08|Ser humano extremamente amável

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— O quê aconteceu, cariño? Porque tá com essa carinha triste? — a voz preocupada de Píquerez faz eu me sentir culpada.

Eu sempre soube que em algum momento nosso lance iria acabar. Só nunca imaginei que seria eu quem terminaria ele. E mesmo que não fosse nada sério, Joaquín é alguém muito importante para mim. Tenho medo que isso faça com quem nós dois nos afastarmos.

— Estou bem. Mas a gente precisa muito conversar.

Vejo ele se sentar direito no que eu imagino ser sua cama. Ele está em Punta del Este na casa da família.

— Por que parece que você está se culpando por algo que provavelmente não é sua culpa? — pergunta intrigado.

— Porque percebi recentemente que tenho sido uma grande filha da puta com muita gente. Não quero fazer o mesmo com você.

— Isso ta relacionado com aquele jogador que você falou mal? Eu vi que vocês responderem twetts um do outro — me olha atento.

— Sim. Ta relacionado com ele.

— Vocês ficaram? Se for isso não tem problema. Você sabe que é livre pra ficar com quem quiser — sorri levemente.

— Não é só isso. Eu acho que pode ser que vire outra coisa — falo com dificuldade.

É a primeira vez que admito em voz alta que algum relacionamento meu pode se tornar algo realmente. Não fiz isso nem quando tava com Pedro. Inclusive a minha dificuldade em demonstrar sentimentos foi o que causou nosso término.

— Você gosta dele. Da pra ver no seu olho. Eu te conheço não é de hoje, cariño. Fico feliz por você. De verdade mesmo — consigo sentir sinceridade nas palavras dele.

— Obrigada por isso!

(...)

— Então você ficou super nervosa para no fim ser a conversa mais calma que você já teve na sua vida? — Isa me olha pelo reflexo do espelho enquanto arruma a gola de sua camiseta.

— As vezes eu esqueço que o Joaquín é o ser humano mais amável que eu já conheci.

— Não sei como você conseguiu não se apaixonar por ele — Afirma me fazendo desviar a atenção das tintas amarela e verde que eu estava usando para pintar meu rosto — Eu no seu lugar já estaria pensando em casar com ele.

— Seria loucura de mais. Joaquín é o cara perfeito. Mas não para mim — falo terminando de ajeitar a listra amarela do lado direito do meu rosto — Vai querer desenhar o número dezenove na sua testa?

— Tá chapando garota? — pergunta indignada.

— Eu posso não estar focada em reparar em cada detalhe do que você faz aqui no Catar. Mas você e Antony são péssimos em disfarçar. E digamos que seja difícil esconder marcas de sexo da pessoa com quem você divide quarto, né Isabela?!

— Faço o dezenove se você fizer o vinte e seis — ri debochada.

— Não preciso fazer o vinte e seis no rosto — debocho virando de costas para ela mostrando o número da camisa que estou usando.

— Como você conseguiu essa camisa? Não é como se vendessem aqui.

— Presente do meu pai — ela em olha confusa — Ele me deu quando descobriu que o Gabriel ia usar esse número.

Consequences - Gabriel Martinelli Onde histórias criam vida. Descubra agora