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Ao abrir os olhos pela manhã, senti-me totalmente idiota por ter feito todo aquele drama pela noite. E pra piorar toda a minha explosão de emoções na noite passada, teria que me resolver com Alexia. Eu nem mesmo sabia o que dizer, a vida seria mais fácil se pudéssemos simplesmente voltar no tempo. Eu respiro fundo e me levanto da cama, a dor de cabeça me atingindo com meus olhos totalmente inchados, é nessas horas que eu queria ter me dedicado a aprender a me maquiar.

Vou até o espelho e checo meu rosto, eu estava horrível. Mas nada que o povo daquela escola não esteja acostumado a ver. Escovo os dentes e tomo um banho, me troco colocando uma calça preta e uma blusa lilás qualquer que eu achei no meu guarda-roupa, visto meu tênis e saio para a cozinha. Dessa vez, é meu pai que está lá sozinho, ele me encara e parece instantaneamente saber que algo aconteceu.

- Bom dia, filhota. - Eu me sento na mesa e pego somente uma maçã para comer no caminho.

- Bom dia, pai. - Eu digo desanimada e dou uma pequena mordida na fruta, ele continua me olhando enquanto passa manteiga no pão, eu suspiro antes de começar a falar - Briguei com a Alexia.

De manhã não é a hora perfeita pra dizer que estava em conflito com minha sexualidade. Será que haveria uma hora perfeita?

- Complicado, mas essas coisas acontecem em uma amizade filha. É normal, não precisa ficar tão abalada.

- É, eu sei pai. Mas hoje eu vou me resolver com ela. Pode ficar sem se preocupar. - Eu sorrio fraco e ele sorri também. Me levanto da mesa e vou até ele o abraçando mais forte do que normalmente. Ele sente, e me abraça na mesma intensidade por alguns segundos longos. Eu fecho os olhos durante todo o abraço torcendo pra que o que eu tinha com o meu pai não se desfizesse por causa da minha sexualidade, seja lá qual ela for.

Eu me afasto e ele bagunça meu cabelo, eu rio e o arrumo.

- Boa aula filhota, qualquer coisa é só ligar.

- Tá bom, bom trabalho pai. - Ele acena e volta a comer seu pão com manteiga enquanto mexe no celular vendo um jogo de futebol aleatório.

Não me preocupo em saber onde estava minha mãe antes de sair de casa, não depois da cena desnecessária que ela fez ontem preparando o jantar. E foi até bom eu não ter visto ela, não sei se me faria bem. Nunca dá pra saber quando se trata da minha mãe.

[...]

Ao chegar na escola, me toco que não é um dia normal como os outros. Não é fácil chegar na Alexia quando vejo ela no corredor toda atrapalhada tentando pegar um livro na mochila. Eu aperto a alça da mochila e vou até ela.

- Oi.

Eu digo e ela me olha assustada, falhando na missão de pegar o livro sem deixar o celular e o fone cair. Ela se abaixa toda torta pegando o celular e o fone, deixando o livro da mochila cair também. Eu rio. Isso tá sendo desastroso e a conversa nem mesmo começou. Eu me abaixo e a ajudo a recolher tudo.
Depois dela se levantar e conseguir se ajeitar, ela me olha com apreensão.

- Oi. Você...tá bem?

Ela inicia, sem saber o que dizer. Que situação esquisita.

- A gente precisa conversar.

Eu ignoro a pergunta, porque nem mesmo eu sei o que responder. E meio que tô cansada de responder "bem" como se fosse um maldito robô.

- Tudo bem.

Sem precisarmos dizer nada, nós vamos pro mesmo lugar onde ficamos depois daquele episódio ridículo na quadra onde Naithan e Malu fizeram Alexia chorar e, bem, eu dei uma mochilada neles. Isso me faz abrir um sorrisinho de canto, mas logo ele murcha. Porque Stephanie não fez nada pra impedir que aquilo acontecesse, e mesmo que ela não fosse tão má quanto Naithan e Malu, ela não fazer alguma coisa para parar a tornava tão horrível quanto eles. E pensar nisso, doía.

Ao chegarmos no nosso lugar, nos sentamos na grama e posso observar Alexia colocar a mochila no colo e a apertar seu tecido descontando a ansiedade.

- E-Eu...eu peço desculpas, Cecília. - Ela começa e eu fico quieta - Eu fui uma péssima amiga, te deixei sozinha na escola e tratei você como se seus problemas não importassem enquanto você sempre me ajudou em tudo, como naquela situação péssima do... - Ela respira fundo antes de continuar - Do professor Júnior, tem toda razão de estar brava e chateada comigo. Eu sinto muito mesmo.

Ela abaixa a cabeça. Eu suspiro antes de começar a dizer algo.

- Eu não tô brava com você, Lexi. E eu te perdoo, é claro. - Ela levanta a cabeça me escutando atentamente - É só que...tá acontecendo muita coisa comigo ultimamente e é culpa minha também você não se preocupar com meus problemas, até porque como você vai me ajudar se eu não digo nada?

Eu fico em silêncio por alguns segundos, e Alexia não quebra isso, eu coloco as mãos no rosto e respiro fundo.

- Eu...tenho tido sentimentos por uma pessoa.

- Certo. - Ela diz e espera eu continuar a falar.

- Só que...é errado, eu ter sentimentos por essa pessoa.

- Errado como? - Eu podia sentir meus olhos queimarem, eu não quero chorar de novo.

Eu tiro as mãos do rosto e começo a encarar o chão, era muito melhor que encarar a expressão de Lexi.

- Errado porque não é um homem.

E então silêncio. Posso sentir minhas mãos tremendo, e minha visão a ficar embaçada enquanto aquele nó horrível se forma na minha garganta e eu sinto que se as únicas coisas ouvidas forem as nossas respirações pelos próximos segundos, eu não vou conseguir segurar meu choro.

- Bem, eu já desconfiava. - Ela solta uma risada - E isso não é errado, Cecília. Não diga isso.

Eu a encaro mais surpresa do que deveria. Ela sorria mas depois seu sorriso diminui drasticamente.

- Você tá chorando? Ce, calma. - Ela me abraça e é como se eu estivesse em queda livre.

Mas não é uma queda livre assustadora. Porque, ninguém gritou comigo por ter admitido que eu gosto de uma pessoa que não é um homem. Porque eu gosto de uma mulher.
Eu sorrio sentindo as lágrimas descerem por meu rosto, mas dessa vez eu não estava sozinha no banheiro de casa. Eu estava abraçada com a minha melhor amiga e tudo estava bem.
Eu abraço ela com força e deixo as lágrimas caírem enquanto soluços cruzam minha garganta e mesmo que o sinal esteja tocando alto, nós não nos separamos.

Eu gosto de uma garota, e isso não é errado.

Eu odeio amar você.Onde histórias criam vida. Descubra agora