casos de família

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Conteúdo sensível.

(Esta parte é muito importante para o desfecho da história. Portanto, se decidir não ler por se tratar de um flashback, não tem problema, mas irá gerar confusão.)

RIKE ACKERMAN, 11 ANOS.

Eu estava deitado de bruços no chão, com o lápis deslizando cuidadosamente pelo papel. Um espelho à minha frente refletia minha imagem, e meus olhos se moviam entre o meu reflexo e o papel. Era essencial aprender a me desenhar, pois eu era tão bonito que não podia desperdiçar a oportunidade. Quando terminei, afastei o papel para uma análise mais crítica, comparando o desenho ao meu rosto real. Não havia semelhança alguma.

— Nossa... é difícil desenhar alguém tão perfeito quanto eu em um papel... Se eu fosse um pouco menos bonito, talvez tivesse sucesso — murmurei para mim mesmo, sorrindo para o espelho. Eu sofro muito por isso.

Meu olhos instintivamente foram para a janela. Através do vidro, vi crianças brincando lá fora. Não entendi o porquê, mas me senti... não sei um aperto no coração. Não tinha ninguém da minha idade nessa casa. M-mas, eu não me importava, eu não precisava de ninguém quando eu tinha EU MESMO. Minha própria companhia era melhor que qualquer outra pessoa. Eu era o mais bonito e legal, e eles eram pobres... muito felizes... Por que eu seria amigo deles?

Foi nesse momento que minha mãe me chamou. A casa era tão grande que era precisei descer uma escadaria grandona para chegar à cozinha, que estava a uma considerável distância do meu quarto. Eu não conseguia expressar o quanto detestava as refeições em família. Todas as vezes que nos sentávamos à mesa, éramos quatro pessoas em completo silêncio. Era constrangedor! Eu gostaria tanto de conversar, mas nunca tínhamos nada pra falar. Eles eram sempre tão formais que mal valia a pena tentar. Meu pai ocupava sempre a ponta esquerda da enorme mesa de jantar, enquanto minha mãe ficava na outra. Minha irmã sentava-se em frente a mim, todo o santo dia com o cotovelo na mesa e brincando com a comida no garfo.

Porém, naquele dia em específico estava um silêncio ainda maior que habitual. Meus pais sequer tocaram no café da manhã e a cadeira à minha frente estava vazia. Minha irmã não estava presente. Onde estava a Hara?!! Ontem ela estava com enjoo, porque ela saiu hoje? O que será essa doença...? Eu nunca vi ela doente.

— Como vão as coisas na empresa, amor? — perguntou minha mãe da extremidade da mesa. Provavelmente tentando quebrar o gelo.

— Não é da sua conta — respondeu ele, ríspido. Minha mãe baixou a cabeça.

"Ele estava de mau humor", pensei. "Toda a vez que ele tratava a minha mãe, é por causa que tem alguma coisa se errado".

Eu tinha um segredo sujo da minha irmã... descobri que ela saía escondido todas as madrugadas, e eu sempre ajudava ela a escapar. Era divertido! Pois ela sempre me dizia que era uma missão para mim, e eu me sentia como um superespião de um livro de aventura. Era a única hora do meu dia que eu sentia adrenalina!

De repente, ouvi minha irmã aparecer na sala de jantar. Seu cabelo curto e escuro estava todo desgrenhado, e as olheiras profundas sob seus olhos revelavam o cansaço de uma noite mal dormida. Meu pai manteve os olhos fixos nela enquanto ela se aproximava da mesa, uma veia pulsava visivelmente em sua têmpora.

Minha irmã se sentou, e meu pai continuou encarando. Minha mãe, revirou os olhos cor de âmbar ao vê-la.

Não é que a minha não gostasse da Hara, afinal, é impossível uma mãe não amar o filho, mas... meio que ela não gosta muito da presença da minha irmã. Nunca entendi o porquê, ela não era uma pessoa ruim... nem boa, mas não era tão ruim.

— Como foi sua noite, Hara? — meu pai perguntou à minha irmã, quebrando o silêncio. Era notável a dificuldade que ele tinha para parecer o mais calmo possível. De repente, meu coração começou a bater mais forte, um pressentimento ruim.

BE MINE | Levi Ackerman X OcOnde histórias criam vida. Descubra agora