Eu odeio amar você.

19

Fecho a porta do meu quarto e suspiro, meu pai me olhava com os braços cruzados encostado em uma parede ao lado da porta.

- O que aconteceu?

Ele pergunta novamente e eu me encosto na parede também.

- Ela... - Eu tento encontrar palavras - Ela tava se relacionando com um garoto da escola, e ele deixou ela sozinha na praia depois dela ter desmaiado pelo sol forte. Ele foi babaca e ela tá triste, foi só.

Eu tinha que inventar alguma coisa que não fizesse meu pai recorrer a polícia, dizer que a Lexi só está com coração partido vai fazer ele sentir pena e raiva, mas não o bastante pra ir atrás de um processo que, como Stephanie me explicou, não temos chances de ganhar. E também, eu duvido que se eu falasse o que realmente aconteceu, os pais dela iriam entender.

- Coitadinha, decepções não são fáceis na idade de vocês. - Eu assinto e olho em volta, fico confusa.

- Pai, cadê a mamãe? Tem um tempo que não vejo ela... - Eu me silencio assim que percebo que nem mesmo senti a sua falta, me sinto culpada.

- Sua mãe... - Ele suspira - Ela entrou com o divórcio no nosso casamento.

- O quê? - Eu o encaro - Q-Quando? Por que o senhor não me disse isso?

- Foi depois daquela discussão que vocês tiveram, não quis te contar porque não queria que você se preocupasse durante o baile filhota, e nem que se sentisse culpada de alguma forma. - Meu pai me explica calmamente analisando minha reação.

Eu baixo meu olhar para o chão, refletindo tudo que ele tinha dito. Eu não me sentia culpada de forma alguma por ela ter saido de casa, é certo de quê ela estava com essa vontade há tempos e a minha explosão só foi o gatilho perfeito pra ela ter motivo de ir embora.

- O senhor tá bem? - Eu pergunto e meu pai suspira.

- Tô sim filha...mas depois de anos com alguém não dá pra dizer que não sinto falta dela, mas sei como ela fazia mal pra você. - Ele segura meu rosto e levanta minha cabeça para olha-lo - Vamos ficar bem.

- É, vamos sim. - Eu sorrio e respiro fundo - Eu vou ver se a Lexi já tomou banho.

- Qualquer coisa me chama - Ele comenta e se afasta, provavelmente para voltar ao trabalho.

Abro a porta do quarto e encontro Lexi vestida com outras roupas e secando o cabelo com uma toalha, quando retira a mesma, noto que ela cortou mais o mesmo.

- O que...? - Eu olho em volta do quarto e vejo a tesoura em cima da cabeceira e mexas de cabelo no chão perto do espelho.

- Eu vou varrer. - Ela avisa e se levanta.

- Não, Lexi, calma... - Eu vou até a mesma e a sento novamente na cama, ela não me olhava - Vamos conversar, tudo bem? - Me sento ao seu lado.

- Como quiser. - Ela diz e apoia as costas na cabeceira da cama, ainda sem me olhar.

- O que aconteceu ontem? Depois que saiu com o Naithan do baile? - Eu digo e encaro seu telefone em cima da cama, lembrando das fotos que a enviaram. Ela ri e eu volto meu olhar a ela.

- Você viu o que aconteceu, Cecília. - Ela responde e eu suspiro pesado.

- Você transou com ele, Lexi?

- Não porra, claro que não. - Ela finalmente me encara, parecendo irritada - Eu não sou burra a esse ponto, a gente conversou e ele me disse...ele me disse muitas coisas e acabamos ficando, rolou alguns toques mas nada sério a esse ponto.

- Então você deixou ele tirar aquelas fotos?

Ela fica quieta por alguns segundos e suspira antes de me responder.

- Ele me disse que apagaria, que era só pra ele me admirar quando estivesse sozinho. - Ela encarava um ponto qualquer do edredom da minha cama - Ele já tinha tirado uma sem eu ter visto, e quando eu disse que não me sentia confortável, ele me disse que poderia compartilhar a foto com os amigos dele. Então eu deixei.

