamilton Onde histórias criam vida. Descubra agora