01|Tem sorte que é bonito

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Se eu falasse agora com a Carolina de quatorze anos e dissesse que seis anos no futuro ela estaria no Catar, hospedada no mesmo hotel que a seleção brasileira e pronta para assistir a Copa do Mundo. Ela acharia que estou mentindo. Mas, cá estou eu. Em uma viagem para o outro lado do mundo com três amigos meus para assistir a Copa do Mundo.

— Cacete Carolina! Esse quarto vale mais que a nossa casa inteira! — exclama Isabela assim que abrimos a porta do quarto.

Realmente, é um quarto bem luxuoso. Mas não vale tanto quanto Isabela disse.

— Não exagera. Quer tirar um cochilo antes de conhecer o resto do hotel? — pergunto esperando uma resposta afirmativa dela que vem assim que termino a pergunta.

Apenas deixo minha mala de lado, tiro meu salto e me jogo na cama. Isa faz o mesmo. A viagem de São Paulo a Doha foi longa e cansativa. Meu corpo e mente pedem por um descanso.

Depois de algumas horas dormindo acordo sentindo fome. Depois de tomar um banho e trocar de roupa acordo Isabela para irmos jantar. Dormirmos mais do que pretendíamos. Então a tour pelo hotel fica para outro dia.

— Eu estou completamente apaixonada por esse lugar — Isa olha adimirada para as paredes do corredor do nosso quarto.

Não consigo evitar sorrir enquanto olho para ela. Entre Isabela, Elise e eu, Isa sempre foi a mais alegre e simpática. Pra ela não existe dia ruim. Ou dia que não possa melhorar com um bom filme e sorvete. Ela está sempre animando todos ao seu redor e iluminando onde ela passa. As vezes sinto vontade de ser mais como ela. Mas não consigo, sempre vou ser a garota que usa a grosseria para evitar demonstrar o que tá realmente sentindo e é considerada grossa, ignorante e mal-educada.

— Carolina olha pra lá — Isabela aponta de repente para um dos cantos do restaurante do hotel com um grupo de pessoas conversando.

Assim que olho para lá reconheçoas pessoas. A saudade toma conta do meu corpo e quando vejo já estou correndo até lá. Ou melhor, até ele.

— Gabriel! — grito pulando no colo do meu melhor amigo.

— Caca! Que saudade! — ele exclama rodando comigo em seu colo.

Fecho os olhos aproveitando o abraço dele. A última vez que nos vimos foi em junho, no batizado de Helena. Então a saudade está enorme.

— Por que não me contou que estava vindo pra cá? — pergunta me colocando no chão.

— Queria fazer uma surpresa. E a Helena como está? Tô morrendo de saudade dela, mas com as gravações de Uma Garota Comum e a lesão do Rapha ficou difícil ir pra Inglaterra.

— Então você faz algo além de gravar vídeos falando mal de jogadores? — ouço alguém falar em tom de deboche.

Me viro para ver o dono da voz e então percebo que Antony, Pedro, Lucas e Gabriel Martinelli estavam me olhando intrigados.

— Não falo mal de jogadores. Apenas não tenho medo de falar o que realmente acho. Já fui cancelada vezes o suficiente para parar de me importar — dou de ombros olhando para Martinelli.

— Sem intrigas, né Carolina? — Isabela me olha séria.

— Você que manda, chefia! — pisco para ela que revira os olhos.

Gabriel Martinelli e eu já discutimos várias vezes na internet desde a convocação dele para a Copa do Mundo.

— Belinha! Quanto tempo! — Gabriel sorri para ela que fica envergonhada — Vem cá me dá um abraço, ainda somos amigos!

Isa sorri levemente e abraça ele. Os dois terminaram em 2020. A relação deles acabou de desgastando com a distância. Os dois ainda são amigos. Raiane não apoia muito, mas Gabriel se recusa a afastar as pessoas que estão com ele desde quando ele era apenas um garoto jogando na base do Palmeiras.

— É um prazer finalmente te conhecer, Carolina! Não é todo dia que a gente conhece a garota capaz de deixar Gabriel Martinelli fora de órbita — Antony se esquiva de um soco de Martinelli.

— O prazer é meu!

Antony dos Santos, um dos jogadores mais atraentes da Seleção Brasileira. Zona proibida para mim. Ele e Isabela tem flertado a alguns meses. Desconfio até que já tenham ficado. Ela se recusa a confirmar isso por que diz que ele está longe de ser alguém que quer um relacionamento agora. Mas a forma que ele olha para ela diz o contrário.

— Lembro de você no último jogo contra o Palmeiras. Nunca achei que alguém fosse capaz de gritar tantos xingamentos por minuto — Pedro afirma rindo.

— Só diz isso porque não tava com ela no jogo que o Raphael se machucou — Isabela ri.

— Caramba! Agora eu lembrei quem é você! — Paquetá exclama como se tivesse feito a maior descoberta do mundo.

— Lucas tem memória de velho, nem dá bola — Antony ri.

— Eu sei que você é filha do Prass e faz os vídeos sobre futebol. Mas agora lembrei que já tinha te visto pessoalmente sem ser em jogos. Você é a suposta namorada do Píquerez — gesticula enquanto fala.

Arregalo os olhos olhando para Jesus. A expressão de poucos amigos em seu rosto já diz o que ele acha a respeito disso. Ninguém pode se aproximar de sua "irmã mais nova".

— Píquerez Carolina? É sério? — pergunta bravo.

— O quê? Ele é gato e engraçado! — me defendo.

— Se alguém é engraçado você ri! Não vai pra cama da pessoa! — cruza os braços me olhando sério.

Ouço Antony e Isabela rindo.

— Tarde demais pra isso — me viro para Paquetá — Ele não é meu namorado. Apenas saímos vez ou outra. Não consigo me imaginar tendo um relacionamento sério com jogadores. Sem ofensas, é claro.

Lucas da de ombros e concorda.

— Garota, seu pai é literalmente um jogador de futebol que está casado a mais de vinte anos. Qual o problema em um relacionamento sério com um jogador? — Martinelli me olha intrigado.

— Meu pai é excessão, não regra. Vamos analisar alguns jogadores da seleção e você já vai entender, coração!

Ele não consegue segurar um sorriso de canto com o apelido novo. Isabela sorri como se dissesse: " Eu sabia". Olho brava para ela.

— Eu acho que você é doida e não consegue ter relacionamentos sérios. Ou então ainda estaria com aquele Mc — da de ombros.

Como diabos ele sabe sobre eu e Pedro?

— Andou pesquisando sobre mim, Gabriel? — sorrio de canto para ele tentando esconder a surpresa.

— Gosto de conhecer as pessoas que andam falando sobre mim na internet. E você não para de citar meu nome, não é coração? — sorri de volta.

— Você tem sorte que é bonito! — afirmo e me viro puxando Isabela — Vamos comer!

Consequences - Gabriel Martinelli Onde histórias criam vida. Descubra agora