- Lexi...

- Eu sei que eu fui idiota porra, eu não preciso ouvir que eu não deveria ter confiado nele. Eu já aprendi isso, você não acha? - Ela interrompe minha fala.

- Eu só quero ajudar você Alexia. Eu tive que ligar pra Stephanie depois de tudo que aconteceu ontem pra encontrar você! Imagina o que teria acontecido se eu não tivesse te achado, caralho Lexi, para de ser ingrata! - Grito irritada, eu só queria o bem dela porra.

Ela fica em silêncio me olhando, respira fundo e levanta da cama parando na minha frente, eu acompanhava ela com o olhar. Ela levanta um pouco a blusa até a altura do umbigo, eu encaro a região.

- O que...

- Isso foi no dia que ele me salvou do professor Bruno. - Ela me mostrava uma cicatriz pequena - Quando eu cheguei na sala dele e ele começou a tentar fazer alguma coisa comigo, eu tentei reagir mas ele me empurrou contra a ponta da mesa e acabou cortando minha barriga. Toda vez que eu olho pra ela, me dá vontade de sair correndo atrás do Naithan porque eu não consigo entender como alguém que me salvou de um abusador, também possa ser um abusador. - Ela sorri - E em como eu sou sortuda de ter passado por situações tão...engraçadas, com os dois. - Ela abaixa a blusa e senta ao meu lado novamente.

Eu a encaro, vendo que a mesma terminou de falar.

- Essa cicatriz só significa que você é forte por ter sobrevivido a essa situação e continuar sorrindo, Lexi. Não que é dependente do Naithan. - Eu digo com o tom de voz baixo e calmo, ela cobre o rosto - Você não precisa dele pra nada. Você tá de pé, mesmo depois de tudo isso. Eu tenho certeza que ele não vai vazar aquelas fotos estúpidas, por não querer manchar a reputaçãozinha nojenta dele. E se vazar, a gente dá um jeito, tá bom? - Eu a abraço e ela deita a cabeça nos meus ombros, ela desaba e seu choro sai depois de tanto tempo segurando, acaricio suas costas - Você é uma menina maravilhosa, Lexi. Não deixa essa porra toda mudar seu jeito lindo de ser, sei que você vai encontrar alguém que te trate como merece. E você ficou linda também com o cabelo curtinho.

Eu sorrio e ela solta uma risadinha, se afastando de mim e secando os olhos.

- Tô cansada. - Ela diz e eu levanto da cama.

- Pode deitar e descansar, tenho que fazer uma coisa e depois vou dormir também. - Ela assente dando um sorriso pequeno antes, agradecendo silenciosamente. Eu sorrio também e saio do quarto.

Pego meu telefone, não ia conseguir dormir hoje sem fazer isso.
Tento ligar pra ela, mas como eu já esperava, ela não atende, penso em deixar mensagem na caixa postal mas sinceramente, quem escuta isso hoje em dia?
Entro na sua conversa e aperto pra gravar um áudio, mesmo sem saber exatamente o que dizer.

- Stephanie... - Eu fico em silêncio por alguns segundos - Eu não quero te deixar em paz. Eu quero poder sair com você, conversar com você, saber mais sobre você...como eu disse, eu quero você. E eu não sei se eu sou maluca ou algo do tipo, mas eu percebo que você também sente alguma coisa por mim, o jeito que você me olha entrega tudo e porra Stephanie, você tem noção do quanto eu gosto de você? Eu não consigo simplesmente esquecer você sendo que passei a merda do dia todo praticamente ao seu lado e, nossa, como foi bom estar ao seu lado. Eu só... - Minha respiração estava acelerada depois de passar vários segundos falando sem parar, respiro fundo e volto a falar mais calmamente - Eu só queria que você soubesse, que eu quero te ajudar, seja lá pelo o que você tem passado. Me deixa te amar, Stephanie.