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- Vestido bonito filha, gostei. - Meu pai elogia enquanto segura o vestido na mão.

É engraçado ver meu pai elogiar minhas roupas já que ele só costuma usar macacões por conta do trabalho, a não ser nos domingos que ele usa samba canção e uma blusa qualquer.

- Fico feliz que você esteja se esforçando pra esse baile, tá querendo agradar algum garoto? - Meu pai pergunta com uma sobrancelha arqueada e um sorrisinho de lado.

- Bem...eu tô querendo agradar uma pessoa. - Eu sorrio, não digo a palavra garoto mas meu pai não parece perceber.

Ele deixa o cabide com o vestido em cima da cama e vem até mim bagunçando meu cabelo e depois me abraça. Eu retribuo o abraço e fecho os olhos aproveitando o seu carinho.

- Contanto que você encontre alguém que te faça bem, te dê carinho e te trate como a princesa que você é, eu fico feliz filha.

É nessas horas, que eu sinto vontade de contar absolutamente tudo pro meu pai, que eu sinto que temos uma conexão tão forte que nada no mundo poderia estragar.

- Rafael. - A voz da minha mãe faz a gente se separar, eu olho pra porta do meu quarto e a encontro apoiada na batente enquanto nos encara - Tem um cliente seu lá fora, quer falar com você.

- Poxa, sabem que eu não trabalho aos domingos, por que você não avisou pra ele querida? - Meu pai se afasta enquanto ajeita a blusa.

- Porque o trabalho é seu, Rafael.

Meu pai sai do meu quarto quieto, só ficando eu e minha mãe. Algo me diz que meu pai simplesmente tá empurrando essa situação toda com ela, acho que depois de tanto tempo no mesmo lugar as pessoas ficam acomodadas, com medo do quê pode acontecer se de repente toda essa zona conhecida se dissipar. É estranho o tanto de medo que os humanos sentem da mudança.

- Que vestido é esse? - Minha mãe entra no quarto indo em direção ao meu vestido na cama. Que cacete.

- Eu vou com ele pra aquele baile do colégio, sabe? - Ela pega o vestido nas mãos e o analisa procurando algo pra criticar, presumo eu.

- Ele tem uma fenda nas pernas, você viu isso? - Eu assinto - Você experimentou? - Eu assinto novamente - E com que dinheiro você comprou ele?

- O papai ficou tão feliz que eu tava querendo ir pra uma festa por livre e espontânea vontade que me deu o cartão dele. - Rio fraco e ela ri também colocando o vestido na cama.

Ela ter rido de algo que eu disse, me faz ficar aliviada. É possível que estejamos tendo um momento mãe e filha?

- Só não haja como uma puta desesperada nessa festa, Cecília. É o que os jovens da sua idade costumam fazer. - Seu riso continua e o meu se desmancha, acho que a resposta pra minha pergunta é não  - Mas se for pra fazer algum menino te notar, eu apoio. Pelo menos você para de passar tanto tempo com aquela sua amiga e vira uma mulher decente. Inclusive, a Alexia vai junto?

Tem momentos, que eu me imagino segurando o pescoço dela com as duas mãos e apertando, apertando tão forte que ela não consiga respirar, nem gritar. Apertando tanto que ela não consiga se debater e caia no chão, imóvel e sem a sua voz ecoando pelo meu quarto.

- Sim.

- Presumo que o vestido dela seja tão decotado quanto o seu, ela é outra que é obcecada por atenção e ama te arrastar pro fundo do poço. Só espero que você se livre dessa garota, logo.

E um desses momentos, é agora. Ela olha o meu quarto e depois para o olhar em mim e tudo aquilo que sempre imagino, minhas mãos em volta do seu pescoço, ela sem ar e caída, parecem se voltar contra mim. Como se ela estivesse fazendo isso comigo. Posso sentir minha garganta fechar, não consigo mais respirar enquanto ela estiver aqui.

Eu odeio amar você.Onde histórias criam vida. Descubra agora