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Catar, 2022
Ao mesmo tempo que eu considero a minha mãe como a melhor do mundo, eu também reconsidero com ela sendo a pior.
Cai entre nós, todas as minhas inseguranças surgiram por culpa dela e isso me destrói aos pouquinhos.
Fala sério, eu não posso usar uma roupa mostrando dois, três dedos da minha barriga porque isso me torna uma piriguete? Ah vai catar coquinho.
Sério, isso me irrita aos extremos.
Eu não sou de usar roupa curta, sinceramente, além do desconforto físico, ainda tem o fato de que eu não gosto de mostrar as minhas pernas. É um saco. Ai quando eu resolvo dar a porcaria de um nó na minha camiseta do Brasil, eu estou mostrando muito do meu corpo. Argh.
E foi por esse e outros motivos que ao invés de trazer minha mãe para o Catar, eu trouxe meu pai e meu irmãol. Essa história do Catar inclusive foi muito louca.
Alguns dias atrás, eu estava tranquilissima lendo um livro no wattpad quando eu recebo um email com muita cara de golpe, mas deixa eu contextualizar antes disso.
Foi assim, eu vi um vídeo da Tata e do Cocielo falando que iam para o Catar e que algumas pessoas iam ser sorteadas para ir também e levar dois acompanhantes, tudo isso pela seleção brasileira.
Até ai tudo bem, de forma despretensiosa coloquei meus dados no site e um vídeo dando um olé em um monte de marmanjo no futebol e simplesmente esqueci que eu tinha feito isso. Agora sim podemos voltar para a parte do email.
O email dizia o seguinte: _________________________________________________ De: seleçãobrasileira.cbf@hotmail.com Para: vitoria301103@gmail.com
Parabéns você foi convocada para assistir os jogos da copa do mundo com nosso grupo de influenciadores, entre eles: Igão, Leticia, Julio, Tata e tantos outros.
Aguardamos resposta em até dois dias, caso contrário sua vaga será preenchida por outra pessoa.
Tinha mais uma pancada de coisa no email e agradecimento à uma porrada de marcas, mas isso é só um detalhe.
Esse email foi feito para desconfiar, mas mesmo assim entrei em contato no número que eles passaram depois de confirmar umas 59 mil vezes que era real.
E então um mês depois aqui estou eu em Catar, com meu pai e irmão para acompanhar os principais jogos da Copa. Já tem 10 dias que começou a copa e doze que eu estou aqui.
E olha que legal hoje é dia 30 de novembro, meu aniversário e para melhorar estou comemorando sozinha porque o lugar que o grupo da seleção foi hoje não aceita mulher.
Merda de país machista.
Então, decidi ir ao restaurante mais escondido para comemorar meu aniversário de forma solitária, já que obviamente não ia permitir que meu pai e irmão perca aventuras incriveis.
Subo para o terraço que possui tetos e paredes de vidro. O lugar é lindo e não entendo o porquê de não estar jogando pessoas para fica de tão cheio.
Aqui na parte superior tem apenas uma mesa grande e quatro pequenas nas vértices do local. Puxo papo com a garçonete que me explicou que, especialmente hoje, a parte superior iria lotar já que o time da Espanha iria se reunir aqui.
Eu não sou fanática por futebol, mas conheço alguns jogadores de cada time.
Aos poucos o restaurante vai lotando e como eu cheguei muito cedo, apenas implorei para o gerente para que me deixasse ficar aqui em cima até ele abrirem. Não sei se essa foi uma boa decisão já que a gorjeta que terei que deixar será exorbitante, mas conhecendo minha familia eles não iriam sair sabendo que eu estaria trancada no quarto do hotel.
Meia hora depois do horário certo para a abertura do local, a mesa grande estava lotada. Tinha, no minímo, umas 40 pessoas. Fiquei por um tempo admirando aquelas pessoas, se socializando e divertindo.
Eu queria mais daquilo, mas sempre tive a sensação de não ser bem vinda entre pessoas da minha idade.
Suspiro com a chegada do meu prato de comida. Finalmente.
-Obrigada.
-Daqui a pouco trago sua bebida.
-Ok. -Observo meu prato que não tem nada a ver com o que foi apresentado no cardápio. Eu pedi massa e isso aqui é camarão. Aperto o botão que serve para chamar o garçom. -Você trouxe o prato errado. Eu pedi macarrão
-Não, você pediu camarão. -O atendente fala de forma grosseira.
-Eu obviamente não pedi camarão, afinal eu sou alérgica a frutos do mar.
-Você deveria me respeitar garota. -Eu não te faltei com respeito em nenhum momento, só estou solicitando a troca do meu prato que veio errado. -Eu esqueci que não estava no Brasil, aonde mulher é respeitada e ele fez questão de me lembrar da pior forma possível.
O homem aperta meu braço e com a outra mão me deu um tapa no rosto. E antes que eu pudesse reagir um garoto sentou na cadeira ao meu lado.
-Darling, esse homem está te atrapalhando? -O homem que me agrediu, solta meu braço assim que percebe que eu não estou desacompanhada. Teoricamente eu estou desacompanhada, mas esse homem ao meu lado parece que veio me salvar e eu só percebi isso porque quando olhei em seu rosto claramente estava escrito 'confia em mim, eu sei o que eu estou fazendo'.
E sem saber o porquê, eu confiei naquele estranho de cabelo preto e rosto bonito. Nesse momento, o mundo começou a sorrir para mim.
