Eu odeio amar você.

14

Não sei o que pensar de todo esse silêncio dentro de casa, nem mesmo meu pai veio falar comigo como eu esperava que ele fizesse. Bem, o que me resta é aguardar.
Faltei a escola hoje por conta do baile ser amanhã, ainda não compreendi o conceito de ter uma festa em uma quarta-feira mas talvez seja porque estamos na última semana de aulas e estamos sem matéria alguma. De qualquer forma, minha ansiedade agradece pelo baile estar tão perto. Tudo bem, o baile ser amanhã não é o único motivo da minha falta hoje, não queria ver a cara daquele trio hoje pra arruinar meu humor.

Lembrando de ontem, me arrependo um pouco por ter surtado daquele jeito e não sei mais se o único motivo de eu ir pra esse baile é pra conquistar a Stephanie, já que parece que não tenho nenhuma chance. Mas o que me deixa com uma pulga atrás da orelha, é o olhar dela. Eu juro que não sou louca, mas a forma como a Stephanie me olhou...tem alguma coisa aí. Ou eu só sou muito iludida mesmo.

- Trouxe minhas coisas! - Eu me assusto quando Alexia abre a porta com o que parece uma mala gigante nas mãos - Tô super ansiosa pra amanhã!

Ela se senta do meu lado e deixa a bolsa ao lado da cama.

- Também estou! - Eu sorrio e ela deita na cama suspirando, eu me deito ao seu lado e ficamos olhando para o teto - Como você entrou?

- Seu pai abriu a porta pra mim, ele parece meio inquieto. Aconteceu algo? - Ela me olha e eu fico quieta por alguns segundos.

- Briguei com a minha mãe. - Ela espera eu continuar - Foi uma briga bem feia e no calor do momento eu meio que...me assumi pra ela.

- VOCÊ O QUE? - Ela senta na cama me encarando surpresa - E como ela reagiu?! Você tá bem?! Por que essa briga de repente?!

Eu suspiro e eu sento também.

- Eu nunca te contei sobre essas coisas, mas a minha mãe o tempo todo faz questão de me deixar pra baixo me falando coisas péssimas...e ontem quando eu cheguei com esse cabelo em casa, bem, não foi diferente. Só que eu não consegui ficar quieta e acabei explodindo. - Eu olho pra ela - Eu nem tô preocupada com ela, estou preocupada com o silêncio do meu pai. Minha mãe deve ter contado pra ele, e se contou, por que ele não veio conversar comigo?

- Talvez ele esteja esperando uma boa hora, ou esteja processando tudo isso. - Ela coloca a mão no meu ombro - Não se preocupa com isso, Ce. Seu pai com certeza nunca deixaria sua sexualidade atrapalhar a relação tão boa de vocês.

- É, espero que sim... - Eu suspiro novamente e sorrio fraco - E você? Tudo bem? - Eu mudo de assunto.

Não quero pensar nisso agora, vou simplesmente esperar. Ficar criando esperança com a reação do meu pai, não vai me fazer bem algum senão só ansiedade, e eu me recuso ficar mal na véspera do baile depois de todo esse trabalho.

- Ah, estou bem. Meus problemas não chegam nem aos pés dos seus, então não tenho porque reclamar. - Ela ri fraco e retira a mão do meu ombro.

- Não acho certo você menosprezar seus problemas desse jeito, seja grande ou pequeno, ainda é um problema - Ela assente e pega o celular, mexe um pouco no mesmo e depois me entrega aberto na conversa com Naithan.

- Ele não responde nenhuma das minhas mensagens desde aquilo que rolou na sala... - Na conversa, as únicas mensagens que haviam eram as que Alexia havia enviado perguntando se ele estava bem e praticamente implorando pra ele responder. Juro, quanta humilhação por homem. Sim, eu sei que me humilho por mulher, mas por isso eu tenho lugar de fala.

- Alexia, não acho que deveria ser você perguntando se ele está bem e sim ao contrário. Não é ele que sofre bullying todos os dias na escola e foi humilhado ontem.

- Eu sei disso, Cecília. Mas tem algo mais acontecendo, eu sei que tem. Ele não tem mexido comigo esses dias na escola igual antes, nós temos conversado muito e eu juro que tem uma conexão incrível entre nós. Ele não me chamou pro baile porque ainda não teve chance, mas eu tenho certeza que amanhã ele vai me convidar pra dançar, ou pelo menos eu tinha. Acho que ele só tá confuso com os sentimentos. O que me preocupa, é tudo o que aconteceu ontem sabe? O jeito que ele me olhou quando eu fui falar com ele...não foi um olhar de desprezo ou nojo, foi algo muito mais complexo.

- Lexi, eu sei que o quê vocês estão vivendo é fofo, coisa de livro estilo a nerd e o popular mas eu preciso que você caia na real. - Eu deixo o celular na cama e seguro as mãos dela - Não tenha tanta expectativa em alguém que passou tanto tempo tirando uma com a sua cara.

Ela afasta as mãos das minhas e vira o rosto, sua expressão meio irritada.

- Você não entende o que eu estou querendo dizer.

Eu suspiro pesado. Esse era um daqueles momentos que decido deixar Lexi por conta própria, ela é o tipo de pessoa que só aprende quando "quebra a cara" e, não me entendam mal, eu não quero que o quê ela tem com o Naithan dê errado mas toda essa história não me cheira bem e eu não confio no Naithan. Não depois de tudo. O que é meio irônico, já que também tenho sentimentos por alguém que me fez mal, não diretamente já que a Stephanie nunca chegou a dirigir algum xingamento muito pesado como a Malu ou o Naithan, mas como eu disse antes, o fato dela não ter feito nada também a torna cúmplice de todo esse inferno que passamos.

- Tudo bem, eu não entendo. Só seja mais cautelosa, tá bom? Não sai entregando seu coração de uma vez. - Acho que talvez seja tarde pra dizer isso a ela.

Ela pega o celular dela e dá uma última olhada na conversa com Naithan, ela desliga o celular e a vejo deitar a cabeça no meu ombro.

- Eu quero tanto que isso dê certo, Ce. Eu gosto muito dele, muito mesmo. - Eu passo o braço por trás de seus ombros e pouso minha mão em sua cabeça fazendo um carinho.

- Eu também quero que dê. Acho que só teremos nossa resposta amanhã.

[...]

Acordo com Alexia me chacoalhando, eu me sento na cama tentando entender o porque dela estar gritando e pulando daquele jeito. Aí me lembro de que é hoje o dia que tanto esperávamos.

Eu levanto e começo a pular com ela.

- É HOJE PORRA! - Ela grita e me joga um travesseiro.

- CACETE! Nem acredito que finalmente chegou! - Eu sorrio alegre.

- Vamos vamos, temos muito a fazer. - Alexia começa a tirar o vestido da bolsa.

- Lexi, são 10 horas da manhã, a festa é às 7.

- Ah.