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Eu respiro fundo e saio do banheiro procurando Alexia na mesa em que ela estava depois que saí. Olho em volta e não a acho, pego meu telefone e tento ligar pra ela mas a mesma recusa.

- Será que aconteceu alguma coisa?

Falo sozinha e suspiro, entro no WhatsApp e começo a mandar mensagem perguntando onde ela estava. Ultimamente, tenho pensado que talvez não fosse uma má ideia contar pra Lexi o que tenho sentido, ela não iria me julgar. Iria?
Bem, é claro que não. A Lexi é mente aberta. Eu vou contar pra ela, ou talvez não. Sei lá, depende se minha coragem durar. Ligo pra ela de novo enquanto espero na fila da cantina esperando pra comprar algum lanche. Dessa vez ela atende.

- Lexi cacete, você sumiu e nem sequer me mandou uma mensagem aonde ia-

- A Lexi tá meio ocupada agora, liga depois, certo? - Eu ouço a voz de Naithan, e logo depois a ligação se encerra.

Isso só pode ser dívida de jogo.

[...]

A Alexia sumiu o resto do dia. E não fiz questão alguma de ligar ou mandar uma outra mensagem, parece que ela não percebe que o Naithan nunca vai assumir ela, se humilhar desse jeito não é certo. Eu suspiro irritada e meu aperto na alça da mochila se torna mais forte.

Porra, eu tô uma pilha de nervos. Eu não tenho absolutamente ninguém pra conversar sobre toda essa confusão de sentimentos pela Stephanie e, sendo sincera comigo mesma uma vez na vida, se tô reclamando que o Naithan nunca vai assumir a Lexi imagina a Stephanie?! Ela nem sequer deve pensar em mim dessa maneira, ainda mais no desastre de hoje no banheiro. Eu realmente preciso pedir desculpas pra ela. Eu suspiro novamente e entro em casa, torcendo pra que minha mãe simplesmente me deixe chegar ao meu quarto a salvo.

- Cecília? Chegou?!

Mas é óbvio que isso não ia rolar.

- Sim, mãe. Cheguei. - Respiro fundo.

- Ótimo, bem na hora. - Ela aparece na porta da cozinha - Ajeita essa postura menina, anda toda desleixada. Desse jeito nenhum menino vai te querer. - Eu reviro os olhos de maneira discreta - Deixa a mochila aí no sofá e vem me ajudar aqui no jantar.

Ela volta pra cozinha e eu largo minha mochila no sofá bufando, entro na cozinha e ela aponta pra uma tábua com algumas cebolas em cima.

- Corta aí pra mim.

Inferno, odeio cortar cebola.

- O papai já chegou? - Observo a mulher que mexia uma panela no fogo, tinha um coque na cabeça enquanto vestia uma blusa vermelha de mangas longas e uma calça preta de moletom. Casual mas bonita como sempre, assim como eu queria ter nascido. Quem sabe assim a Stephanie talvez prestasse atenção em mim. Merda, esquece essa garota.

- Ainda não, como sempre atrasado pro jantar. - Ela suspira estressada, desligando o fogo e retirando a panela de cima do fogão - Impressionante como ele demora tanto, se a mecânica é basicamente aqui do lado.

Eu sinto uma pontada de desconfiança em sua voz.

- Mãe, o papai tá trabalhando. A senhora sabe que ele deixa tudo pra cima da hora, ele deve tá deixando pra consertar alguma peça só agora - Eu digo enquanto corto a cebola, me assustando assim que ouço logo um baque em cima da mesa de jantar.

Olho pra direção do barulho e vejo que era só a minha mãe colocando os pratos na mesa, ela me encara e eu posso sentir a minha espinha gelar.

- E por acaso, eu pedi alguma explicação sua? - Ela cruza os braços e encara as cebolas cortadas - Você cortou tudo errado, chega Cecília, vai pro seu quarto. Deixa que eu faço isso.

Eu largo a faca respirando fundo, fingindo que o pensamento de enfiar ela na minha garganta nunca passou pela minha cabeça. Entro no meu quarto indo direto pro banho, paro no meio do caminho vendo meu computador tocar com uma chamada do Skype, era Lexi me ligando. Eu suspiro pesado, e ando até o computador sentando na cadeira. Respiro fundo antes de aceitar a chamada.

- CECÍLIA, VOCÊ NÃO VAI ACREDITAR! - Ela começa enquanto ajeitava os óculos no rosto que estavam tortos, posso ver ela fechando a porta pela webcam e voltando pra cama enquanto suspirava. - Eu sai com o Naithan! - Ela dizia sorrindo, mas eu não sorri.

- Como assim, Alexia? - Eu pergunto querendo entender direito.

- Ó, presta atenção, naquela hora que você foi no banheiro eu fiquei sozinha lá na mesa, então fui mexer no celular. Só que nisso, o Naithan me mandou mensagem me pedindo pra ir até a quadra da escola. Então eu fui, óbvio. Quando cheguei lá, ele me pediu desculpas pela cena dele na aula quando insinuou que eu havia mentido sobre o Assédio, enfim, aí ele me levou pra fora da escola escondido e matamos todas as aulas juntinhos. Aí Cecília, ele me levou na sorveteria, depois pra praia e ficamos brincando de jogar água no outro. Foi tão, tão bom...inclusive, desculpa por ter te deixado sozinha, ele pegou o celular da minha mão quando eu fui te atender, é por isso que você tá com essa cara?

- Não, Lexi. Não é por isso que tô com essa cara. Nem tudo se resume a você, as pessoas também possuem outros problemas. Isso se chama vida, conhece?

Alexia fica em silêncio por alguns segundos, a ligação trava e ela ajeita os óculos novamente.

- Cecília, o que aconteceu? Por que você tá falando desse jeito?

- Esquece. Tô cansada. Amanhã a gente se fala.

- Tudo bem...bo-

Eu desligo a chamada e me levanto da cadeira, entrando no banheiro e trancando a porta. Me olho no espelho e isso é o suficiente pra eu começar a chorar. Eu não quero isso. Eu não quero gostar de uma garota. Eu quero poder ter alguém que meus pais vão aceitar. Vão se orgulhar. Ser alguém que meus pais possam olhar sem sentir qualquer tipo de nojo ou desgosto. Que eu possa me casar com todo o apoio. Que eu possa andar na praia e fazer até aquela estúpida brincadeira de jogar água um no outro, sem que os olhares tortos me cerquem.

É totalmente injusto que não possamos escolher quem amamos.

Eu me abaixo no chão e cubro meu rosto, deixando os soluços a tanto tempo presos em minha garganta saírem sem qualquer limitação.

Eu odeio amar você.Onde histórias criam vida. Descubra agora