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Eu me afasto de Stephanie enxugando as lágrimas. Não era hora de chorar, preciso ajudar Alexia.

- Stephanie, eu vou ligar pro meu pai. Será que você poderia tentar acordar a Lexi?

- Ligar pro seu pai? Você acha que isso vai ser mesmo uma boa ideia? - Ela me pergunta com uma expressão confusa.

- O meu pai vai ajudar, tenho certeza. Só tenta acordar ela pra mim, tudo bem? - Ela suspira e assente, indo até Lexi.

Eu me afasto e pego meu telefone, ligo pro meu pai e espero o mesmo atender, o que não demora muito.

- Oi filhota, fala rápido que o pai tá ocupado. - Ele diz e eu consigo ouvir barulhos de ferramentas ao fundo, ele provavelmente tá na mecânica.

- Pai, aconteceu uma coisa com a Lexi, tem como o senhor vir buscar a gente? - Ouço o som de alguma coisa caindo.

- Claro, vou sim. Mas o que aconteceu filha? Alguma coisa urgente?

- Não se preocupa, ela tá bem, só...só vem buscar a gente que eu explico ao senhor depois, tá bom? Vou mandar a localização no WhatsApp.

- Tudo bem, tô indo.

Ele desliga e eu mando a localização pra ele, minhas mãos tremiam e eu respiro fundo. Vai ficar tudo bem. Me viro e vejo Stephanie jogando um pouco de água no rosto de Lexi, quando percebo a mesma se mexendo devagar, corro até ela.

- Lexi! - Eu seguro sua mão e dou alguns tapinhas na sua bochecha. Ela começa a abrir os olhos devagar se acostumando com a claridade e tentando entender o que tava acontecendo.

- Cecília? - Ela diz baixo e eu sorrio aliviada.

- Porra, você acordou! - Eu levanto ela calmamente pra se sentar e eu a abraço, ela retribui confusa.

- O que tá acontecendo? - Eu me afasto e ela olha pra Stephanie - Stephanie? O quê...ai minha cabeça... - Ela fecha os olhos enquanto toca a própria nuca sem conseguir terminar a pergunta.

- Calma Lexi, depois te explico tudo. Vem, consegue levantar? - Eu pergunto e ela assente, ainda parecendo confusa. Stephanie se levanta e tira um pouco da areia do seu cardigan, ela cruza os braços e observa eu ajudando Lexi a levantar sem a deixar cair pela tontura, pelo jeito o "remédio" foi forte.

- Seu pai vem mesmo? - Stephanie pergunta e a encaro quando Lexi se estabiliza.

- Vem sim. - Eu olho pra canga que Lexi estava sentada e vejo uma pequena bolsinha com suas coisas e suas mudas de roupa - Stephanie, será que você pode pegar a bolsa dela? E aquela toalha ali, isso, essa mesmo. - Ela me entrega a toalha que estava dentro da bolsinha e eu cubro Lexi com a mesma, já que ela só estava vestida com biquíni.

- Pra onde vamos? - Alexia me pergunta e Stephanie para do meu lado, segurando a bolsinha.

- Pra minha casa. - Ela fica em silêncio e vamos andando até a calçada, não deixo de auxiliar Lexi enquanto ela anda. Stephanie permanece ao meu lado estranhamente quieta, já que antes ela estava tão falante, até parecia uma pessoa diferente da que eu vejo na escola - Ah, olha meu pai.

Eu avisto seu carro e aceno pra ele ver a gente, devagar ele encosta e abre a porta do motorista parecendo muito preocupado. Ele vem até nós e encara Lexi.

- O que aconteceu filha? - Ele me pergunta novamente.

- Pai...

- Tudo bem, tudo bem. Explicações depois. - Ele suspira e parece perceber a presença de Stephanie. Ele sorri simples - Olá, sou o pai da Cecília. Desculpe pela minha falta de educação... - Ele dá um riso fraco e estende a mão para cumprimenta-la.

Stephanie o encara no rosto e depois desce o olhar para a mão estendida de meu pai, ela esboça uma reação peculiar e demora um tempinho estranho para cumprimentar meu pai de volta.

- Sou...sou Stephanie. - Ela diz e eles afastam as mãos.

