Primaveril

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O vício era nocivo demais e Chanyeol tinha plena consciência disso, mas ainda sim, era algo muito maior do que ele. Abriu mãos de válvulas que eram piores, deixando-as de lado antes que se sentisse ainda mais corrompido, entretanto, já tinha desistido de se manter puro, em qualquer sentido que fosse.

Todavia, era em noites como aquelas que achava no cigarro um refúgio para poder relaxar e ao mesmo tempo, colocar todos os seus pensamentos em ordem que no momento, estavam agitados e confusos. Diga-se de passagem não só sua mente, mas também o seu coração estava uma verdadeira zona.

Francamente, preferia que sua cabeça estivesse tumultuada do que seu peito. Não tinha nada que tirasse Chanyeol dos eixos tanto quanto aquela agitação incomum, que com certeza, não era um começo de infarto.

Preferia não denominar o que sentia, assim sua consciência lhe deixaria dormir pelo menos.

Ou não.

O relógio marcava vinte e duas horas, sua mãe tinha saído às dezesseis para o trabalho e estava sozinho em casa. Ignorando totalmente a frente fria que estava sendo anunciada na televisão da sala que chegaria a Fairbanks nos próximos vinte minutos, saiu do banho extremamente quente e vestiu apenas uma calça folgada e confortável, não se dando o trabalho de colocar uma camisa. Adorava ficar sem camisa em casa, e mesmo odiando o frio ao extremo, já estava até se acostumando com o clima congelante do Alasca.

Se tivesse uma garrafa de Whisky, Vodka ou de qualquer bebida alcoólica, usaria a desculpa para tomar ao menos uma dose para se esquentar. No entanto, foi forte e conseguiu segurar a vontade. Dirigiu-se até o deck de seu quarto, pegando a carteira de cigarros que deixou ao lado da cama e sentando no parapeito de concreto que havia ali. Uma perna estava do lado de fora, a outra do lado de dentro e a cabeça encostada na parede atrás de si.

Na sua playlist estava tocando uma música que costumava escutar todos os dias: Trouble, Cage The Elephant. A melodia calma e os sons de baixo conseguiam acalmar e traziam para o seu coração a tranquilidade que esteve em falta naquele dia.

Olhava a rua com serenidade, a neve já estava começando aos poucos a tomar conta do asfalto e do gramado na frente do condomínio. Cogitou entrar e pegar um casaco, mas queria sentir o frio, queria sentir seu corpo tremer um pouco, queria sentir-se acordado, vivo e tendo total controle de seu corpo. Porque definitivamente, odiava com todas as forças se sentir vulnerável.

E jamais pensou que iria sentir-se assim por causa de Baekhyun.

Acendeu o cigarro e depois do primeiro trago, seus pensamentos começaram a nublar sua mente assim como a fumaça nublava suas vistas. Fechou os olhos e se deixou sentir ao máximo o gosto amargo enquanto a endorfina era estimulada em seu cérebro, fazendo o efeito que precisava fazer.

A endorfina é o neuro-hormônio responsável pela sensação de bem-estar, prazer, bom humor e alegria. Chanyeol queria muito pensar em inúmeros momentos em que teve tais sensações além de quando fumava sozinho em casa. Algum momento com os amigos, com algum affair, com alguém que já gostou muito, comendo algo muito gostoso, enchendo a cara ou se drogando. Mas, pelo visto, sua cabeça estava realmente querendo lhe pregar peças.

A última vez em que se sentiu dessa forma naturalmente, sem precisar de nenhuma substância química em seu organismo tinha sido há dois dias atrás. Quando ficou trancado com Baekhyun naquela sala minúscula, sentindo-se com o corpo próximo ao seu, sentindo o cheiro suave de seu shampoo e podendo saber qual a sensação da mão dele em seu rosto, e isso definitivamente foi o que mais lhe pegou desprevenido.

Talvez, mas só talvez, Chanyeol fosse um pouco carente e mesmo parecendo ser um cara durão, adorava qualquer tipo de demonstração de carinho e o que aconteceu naquela sala foi apenas um ato de desespero, mas ainda sim. O fato de Baekhyun ter se preocupado consigo, fez seu coração aquecer.

(A)polarOnde histórias criam vida. Descubra agora