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Sou despertada por gritos.

- CECÍLIA! - Me sento na cama assustada derrubando a coberta no chão, encarando Lexi com o cabelo meio bagunçado e de pijama com uma expressão assustada no rosto.

- Lexi...? O que aconteceu? - Vejo ela pegando minha bolsa na mesinha e colocando meu celular dentro - Cara, que horas são? - Eu olho o relógio, duas e quarenta e cinco da manhã - Lexi...

- Cecília levanta, seu pai tá esperando a gente lá na frente com o carro já! - Ela diz me jogando a bolsinha com as mãos trêmulas.

- O que tá acontecendo?! Você tá me assustando! - Eu levanto começando a ficar nervosa seguindo ela pra fora do quarto - Lexi!

- Cecília eu te explico no caminho, eu juro. Vamos entrar no carro primeiro. - Ela diz e eu assinto, saímos de casa e meu pai batucava os dedos no volante preocupado, ao me ver, sua expressão fica estranha, eu entro no carro ao lado de Lexi e meu pai começa a dirigir em silêncio.

Eu segurava minha bolsinha com força olhando pra fora da janela, tentando identificar pra onde íamos. Cansada daquela agonia, encaro Lexi e ela suspira, entendendo que eu queria uma explicação agora.

- Seguinte... - Ela respira fundo - Você sabe que minha mãe fica de plantão no hospital hoje, eu tava me preparando pra dormir e ela me ligou, dizendo que uma das minhas colegas de classe havia chegado na emergência - Minha respiração fica presa - Eu perguntei o nome, e ela me disse que era a Stephanie, Ce.

Eu pisco, tentando processar a informação.
Lexi ainda falava alguma coisa mas eu não escutava mais nada, foco meu olhar na janela atrás dela e vejo as casas passando de maneira rápida conforme meu pai acelerava. O mundo todo estava silencioso e toda minha conversa com ela começa a fazer sentido, cada frase repassando pela minha cabeça e as lágrimas vão chegando ao meus olhos de maneira apressada enquanto a paisagem das casas que eu observava vai ficando embaçada. Braços me acolhem e eu pareço despertar, com meu rosto próximo ao ombro de Lexi e ela acariciando meu fios tentando me acolher, os soluços saem altos e de maneira grosseira rasgando meu peito de forma brutal. Eu abraço Lexi afundando meu rosto em seu pescoço encharcando seu pijama com minhas lágrimas, aperto o tecido com minhas mãos na tentativa de fazer o desespero que se tornou minha mente cessar.

O carro para em frente a emergência. Meu pai sai do veículo e abre a porta do passageiro do lado que eu me encontrava, Lexi me afasta com os lábios comprimidos e os olhos úmidos.

- Vamos lá, Ce.

Ela me diz simples, eu olho pro meu pai e saio do carro, precisando me apoiar no ombro do mesmo sentindo minhas pernas fracas e com medo do quê estava por vir. Esperando pelo pior.

- Filha - A mãe de Lexi aparece, nos esperando do lado de fora, ela abraça Alexia quando ela sai do carro - Fiquei preocupada quando você me disse pra esperar fora do hospital e desligou daquele jeito, a menina é amiga de vocês? - Ela me encara, minhas lágrimas não paravam de sair, meu pai acariciava meu ombro.

- Mãe, cadê ela? O que aconteceu? - Lexi vai direto ao ponto e a mãe dela parece entender.

- Ela tá fazendo lavagem, ingeriu muito comprimido em uma tentativa de suicídio. - Eu tampo minha boca interrompendo outro soluço de sair e minhas pernas fraquejam, meu pai me segura e a mãe de Lexi vem de encontro a mim - Querida, você tá muito nervosa! Vamos entrar rápido, ela precisa se acalmar!

Ela me segurou, me levando pra dentro do hospital. O local era tumultuado, barulho pra tudo quanto é lado, pessoas passando com pressa, máquinas apitando e gente tossindo. Tudo estava um caos.

- Senta aqui - Ela me leva até uma sala sem todo aquele barulho, me colocando em uma maca e abrindo uma gaveta ao lado, meu pai e Lexi estavam perto de mim o tempo todo - Toma, é um calmante. - Ela me entrega um comprimido e, tremendo, eu o seguro, colocando na boca e engolindo. Meu coração estava tão acelerado que tinha a sensação de quê a qualquer momento ele sairia pela boca.

- A Stephanie... - Eu sussurro, tentando reagir, mas ela não me escuta.

- Ela está em choque, fiquem aqui com ela. Preciso atender os pacientes. - A mãe de Lexi se afasta e eu levanto pra ir atrás dela, meu pai me segura.

- Filha, você precisa sentar. Não pode ir atrás da Stephanie agora. - Eu solto meu braço dele com raiva.

- EU NÃO VOU FICAR PARADA AQUI! NÃO POSSO! EU JÁ PERDI MUITO TEMPO FICANDO LONGE DELA! - Eu grito e meu pai arregala os olhos - Não vou ficar ficar sentada esperando porra nenhuma, vou atrás dela sim. - Eu me viro pra continuar andando e dou de cara com Alexia - Sai dá frente. - Eu digo e ela não se move, eu empurro ela pro lado mas ela me segura pelo braço me jogando em cima da maca com força, eu encaro a mesma com raiva e surpresa.

- Escuta aqui, a não ser que você tenha algum diploma de psicologia ou medicina, você vai ficar sentada nessa merda até você se acalmar. Não vai ser toda nervosinha que você vai ser útil de alguma forma pra Stephanie, a merda já tá feita e não há nada que você possa fazer sobre isso. Se acalma e para de agir como uma maluca. - Ela dita alto, apontando o dedo no meu rosto. Meu pai cruza os braços olhando a cena, eu respiro fundo e abaixo a cabeça sabendo que ela tinha razão.

- Desculpa, eu... - As lágrimas descem novamente e eu cubro o rosto - Eu tô tão preocupada, eu nem mesmo percebi que ela precisava de ajuda, eu não sabia que... - Meu choro sai mais forte, fazendo meu corpo se balançar a cada soluço.

- Eu vou procurar mais informações sobre a Stephanie. - Meu pai fala e eu levanto o rosto, mesmo vendo sua imagem meio embaçada pelas lágrimas - Volto se descobrir alguma coisa, prometo. - Ele sai da sala e Lexi se senta ao meu lado da maca, eu curvo meu corpo e ponho a mão na testa impedindo que meus fios de cabelo caiam por meu rosto, respirando fundo e tentando me acalmar.

Ela põe a mão no meu ombro e eu encaro sua figura, me lançando sobre seu corpo e abraçando. Devagar, ela também me abraça na mesma intensidade.

Eu fecho os olhos, desejando que tudo isso fosse um pesadelo e não a vida real.

Eu odeio amar você.Onde histórias criam vida. Descubra agora