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Eu meio que já tinha uma ideia do motivo dela querer conversar comigo, talvez pra dar um ponto final nisso tudo. Acontece que, mesmo que o motivo seja esse, fico feliz de ter a chance de estar ao seu lado mais uma vez.

- Como foi esse ano pra você? - Ela pergunta de repente, andando ao meu lado encarando o chão.

- Ah, acho que como qualquer outro. - Eu respondo dando de ombros, não entendendo onde ela queria chegar.

Ela fica em silêncio por um tempinho antes de começar a falar novamente. Não estávamos indo para nenhum lugar específico, só andávamos pela rua lado a lado.

- Faz tanto tempo assim que aquelas provocações que fazíamos com vocês na escola acontecem? - Ela pergunta e fico surpresa, penso um pouco antes de responder.

- Faz alguns anos, acho que três. Não sei direito. - Fico meio incomodada - E o nome é Bullying. Deixou de ser provocações faz tempo.

Eu respondo ríspida, ouço ela suspirar e se cala novamente.

- Por que essas perguntas? - Era minha vez de questionar.

Ela para de andar e eu paro também, olhando o seu rosto que não me encarava de jeito nenhum. Ela demora alguns segundos pra responder.

- Eu só... - Ela morde o lábio e suspira novamente - Queria entender, como tudo isso começou, sabe?

Eu não digo nada, continuo a olhando esperando que continue. Ela parecia nervosa, seus pés estavam inquietos e ela balançava o corpo de maneira fofa parecendo procurar palavras.

- Você disse que esse ano, foi normal pra você. Como se estivesse acostumada com todo aquele...bullying. Eu não entendo, Cecília. Como ainda pode gostar de mim depois de tudo isso? - Ela me encara, firmando o seu olhar no meu. Dessa vez, nenhuma das duas desvia.

- Eu não sei te dar essa resposta Stephanie, sentimentos não são coisas que podemos controlar. Dizem que ódio e amor andam lado a lado, e mesmo que eu ache isso brega, acho que realmente é verdade. No começo, eu tinha raiva de você, muita, sabe? No primeiro ano que tudo isso começou, você nos incomodava mais diretamente, e não ficava só olhando como agora costuma ser. Quando me dei conta, não estava mais sentindo tanta raiva assim. - Eu sorrio singelo - Como virou isso, eu não faço ideia.

Ela dá uma pequena risada e tira a franja do cabelo da frente do rosto, me olhando com um sorrisinho que faz meu interior se encher de felicidade.

- Eu te devo desculpas por tudo, Cecília. A imaturidade as vezes gera erros tão graves a ponto de não sabermos nem mesmo como conserta-los. - Ela abaixa a cabeça e dá um risada sem graça - Eu vou ser sincera com você, prometi isso a mim mesma. No primeiro ano, eu comecei a mexer com vocês porque, bem, eu era uma idiota. Mas conforme o tempo foi se passando, eu fiz amizade com o Naithan e a Malu e você sabe bem a proporção que aquilo tudo tomou. Quando eu vi você chorar pela primeira vez com uma piada que eu fiz, eu me senti...péssima. - Sua voz dá uma fraquejada.

- Stephanie...

- Não, me deixa falar. Por favor. - Eu me silencio - Depois disso, eu realmente tentei. Eu juro que tentei fazer com que o Naithan e a Malu parassem de incomodar vocês. Mas eu não sei mesmo o quanto eles se divertiam com tudo aquilo, porque eles não me escutaram. Eu estava com tanto medo de ficar sozinha que simplesmente aceitei. E minha relação com o Naithan era algo tão complicado. - Ela cobre o rosto e respira fundo, secando as lágrimas que desceram involuntariamente - Foi esse o motivo de eu ter mudado meu comportamento, eu não estou tentando dar uma justificativa como se isso apagasse todas suas cicatrizes e traumas mas eu não quero que você pense que eu nunca me importei com você e tudo o que acontecia.

- Eu entendi. Mas porque então você se envolveu em toda aquela briga da Lexi com o Naithan?

- Porque eu cansei. - Ela me encara e percebo seu olhos lacrimejarem mais - Eu não aguentava mais estar com pessoas que me faziam me sentir o pior ser humano do mundo, me sentia tão sufocada que poderia achar que estava morrendo aos poucos. Minha amizade com o Naithan acabou a muito tempo antes disso tudo, Cecília. É muito mais complicado do que você imagina... - Mais lágrimas correm por seu rosto e era óbvio que ela estava tentando ao máximo para segurar - Vale o mesmo pra Malu, eu também terminei minha amizade com ela. - Ela passa a mão pelo cabelo e tenta respirar fundo - No fim, eu acabei realmente ficando sozinha.

- Você não tá sozinha, Stephanie. Mesmo que você não goste de mim do jeito que eu gosto de você, saiba que podemos ser amigas se você permitir que eu entre na sua vida. Como um recomeço. - Eu seguro seu rosto, a fazendo olhar pra mim acariciando sua bochecha - Não precisa se fazer de imbatível na minha frente, quando eu disse que te amo, eu não estava blefando. Amo cada parte sua e estou disposta a amar até mesmo as que não conheço, até mesmo suas fraquezas e dores. - Ela põe a mão sobre a minha que estava em seu rosto fazendo carícias, pensei que ela ia remover a mesma dali mas me surpreendi quando ela simplesmente segurou e moveu a cabeça pra frente encostando seus lábios nos meus.

Dando-me um beijo casto, ela se afasta um pouco me olhando nos olhos, suas mãos se movem em direção à meu rosto segurando o mesmo. Ela tinha um sorriso pequeno no rosto e seu olhar parecia amável, e o que deixava esse momento mais mágico ainda é saber que ela estava assim por minha causa.

- Você não entende, Cecília. - Sua voz racha e mais lágrimas descem - Minhas dores são muito mais complexas do que você pensa, querida. Eu sempre lidei com elas sozinha, e mesmo que eu queira dividir elas com você, preciso ser franca comigo mesma e admitir que nada mais pode me ajudar, além de uma coisa.

Ela se afasta de mim, seu nariz vermelhinho pelo choro recente, ela seca algumas lágrimas que desciam. Eu fico confusa com suas palavras.

- Que coisa?

- Não posso dizer. - Ela responde colocando as mãos nos bolsos do casaco e abaixando a cabeça - Tenho que ir agora.

- Mas...o beijo, significou alguma coisa? - Eu não consigo evitar de perguntar.

Ela suspira.

- Poderia significar. - Ela responde, me deixando mais confusa ainda - Eu realmente preciso ir. Até, Cecília. - Ela se vira, indo embora. Partindo novamente pra longe de mim.

Eu odeio amar você.Onde histórias criam vida. Descubra agora