- Prazer. - Meu pai fala e depois volta o olhar pra Alexia e eu - Bem, vamos? Vem comigo querida. - Ele diz e segura Alexia pelo braço, ela vai com ele quieta. Ela estava segurando a toalha que cobria seu corpo enquanto encarava o chão da rua. Me preocupo com o que ela esteja pensando. Meu pai começa a andar com a mesma em direção ao carro.

Vou andando pro banco do passageiro também e Stephanie me segura fraco pelo ombro, eu viro o rosto a encarando com duvida.

- Eu não sei se eu deveria ir. - Ela estende a bolsa de Lexi para que eu pegue.

- Meu pai pode te dar carona, não tem problema. - Eu sorrio fraco e ela sacode a cabeça em sentido negativo.

- Não...sério, eu posso ir sozinha. Pega a bolsa, por favor. - Eu encaro ela por alguns segundos, ela parecia tremer um pouco. Estranho ver ela...vulnerável, seja lá qual seja o motivo disso.

Eu pego a bolsa das suas mãos, mas não solto as mesmas de maneira tão rápida assim. Seu olhar que estava mirado para baixo, me encaram assim que percebe a minha demora tocando sua pele.

- Stephanie, você tá bem? - Eu pergunto e a vejo soltar um arquejo, igual ao que eu ouvi na ligação. Ela retira suas mãos das minhas e cruza os braços.

- Eu tô Cecília, pare de me fazer as mesmas perguntas irritantes e sem sentido! - Ela aumenta o tom de voz e eu me assusto com sua mudança, dou um passo para trás - Como você disse antes, eu poderia voltar a te odiar depois de te ajudar com sua amiguinha. Agora me deixe em paz, e nunca mais se atreva em me ligar.

Ela se vira e vai embora, pra longe de mim.
Eu sinto que ela faz essas coisas de propósito sempre que percebe que me deixou aproximar um pouco demais dessa barreira invisível que ela colocou em volta dela. Bem, mas talvez eu tenha criado expectativas demais. Eu suspiro, vou cumprir o que ela me mandou. Agora era hora de focar em uma coisa bem mais importante do que desilusões amorosas.

Eu corro pro carro e entro no mesmo, meu pai me esperava e eu sabia que ele tinha visto a cena de antes, mas ele não diz nada e só dá partida no carro. Eu agradeço imensamente por isso. Encaro Lexi ao meu lado e ela tremia, eu só não sabia se era de frio ainda.

- Lexi, você tá bem? - Eu tento tocar em sua mão e ela desvia de mim - Lexi...? - Eu a encaro confusa e ela sobe o olhar até meu rosto devagar, ela sorri forçado de lado e dá uma risada fraca.

- Desculpe. - Ela diz em um tom claramente forçado brincalhão e eu suspiro, por que ela faz tanta questão de esconder o que sente com risadinhas e piadas como se estivéssemos em uma maldita sitcom?

- Você tá bem, Lexi? - Eu repito a pergunta e ela desvia o olhar de mim, encarando a bolsa que estava no meu colo.

- Pode me dar meu celular? - Ela pergunta e eu a encaro confusa com a sua pergunta.

- Lexi...

- Por favor. - Ela diz e eu reviro os olhos.

Abro a bolsa e pego o celular da mesma, entregando o mesmo irritada. Ela não confiava em mim e isso era perceptível, sério, eu tava tão preocupada com ela e ver ela desacordada...porra, será que não dava pra me dar uma mínima explicação?

Escuto um soluço ao meu lado e encaro Lexi rapidamente, ela cobria a boca enquanto encarava o telefone. Seus olhos estavam cheios de lágrimas e assustados.

- Lexi? Lexi o que foi? - Eu pergunto e tomo o telefone de suas mãos, ela não resiste. Eu encaro a tela e vejo várias mensagens e fotos. Muitas, muitas fotos - Porra - Eu sussurro e a olho novamente - Porra Lexi - Eu largo o celular e a abraço.

Ela deita a cabeça em meu ombro, mas não chora. Como se estivesse paralisada. Eu acaricio seus fios de cabelo, sem reação alguma.

Eu odeio amar você.Onde histórias criam vida. Descubra agora