—Por quê você está fazendo bolo oito horas da noite?
—Desejo. —Pedri me responde recheando o bolo com um creme de abacaxi.
—Você engravida por acaso?
—Só grávida tem desejo?
—Touché.
—Me conta como é ser bailarina?
—É incrível, a música, o corpo, a mente, tudo isso em sintonia. Enquanto, eu estou na ponta dos pés nada mais importa.
—Se você sente assim com o balé, por quê você queria ser jogadora? —Ele pergunta colocando o último pedaço da massa.
—O futebol sempre foi um sonho para mim. Mas o futebol feminino não vale nem um décimo do futebol masculino. Então querendo ou não viraria um hobbie, afinal preciso pagar as minhas contas.
—Mas mesmo assim você faz balé obrigada?
—Sim, o balé é um sonho agora, antigamente era uma forma de ser o que a minha mãe queria. Eu acho engraçado que para ela era o cúmulo eu ter algum roxo, mas o balé deixa roxos muito piores.
—Imagina ficar na ponta do pé dançando e sair intacta. Olha com todo respeito do mundo por você e sua mãe, eu odeio ela. Será que ela sabe que estamos no século XXI?
—Sim, ela sabe. Mas para ela a regra é clara, mulher é um vaso caro de porcelana. Só de olhar quebra.
—Sua mãe deve ter tido 50 tipos de infartos quando você decidiu vir para o Catar, assistir a Copa do mundo.
—Imagina quando ela descobrir que eu estou namorando você.
—Relaxa, sou o sonho de toda sogra. —Ele pisca um olho para mim. —Bate o chantilly para mim. Enquanto, eu arrumo um pouco da bagunça.
—Ok.
Enquanto o chantilly bate observo o Pedri. A barba por fazer, as veias saltadas no braço, eu entendo o porquê das mulheres darem em cima dele.
Pedri é atrante.
Volto a minha atenção para o chantilly, está no ponto que a caixa diz ser o certo.
—Já está pronto? —Pedri pergunta assim que o barulho cessa.
—Acho que sim.
—Deixa eu ver. —Ele para ao meu lado e vê que o chantilly formou picos. —Está perfeito. Preparada para confeitar?
—Eu tenho uma opção melhor. Você confeita e eu observo.
—Tudo bem. —Ele revira os olhos e começa a passar o chantilly no bolo com uma espátula. Pedri morde o lábio inferior como se isso o ajudasse a fazer o serviço.
Eu não sei o porquê de ter aceitado a proposta dele. Namoro falso? Isso tem como dar certo? Pensei que isso só acontecia em livros.
—Eu posso contar para alguma amiga sobre essa coisa de namoro falso?
—Se for a mais confiável, claro. —Ele fala deixando o bolo lisinho.
—Ok, Leonor vai pirar.
—Quem é Leonor?
—Minha melhor amiga. Nós dançamos juntas algum tempo atrás.
—Bom, o bolo está bom assim. —Pedri lava as mãos na pia e coloca o bolo na geladeira.
—Como assim não vamos comer.
—Daqui a pouco, Vitória. —Ele fala escrevendo algo no celular. —Eu esqueci de falar as regras.
—Ainda estamos em tempo.
—Não pode se apaixonar, não pode se relacionar com outras pessoas.
—Só isso?
—Sim.
—Essas regras servem para os dois?
—É claro, eu não sou um babaca.
—E se um dos dois se apaixonarem?
—Conta para o outro, vai que o outro está apaixonado também.
—Mais alguma coisa, darling?
—Não, vida.
—Que bom, meus amigos estão chegando. —Olho sem entender para ele. Estávamos com eles agora.
A caravana chega e começa a se espalhar pela cozinha.
—Pedri, o que está acontecendo?
—Você já vai descobrir. —Tento colocar minha mão na boca para roer minha unha, mas o Pedri pega ela e entrelaça nossos dedos me levando para o centro da cozinha. —Gente, é o seguinte hoje é o aniversário de uma pessoa muito especial, conhecida como Vitória. E eu fiz um bolo para cantarmos parabéns. —Ele vai até a geladeira e pega o bolo colocando na bancada, depois se abaixa pegando duas velinhas com os números 2 e 0, ele espeta o bolo e acende ambas. —Vem cá, darling. —Pedri me chama e eu morro de vontade de me tornar um minhoca e fazer um buraco no chão.
—Eu te odeio. —Falo entre dentes parando ao lado dele.
—Obrigado. —Ele pisca um olho para mim e começa a cantar parabéns sendo acompanhado pelos amigos. —Feliz cumpleanos, Darling. —Pedri sussura no meu ouvido assim que eu arrumo a postura após assoprar a vela.
Pedri faz tudo mundo se juntar para tirar uma foto com o bolo e enquanto ele cortava os meninos vieram me cumprimentar e me felicitar.
A única que ficou comigo no final foi a Milena.
—Ei, quem escolhe de quem vai ser o primeiro pedaço é a Vitória. —Escuto alguém gritando.
—Vitória, vem aqui. —Laporte me chama. —De quem vai ser o primeiro pedaço?
—Para o Pedri, é claro. —Falo como se fosse óbvio e caminho até ele estendendo o guardanapo com o bolo.
—Obrigado, darling. —Pedri pisca um olho para mim e me abraça. —Já que o primeiro é meu, o segundo é o seu. —Ele pega outro pedaço de bolo e me dá. —Vamos ver se eu estou bom na cozinha.
—Isso é injusto.
—Para de chorar, Morata. —Pedri fala me puxando para um canto da cozinha. —Experimenta. Me fala se ficou bom, ainda dá tempo de sumir com o bolo.
A aparência do bolo está perfeita, as três camadas de recheio e o bolo está bem molhadinho.
Dobro a ponta do guardanapo e dou uma mordida generosa, faço tudo isso com o Pedri me encarando.
—Tá perfeito, já pode casar. —Falo passando a língua pelo meus lábios para tirar o chantilly, ele acompanha cada movimento que eu faço.
—Que bom, foi feito para você. —Pedri fala depois de limpar a garganta.
—Obrigada por isso. Pelo bolo, pelos parabéns, por mês ajudar. Se meu primeiro dia com 20 anos está animado desse jeito imagina os próximos 364. —Falo rindo.
—Tenho que fazer minha namorada feliz. —Ele fala e pisca para mim. Termino de comer meu bolo e espero ele terminar o dele. Jogamos o guardanapo no lixo que tinha ao nosso lado e jogo meus braços por cima de seu ombro.
—Muito obrigada. —Sinto suas mãos serem espalmadas nas minhas costas.
—De nada.
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ME LIBERTA | PEDRI GONZÁLEZ
FanfictionCOPA DO MUNDO CATAR 2022 Livro II -Série 'me'