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Ao voltar pra casa depois de um longo dia de aula, a primeira coisa que eu faço ao chegar é me jogar na cama e torcer pra que meu corpo colapse por absolutamente motivo nenhum e eu morra sem querer.

Mas seria sorte demais se isso acontecesse.

- CECÍLIA! JÁ CHEGOU? - Escuto minha mãe me chamar da cozinha e suspiro pesado.

- Sim mãe, eu já cheguei. - Levanto da cama e começo a retirar minha roupa pra tomar banho.

- QUANDO ACABAR DE TOMAR BANHO, QUERO SUA AJUDA!

- Tá bom mãe, só para de gritar! - Entro no banheiro e posso escutar ela gritando "Tá me ouvindo?" As vezes eu me impressiono com a surdez da minha mãe.

Alguns minutos se passam e saio já vestida com minha calça de moletom e um blusão roubado do meu pai.

- Que foi mãe? - Pergunto a mesma ao chegar na cozinha, ela me encara observando minhas roupas. Ela suspira e revira os olhos.

- Cecília, que roupas são essas? Você é uma menina, não pode se vestir de maneira tão desleixada. - Antes mesmo que eu responda ela já muda de assunto - Preciso que você vá até a mecânica do seu pai e leve seu almoço.

Eu suspiro e pego a quentinha na mesa sem falar nada, saio de casa.
A mecânica do meu pai não é muito longe na verdade, seria bem do lado da nossa casa se não fosse por um terreno abandonado entre a minha casa e a oficina.

- Pai! - Entro na oficina e percebo o mesmo debaixo de um carro todo cheio de graxa, ele sai de baixo e me encara meio confuso. Logo sorri e retira os fones que escutava Michael Jackson do ouvido enquanto levantava limpando a mão em um paninho. Ele vem até mim e pega a quentinha da minha mão se sentando na cadeira enferrujada ao seu lado.

- Estava cheio de fome. Como está coelhinha? - Reviro os olhos pelo apelido e encaro meu pai irritada, ele ri da minha cara e come um pedaço do frango que minha mãe havia preparado.

- Pai, meus dentes já não são todos pra frente pro senhor ficar usando esse apelido.

- E você acha que eu ligo? Você sempre vai ser minha coelhinha. - Ele sorri conseguindo tirar um sorriso de mim também - Mas tentarei parar de te chamar assim.

- Ficaria agradecida! Vou voltar agora, já sei que o senhor tem muito trabalho. - Digo e viro de costas.

- Ceci, diga para sua mãe maneirar no sal. Dei um colherada bem generosa no arroz e Deus veio ao meu lado dizendo que se continuasse assim não demoraria pra eu ter um infarto.

Rio alto com sua fala e saio da oficina com um sorriso no rosto, meu pai conseguia realmente melhorar meu dia mesmo quando parecia que eu estava no fundo do poço.

[...]

No outro dia, vou à escola mais arrumada — Eu só coloquei um tênis surrado em vez do crocs, minha camisa preta escrito Friends e uma calça jeans — Meu cabelo já não era hidratado e cuidado fazia já algum tempo, assim como a pele do meu rosto.
Nunca tive muita espinha, mas em compensação, os cravos me atormentam, contudo prefiro não espremer e nem nada até porque espremer é pior por acabar ficando uma marca vermelha horrível.

- Lexi, cê trouxe o short de educação física? - Pergunto à Alexia que estava sentada ao meu lado com os óculos meio tortos enquanto anotava algo em seu caderno.

Ao contrário de mim, Alexia tinha problemas com espinhas. Nada muito grotesco, mas sua pele sempre estava com bolinhas. Ela não liga muito já que elas somem rápido mas também não quer dizer que não se incomoda com as piadas nada legais vindo do Naithan.

- Aí cacete! Eu esqueci totalmente! Tava ocupada revisando a matéria de Matemática pra prova do mês que vem e nem lembrei que hoje tinha educação física.

- Pior que o professor Júnior não gosta nada da gente, já que somos as piores na matéria dele. - Suspiro - Eu trouxe mas se quiser que eu fique com você, eu-

- Não não, tudo bem. Ele provavelmente vai querer que eu faça alguma coisa aqui na sala e, pra ser sincera, até prefiro ficar aqui do que suar e correr o risco de quebrar meu óculos.

- Ok então. Vou aproveitar que o trio maravilha ainda não veio pra sala e vou ir no banheiro trocar minha calça. Tudo bem? - Vejo Alexia assentir e voltar ao que ela fazia no caderno.

Saio da sala e posso ver Stephanie, Naithan e Malu. Presumo que estejam vindo pra sala.
Aperto meu passo indo rapidamente para o banheiro das meninas entrando em uma cabine. Retiro minha calça e começo a vesti o short, eu não gostava muito dele pelo fato de que marcava absolutamente tudo.

Escuto a porta do banheiro bater enquanto tentava deixar o Short mais decente.

- Merda... - Paraliso ao ouvir a voz de Stephanie e abro uma frestinha da cabine em silêncio, por sorte não rangeu.

Vejo a mesma em frente ao espelho levantando sua blusa enquanto ela passava uma pomada delicadamente nas manchas roxas já ficando meio amareladas nas costelas.

- Caralho. - Acabo deixando escapar e vejo Stephanie me encarar assustada. Saio da cabine arrependida - Stephanie, você tá bem? O que...

Antes que eu termine minha frase sinto minhas costas batendo contra a parede gelada do banheiro enquanto encaro as orbes nada amigáveis da menina à minha frente.

- Se você contar o que você viu aqui pra alguém, eu juro que faço da sua vida um inferno e dou um jeito de fazer você ser expulsa dessa escola. Você me entendeu merdinha? - Fico paralisada e sinto sua mão apertar mais meus ombros - RESPONDE! - Ela me chacoalha

- E-Eu entendi. - Respondo e ela me larga me dando uma última encarada antes de pegar a pomada em cima da pia e sair do banheiro.

Eu odeio amar você.Onde histórias criam vida. Descubra agora