Eu odeio amar você.

28

Depois que você se foi, eu entrei no meu quarto e fiquei na minha cama por um tempinho, pensando em tudo o que me disse, em tudo o que eu te disse, e também lembrando do barulho que eu nunca tinha reparado antes que a porta faz quando ela fecha. Rangendo. De uma maneira desnecessariamente alta.
Por que meu pai nunca consertou aquela porta? Será que ele também nunca tinha percebido? E, poxa, já era de noite. Onde ele havia se metido?

Depois que você se foi, eu fechei as cortinas da janela, fechei a porta e desliguei a luz. Deixei tudo o mais escuro possível. Não pensava em nada, ou tentava não pensar, eu não chorava o que pra mim é estranho, já que recentemente eu tenho chorado muito. O dia foi estranho e aconteceu tanta coisa, caramba eu marquei um café com minha mãe. Será que ela tava falando sério? Será que, ela realmente iria aparecer?

Depois que você se foi, eu percebi a solidão que eu mesma havia me colocado. Eu percebi que meu celular não tinha nenhuma mensagem da Lexi, eu percebi o tanto de mensagem do meu pai que eu havia ignorado, eu percebi a notificação do meu sush que estava criando com a Lexi, falando que ele havia ido embora. Bem, como você.
E isso me fez rir, porque achei engraçado.

Depois que você se foi, eu meio que venho tentando pensar em tudo, menos em você. O que também era estranho pra mim, porque meu tudo era você. Eu não entendi quando você disse pra mim que eu não deveria te amar como eu amo. Talvez eu só...tenha me entregado demais a algo que nunca existiu entre nós, sejamos sinceros, nós nunca chegamos a ter um nós.

Alguém bate na porta, e eu sou desperta dos meus pensamentos. Eu não respondo, mas a pessoa entra de qualquer jeito.

- Oi - É a primeira coisa que ela diz quando entra no meu quarto e fecha a porta atrás de si, me olhando cautelosa.

- Oi Lexi. - Eu digo, ela liga a luz e eu fecho meus olhos como reflexo pela ardência de estar tanto tempo no escuro.

Ela se aproxima da cama e senta na ponta, deixando o celular jogado na coberta. Ela me olha novamente e suspira.

- Desculpa ter saído daquele hospital de maneira infantil bem quando você precisava de alguém pra te apoiar. Eu tava estressada, mas sei que não justifica ter te deixado sozinha. Foi mal mesmo. - Ela fala e eu dou um sorrisinho fraco.

- Não precisa se desculpar, eu entendo porque você tava daquele jeito. Eu também teria ido embora. Desculpa também. - Eu falo e ela assente.

- Então estamos bem? - Ela pergunta com a expressão meio receosa, eu só me aproximo dela e abraço. Ela devolve o abraço e nós ficamos por alguns segundinhos assim. Eu apoio meu rosto em seu ombro e fecho os olhos, respirando fundo.

- Obrigada por estar aqui. - Eu falo baixo, e ela me aperta mais.

- Sempre vou estar, Ce. Fica tranquila. - Ela alisa minhas costas - Você tá bem?

Ela pergunta e eu me afasto, me encostando novamente na cabeceira com a coberta cobrindo minhas pernas. Cruzo os braços a olhando.

- Só tô pensativa, não sei se estou triste, mas também sei que não estou muito bem. Não sei explicar.

- Seu pai me contou que a Stephanie veio aqui.

- Meu pai é um fofoqueiro. - Eu rio um pouco - A gente brigou e ela desistiu de mim. - Eu conto e a feição de Lexi muda.

- Sério?

- Longa história, não sei se quero falar disso agora. - Eu falo e olho pra baixo, ela entende e se aproxima mais sentando do meu lado dessa vez, segura minha mão e apoia a cabeça no meu ombro.

A gente fica quietinha até que o telefone dela toca na cama, na foto, tinha um cara de cabelo vermelho. O mesmo do café. Olho pra ela que também fica meio vermelha, segura o celular e desliga. Ela me olha, eu levanto uma sobrancelha dando um sorrisinho de lado e ela revira os olhos.

- A gente é só amigo, tá legal? - Ela explica e eu reviro os olhos - É sério, eu não quero nada com ele e deixei isso claro. Ele disse que tudo bem e também não queria nada comigo, mas a gente conversou e temos bastante coisa em comum até. Somos amigos.

- Você devolveu aquela roupa pra ele? - Eu pergunto.

- Ainda não, mas depois...

- Ah Alexia, cala a boca, isso aí é só pra você ainda ter motivo pra falar com ele. - Eu jogo um travesseiro na cara dela e ela rebate.

- Fala sério! Você não escutou o que eu disse? - Ela fala e eu rio.

- Tá bom, tá bom. Não tá mais aqui quem falou. - Digo e ela solta um "hum, acho bom" antes de encostar na cabeceira de novo do meu lado.

- Ei, ce. - Ela fala, não muito tempo depois da nossa mini discussão - Promete pra mim que você vai me contar o que tá pensando, pode ser? As vezes eu fico muito preocupada de não estar fazendo o suficiente como amiga, medo de você pensar em alguma coisa e, sei lá, fazer besteira sabe...só, me promete que você sempre vai me contar o que tá sentindo, tudo bem? Por favor.

- Lexi. - Eu olho pra ela - Não precisa ficar se preocupando que não faz o suficiente, você sabe que eu te amo.

- Mas você promete? - Ela insiste e eu bufo.

- Prometo só se você prometer também. Também fico preocupada com você, só meu pai sabe o tanto que eu fiquei nervosa depois daquele rolê todo com o Naithan. - Ela ri fraco.

- Tá bom, eu prometo.

- Prometo também. - Ela sorri e eu dou um sorriso mínimo. Encosto minha cabeça em seu ombro dessa vez e ficamos em silêncio. Ela mexendo no celular provavelmente respondendo mensagens do garoto egirl e eu, voltando aos meus pensamentos.

Depois que você se foi, eu consegui entender o que você me disse. Que não podia ficar. Eu entendi o quão negligente eu estava sendo com todo mundo a minha volta. Eu só conseguia enxergar você, e nada mais.
Toda preocupação do meu pai, todas as garrafas de bebida na lixeira, eu nunca parei pra perguntar pra ele se ele está bem, mesmo passando por um divórcio.
Eu nem mesmo percebi que estava arrastando a Lexi pra isso tudo de uma forma tão desnecessária, céus.

Depois que você se foi Stephanie, eu pude entender e, quem sabe, no futuro eu agradeça você por ter partido.
Eu provavelmente vou chorar, vou sofrer, vou sentir sua falta e escutar muita música da Taylor Swift. E acredite, vai ser inevitável escutar qualquer música minimamente romântica sem lembrar de você.

Porque, depois que você apareceu na minha vida, girl in red fez muito sentido pra mim.